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Kalashnikov morreu aos 94 anos em dezembro do ano passado Foto: Reuters
No documento de duas páginas recebido pelo líderreligioso em abril do ano passado, Kalashnikov debate sua responsabilidade pela morte indireta das milhares de vítimas da metralhadora que criou. "Estou sentindo uma dor espiritual insuportável", escreveu, "se a minha metralhadora tirou as vidas de muitas pessoas, então eu, Mikhail Kalashnikov, seguidor docristianismo ortodoxo, deveria carregar toda a culpa?".
Kalashnikov é um dos muitos engenheiros e cientistasque, ao chegar ao final da vida, sentiram um enorme remorso por teremdesenvolvido os seus projetos. O criador da bomba atômica, Robert Oppenheimer,ficou impressionado pela força destruidora da sua arma após os bombardeios dascidades japonesas de Hiroshima e Nagasaqui. Sentindo-se culpado, passou a lutar contra sua atualização e uso.
Ele também se refere à AK-47 como uma "arma maravilhosa" e chama os Estados Unidos de "amigo". "Acompanhávamos a tecnologiada época e até tivemos uma vantagem diante do nosso adversário principal, osEstados Unidos, em algumas áreas, embora considerássemos os cidadãos do país osnossos amigos, mesmo eles servindo a uma causa oposta à nossa", diz a cartaassinada pelo próprio engenheiro.
O porta-voz do patriarca Kirill, Aleksandr Volkov, confirmouo recebimento da carta pelo líder religioso e, inclusive, enviou uma resposta aKalashnikov. "O patriarca agradeceu a atenção do famoso engenheiro e respondeuque o considera um exemplo de patriota e de cidadão com atitude correta emrelação ao próprio país", disse Volkov ao jornal "Izvéstia".
A Igreja não condenou o trabalho de Kalashnikov uma vez que a arma foi desenvolvida com o objetivo de proteger a pátria. "Ele não poderiaimaginar que ela seria usada pelos terroristas da Arábia Saudita", justifica.
Ainda segundo a carta do engenheiro, a Igreja Ortodoxa russa possui um papel importante no desenvolvimento da sociedade moderna, pois"traz ao mundo os valores divinos do bem e da misericórdia". "A sabedoria e a opinião objetiva do senhor são a única esperança de esclarecer as minhas dúvidas.As pessoas precisam de um apoio espiritual", escreveu.
A aproximação com a Igreja Ortodoxa era um fatorrelativamente em sua vida, contudo. A filha de Kalashnikov, Elena, conta que,por ter sido ateu durante muitos anos, ele tinha dificuldade de abraçar ocristianismo ortodoxo por completo. "Temos de levar em conta o modelo decriação da sua geração. O meu pai nunca demonstrou os seus verdadeirossentimentos", diz.
Publicado originalmente pelo Izvéstia
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