Segundo estatísticas, o número de servidores na administração pública cresceu mais de 20% entre 2001 e 2011 Foto: ITAR-TASS
O Instituto de Sociologia da Academia de Ciências da Rússia apresentou relatório segundo o qual a classe média da Rússia é composta por 42% de sua população.
Mas o tipo de classe média descrito pelos sociólogos muito se diferencia dos modelos estrangeiros: a base da classe média russa é formada por servidores públicos; no núcleo desta camada, sua quantidade se aproxima dos 70%. Na periferia encontram-se empresários, trabalhadores do setor de serviços e profissionais altamente qualificados de diferentes setores da economia.
Segundo estatísticas, o número de servidores na administração pública cresceu mais de 20% entre 2001 e 2011, enquanto a quantidade de empresários individuais diminuiu 13% só em 2013 e agora não passa de 3,5 milhões de pessoas. Em atividades empresariais estão envolvidos não mais que 7% dos russos.
“Nossa classe média, em certo sentido, é o espelho de toda sociedade russa”, disse Vladimir Petukhov, chefe do Centro de Investigações Sociais Complexas do Instituto de Sociologia do Academia de Ciências da Rússia. “Nos anos 90, o grupo de pessoas com receita média era pequeno e considerava-se a melhor camada. A maioria dos representantes da classe média são leais e muito simpatizantes da ordem e da estabilidade, enquanto que o avanço social, de longe, não é sua prioridade. Por isso, a classe média, formada de servidores públicos e outros relacionados a eles, pode não garantir o crescimento do PIB, mas garante a constância das eleições.”
As variações do médio
“Aqui ocorre um malabarismo de noções”, considera Evgueni Gontmakher, membro do Instituto de Desenvolvimento Contemporâneo. “Classe média não é um fenômeno tão material quanto é sociocultural. Nós queremos muito tê-la e chamamos de classe média aquilo que obtemos através de certa análise intricada. Há alguns anos atrás, calculamos que cerca de 20% de russos correspondiam à noção geral de classe média. Colocamos filtros simples: pessoas de ‘classe média’ não somente devem ter renda de não menos que US$ 1.000 por pessoa, mas também apartamento, carro e datcha [casa de campo]. Devem ter mobilidade, planejar sua vida independentemente e não viver em dependência, inclusive do governo.”
O Instituto Independente de Política Social, no fim do ano passado, teve abordagem ainda mais rigorosa para detecção da classe média: buscavam pessoas que, durante os 20 anos da Rússia livre, conseguiram novos meios (em comparação com o período soviético) de complementar o orçamento familiar. Esclareceu-se que somente 2% das famílias russas têm renda significativa advinda de propriedade e ativos financeiros, 5% vivem bem por serem empresários e, no todo, não mais que 8% das famílias russas se adaptaram a viver na Rússia não soviética. Estes são particularmente a classe média.
As outras são classe média por: renda, educação, trabalho não físico e identificação própria, que são exatamente os filtros propostos pelo Instituto de Sociologia.
“Revolta das massas”
“Estamos lidando com a revolta das massas soviéticas. Quando a noção de ‘classe média’ surgiu, chamavam assim aqueles que, por trabalho próprio, ganhavam o suficiente para ter uma vida digna, pagar impostos corretamente e que eram capazes de fazer escolhas próprias”, conta Iuli Nisnevitch, professor da cátedra de comportamento político da Escola Superior de Economia. “Esse grupo sustentou até 70% do PIB de países desenvolvidos e, por isso, influenciava na política. Na URSS, ele não existia por definição, mas nos anos 90, muitos achavam que poderiam integrá-lo. A massa soviética queria se tornar classe média. Nós conseguimos uma ‘classe média’ que considera o Estado como meio principal de prosperidade.”
A semelhança da sociedade descrita pelo Instituto de Sociologia com a estrutura social soviética é, no todo, bem evidente. Se somarmos todos os funcionários de empresas públicas aos servidores, a quantidade de pessoas que formam a classe média privada diminui.
O paradoxo é que segundo todas estatísticas, ser servidor público no nosso país não é vantajoso. De acordo com cálculos do Centro de Pesquisas Laborais da Escola Superior de Economia, um especialista que prefere o setor estatal ao privado perde cerca de 20% dos seus ganhos. Entretanto, há preferências implícitas: benefícios, jornada de trabalho curta, privilégios oficiais, estabilidade e assim por diante — tudo isso garante que o servidor público não viva pior do que os funcionários de empresas privadas.
Publicado originalmente pela Ogoniok
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