Apesar da estrutura moderna, principal diferencial de Sôtchi-2014 está na mudança de atitude dos trabalhadores envolvidos no evento Foto: flickr
Desde a época dos preparativos do evento, havia a promessa de que os visitantes de Sôtchi se deparariam com uma nova Rússia – e, apesar da enxurrada de críticas pelo Twitter após a abertura, a promessa foi, em grande parte, cumprida.
É fácil, contudo, assumir certo cinismo em relação a essa questão. Com o crescimento exponencial do orçamento para o desenvolvimento da estrutura olímpica e a falha durante a cerimônia de abertura, não faltaram motivos óbvios para os críticos de plantão mundo afora.
Mas a principal diferença, pelo menos para aqueles que passaram algum tempo na Rússia em anos anteriores, se refere à mudança de atitude dos trabalhadores envolvidos nas Olímpiadas.
Basta começar pelo aeroporto. Normalmente, a chegada a qualquer cidade provincial russa é uma cena cinza e intimidante. No entanto, todo o processo em Sôtchi, do pouso até sentar no ônibus que me levaria ao centro, levou apenas 45 minutos. A passagem pela imigração foi realizada de forma eficiente, e a esteira de bagagens já estava circulando antes mesmo de eu chegar.
Em vez da usual cara feia dos funcionários uniformizados, voluntários vestidos com roupas coloridas corriam ao redor das pessoas à procura de quem alguém que necessitasse de ajuda – e quando tinham a oportunidade de ajudar em um idioma que não fosse o russo, a cara de gratificação era ainda mais expressiva.
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A história se repete nos hotéis. Não porque estão totalmente concluídos e funcionam mais ou menos como o esperado, mas porque, mesmo quando algo dá errado, os funcionários estão prontos para entrar em ação com um sorriso e resolver o problema. Fomos informados, por exemplo, de que não havia vinho no jantar, mas uma breve conversa e um sorriso ajudaram a “encontrar” algumas garrafas de vinho branco da região, servido com chave de ouro pelo gerente de plantão.
Um problema ainda maior – a falha no Wi-Fi, enquanto várias pessoas estavam tentando subir reportagens sobre a cerimônia de abertura – foi perfeitamente resolvido por uma recepcionista que conectou os hóspedes à rede pela internet do seu próprio iPhone.
São esses pequenos detalhes que evidenciam a determinação de tantas pessoas em Sôtchi para tornar os Jogos um sucesso. Ninguém quer que os visitantes saiam da cidade com uma má impressão – seja de Sôtchi ou da Rússia –, e eles estão fazendo um esforço notável para manter os clientes felizes durante os inevitáveis problemas operacionais.
Claro que nem tudo é perfeito. Minha experiência no hotel não contradiz as histórias de outros veículos sobre o número excessivo de cães vira-latas, quartos não existentes, água não potável e lençóis manchados. Pode não ser coincidência o fato de estarmos em um hotel para as delegações das federações esportivas, em vez de um local padrão para imprensa. Mas os maiores problemas não estão realmente afetando os convidados estrangeiros.
Como de costume, são os voluntários – a mesma multidão alegre que nos ajuda a fazer o nosso trabalho – que está ouvindo a avalanche de críticas. Após a cerimônia de abertura, em meio a cenas que se assemelhavam mais ao último helicóptero de Saigon do que ônibus de imprensa, partimos a bordo de um transporte destinado aos voluntários.
Enquanto ainda observávamos dois ônibus superlotados, Sasha, um voluntário de Moscou, disse em tom de brincadeira: “Essa cerimônia é para Pútin – essa é a verdadeira Rússia”, referindo-se ao excesso de trabalho dos colegas que, mesmo sem remuneração e empilhados como gado, são indispensáveis para o bom funcionamento do evento.
Andy Potts é jornalista esportivo e colaborador da Gazeta Russa que está participando dos Jogos de Sôtchi como membro da Federação Internacional de Hóquei no Gelo.
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