“Com saco na cabeça, mal respirávamos”, conta cinegrafista detido na Ucrânia

Nos dois primeiros dias, os jornalistas foram mantidos em um poço de barro Foto: Vladímir Astapkovitch/RIA Nóvosti

Nos dois primeiros dias, os jornalistas foram mantidos em um poço de barro Foto: Vladímir Astapkovitch/RIA Nóvosti

De volta à Rússia, equipe do LifeNews relembra os momentos de tensão no cativeiro.

No último dia 18, o presidente da Tchetchênia, Ramzam Kadirov, anunciou em seu perfil do Instagram a libertação de dois jornalistas russos do canal LifeNews, Oleg Sidiakina e Marat Saichenko, presos em cativeiro pelas tropas da Guarda Nacional da Ucrânia. Depois de um breve descanso na capital Grózni, os jornalistas voltaram para Moscou em um voo privado.

Os representantes de Kadirov estiveram envolvidos por vários dias em tensas negociações com os funcionários do governo e autoridades do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), que mantinham em segredo a localização dos jornalistas e admitiram ter cortado a comunicação com advogados e membros das famílias.

 “Fomos para o aeroporto de Kramatorsk para verificar a informação sobre a saída do Exército ucraniano. Mas logo que chegamos lá fomos abordados por um grupo de militares ucranianos”, contou o operador de câmera Marat Saichenko, após a libertação. Ele e o correspondente Oleg Sidiakina foram então amarrados e enviados de helicóptero para um alojamento do exército.

Enquanto esperavam pelo helicóptero, os militares ucranianos mostraram um conjunto de mísseis antiaéreos russos Igla. “Quando entramos no helicóptero, as armas foram enroladas em um cobertor e carregadas conosco. Os militares estavam convencidos de que éramos separatistas e de que os mísseis estavam conosco”, disse Saichenko.

Nos dois primeiros dias, os jornalistas foram mantidos em um poço de barro. Depois foram levados em um furgão de metal para Kiev, embora só tenham descoberto o destino algum tempo depois. Os jornalistas ficaram presos durante os últimos cinco dias em uma casa guardada por dois soldados das Forças Especiais “Alfa”.

Nesse meio tempo, foram intimidados por acusações de tráfico de armas e terrorismo, mas nenhuma acusação oficial por parte do Serviço de Segurança da Ucrânia foi apresentada.

“Amarraram nossas mãos para trás juntamente com nossos tornozelos com fitas e colocaram um saco em nossas cabeças, apertando nossos pescoços com cordas. Mal podíamos respirar”, descreveu Saichenko. “Só conseguimos relaxar quando fomos colocados em um carro e ouvimos o dialeto tchetcheno. Sabíamos que alguém tinha intervindo.”

Semana em cativeiro

Os jornalistas da LifeNews foram capturados no dia 18 de maio pelos soldados da Guarda Nacional ucraniana na cidade de Kramatorsk, na região leste da Ucrânia. Mais tarde, o Ministério da Defesa ucraniano confirmou a detenção dos jornalistas russos. Nas redes sociais foi compartilhada a foto com os profissionais de mãos amarradas e os soldados ao fundo.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia declarou a “ilegalidade” e o “tratamento desumano” da detenção dos jornalistas, criticando a falta de liberdade de expressão na Ucrânia.

Os Estados Unidos questionaram inicialmente a veracidade das informações, mas, em seguida, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Jennifer Psak, pediu ao governo ucraniano para “investigar os incidentes e liberar as pessoas, se forem jornalistas legítimos e não estiverem envolvidos em atividades ilegais”. Os representantes da ONG de direitos humanos Human Rights Watch também se manifestaram em defesa dos detidos.

O canal LifeNews, onde os jornalistas trabalham, organizou uma campanha maciça nas redes sociais contra a detenção. A hashtag #SaveOurGuys foi replicada por diversas personalidades russas e estrangeiras.

 

Com materiais da agência Interfax e dos veículos Lifenews.ru e Lenta.ru


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