Os russos da nova geração, que se lembram vagamente dos anos 90, já são suficientemente crescidos e começam a buscar emprego e abrir seus próprios negócios Foto: Getty Images / Fotobank
Muita gente considera que a cultura corporativa na Rússia é pouco desenvolvida ou nem mesmo existe, mas ela está presente no país, mesmo que de modo um tanto “sui generis”, diferente do modelo seguido pelas empresas ocidentais. A Gazeta Russa analisou os dados das maiores empresas russas de recursos humanos e conversou com funcionários de várias corporações para descobrir as particularidades da cultura corporativa do país.
Corporativismo czarista e soviético
É equivocado pensar que a cultura corporativa surgiu na Rússia somente após o desmembramento da União Soviética, há pouco mais de 20 anos. Na época czarista, ela já estava presente em várias instituições públicas e foi muito bem descrita por Dostoiévski e Tchekhov em suas obras. A Rússia soviética gerou a cultura corporativa das repartições e organizações do Partido Comunista.
No período das reformas econômicas, germinou no país um estilo corporativo baseado nas noções do “vale tudo”, mas desde o início do terceiro milênio, a nova Rússia se empenha em adotar um estilo ocidental de gestão corporativa. Todas essas metamorfoses deixaram marcas na cultura atual, transformando-a num aglomerado de elementos contraditórios e aparentemente incompatíveis.
As empresas estrangeiras que chegam ao mercado russo se surpreendem com a dificuldade de incutir em seus funcionários o amor pela empresa, pela marca e por sua ideologia. A história privou o povo russo da crença em qualquer ideal. Deus e o czar caíram perante o ataque da revolução proletária e do ateísmo. A imagem de Stálin foi desacreditada no 20° Congresso do Partido Comunista. A Perestróika e os ideais liberais levaram o país ao colapso, à pobreza galopante e ao aumento da criminalidade na década de 1990. Para quê, então, crer em algo que amanhã será inaceitável?
De acordo com pesquisas de opinião, menos de 15% dos russos dão atenção à política da empresa e apenas 6% são guiados por considerações ideológicas ao escolher onde trabalhar. O mais importante é ser bem pago, mas melhor ainda se for possível trabalhar com um amigo de infância ou um antigo colega da escola. O que acontece é que ao longo dos anos os russos foram ensinados a não confiar em nada além das pessoas. O comprometimento com ideais é fraco, mas as relações humanas permanecem importantes.
Na Rússia, quando as pessoas saem de uma empresa ou são transferidas para outro departamento, levam outras pessoas consigo. Elas também procuram emprego já pensando em acomodar parentes, amigos e antigos colegas.
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“Os ‘clãs’ existem até mesmo nas grandes companhias russas e não são obrigatoriamente formados por amigos ou parentes. Eles podem ser de pessoas de uma mesma universidade, cidade ou antigo local de trabalho. Cercando-me do meu meio, eu sinto confiança, segurança e poder. Eu conheço os pontos fracos e fortes dessas pessoas, que não estão escritos nos currículos”, opina o diretor de uma grande agência de notícias. Como disse o advogado do oligarca Boris Berezovsky em um tribunal de Londres: “Os negócios na Rússia são construídos na base da confiança”.
Os russos da nova geração, que se lembram vagamente dos anos 90, já são suficientemente crescidos e começam a buscar emprego e abrir seus próprios negócios. Eles compram produtos de acordo com a marca, acreditam que podem mudar o mundo, criam suas próprias ideias, e lançam startups com planos globais. Mas eles ainda estão apenas no início da vida profissional, formando uma cultura que ainda não se tornou popular no país. Talvez no futuro essa geração consiga acreditar em novos ideais.
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