Maior clube gay da Rússia vira alvo de constantes ataques

Do ponto de vista jurídico, o clube gay se encontra em situação complicada Foto: clube "Estação Central"

Do ponto de vista jurídico, o clube gay se encontra em situação complicada Foto: clube "Estação Central"

Gerentes da maior casa noturna gay da Rússia denunciam desmandos dos proprietários do edifício e recorrem a Pútin para solucionar a questão. Apesar do componente LGBT, jurista acredita que métodos não convencionais para resolver desavenças nada têm a ver com o público do estabelecimento.

Os frequentadores do maior clube gay de Moscou e da Rússia, “Estação Central”, enfrentam todos os fins de semana o risco de ataque e agressão. Durante os últimos oito meses, foram oito atentados com gás no local. Recentemente, três homens armados bateram às portas do clube e, após terem a entrada negada pelos seguranças, deixaram várias marcas de bala na porta.

Na fachada do prédio onde fica o “Estação”, situado a uns cem metros da avenida que serve de concentração habitual da oposição russa, há um letreiro gigante: “Entrada para o clube gay”. Além disso, alto-falantes e música alta fazem parte da “antipublicidade” feita pelos proprietários do edifício, que, segundo os gerentes do “Estação Central”, são os mesmos por trás da maior parte dos ataques à casa noturna.

“Seria possível avaliar a situação como uma disputa trivial entre o dono do edifício e o arrendatário se os nossos adversários não usassem métodos extremistas virados precisamente contra os homossexuais, contra os nossos visitantes”, frisa Andrêi Lichínski, diretor-geral da empresa Spectrum, responsável pela gerência da casa noturna.

“Os ataques acontecem nas horas de maior concentração de clientes. No último, quando dissiparam o gás, 500 pessoas estavam no clube. Alguns foram depois socorridos e levados para o hospital. Como é possível cometer um atentado contra a integridade física?”, continua Lichínski.

Volta aos anos 90

Por causa das desavenças com os proprietários do edifício, a casa noturna já ficou sem eletricidade nem água, e os gerentes foram obrigados a tratar do assunto por conta própria.

“No último dia 14, alguns operários subiram ao sótão para desmontar o telhado. Tentamos parar os trabalhos, mas a discussão se transformou em tiroteio”, conta o diretor da Spectrum. Na ocasião, 40 pessoas foram detidas pelos policiais.

Após a ocorrência, Lichínski escreveu uma carta aberta ao presidente Vladímir Pútin, descrevendo a situação e pedindo a proteção das autoridades. “Tendo em conta as declarações públicas relacionadas com os direitos dos cidadãos de orientação sexual não tradicional na Rússia, pedimos que o Ministério dos Assuntos Internos, o Serviço Federal de Segurança e a Procuradoria-Geral tomem as providências necessárias para desmascarar os culpados e garantir segurança dos nossos visitantes”, escreveu.

“É um regresso para a década de 90, a de bandoleiros, em que as discórdias se resolviam não em tribunais, mas com uma arma na mão”, acrescentou Lichinski, em alusão à época em que as empresas na Rússia passavam de um proprietário a outro por meio de intrigas, ameaças, violência, extorsão e até assassinatos.

Lei para quem?

Do ponto de vista jurídico, o clube gay se encontra em situação complicada. Os administradores da casa noturna assinaram um contrato de aluguel de cinco anos e meio, que vai até 2017, com o proprietário do edifício, a tipografia Transpetchat, gerida na época pela agência estatal Rosimúchestvo.

Mais tarde, a tipografia foi comprada por uma empresa estrangeira, que está sob controle de outra entidade russa. “Os novos locadores exigiram que todos os inquilinos abandonassem o edifício. A casa noturna se recusou, recorreu ao tribunal e ganhou o processo”, diz Lichínski.

Os juristas do país lamentam que qualquer empresário na Rússia ainda possa ter problemas com os chamados “raiders” – termo inglês que ganhou destaque em meio às invasões dos anos 1990.

“O mais provável é que esses raiders sejam suscitados pelo conflito de interesses entre os donos e os arrendatários, não sendo motivado pela posição negativa quanto às atividades do clube”, sugere Nikita Aiguistov, jurista da AForex.

Segundo o especialista, as medidas prejudiciais usadas com frequência incluem o desligamento de eletricidade e aquecimento e transformação de áreas adjacentes em lixeiras que bloqueiam o acesso ao edifício arrendado. “O contrato de aluguel não protege 100 % de arbitrariedade. A lei está de lado dos inquilinos, mas, na prática, muitas vezes eles ficam simplesmente de mãos atadas”, afirma Aiguistov.

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies