"Igreja nunca influenciou nas decisões do governo, inclusive no que diz respeito à política internacional" Foto: Serguêi Smirnov
Após 70 anos de repressões, a Igreja Ortodoxa Russa conseguiu reconquistar seus lugar na vida de cidadãos da Rússia moderna. “O renascimento da religião no país está acontecendo com uma velocidade inédita na história do cristianismo. Ao longo de apenas 25 anos, 25 mil templos foram construídos e/ou reformados. Isso equivale a quase três igrejas por dia”, diz o metropolita Hilarion.
Além da expansão dos ideais ortodoxos, os padres estão inclusive interagindo e colaborando com os dirigentes do país. “Estabelecer e manter uma boa relação com o governo é algo natural para uma igreja multinacional como a nossa”, diz o metropolita. A religião ortodoxa reúne os representantes de 15 países e possui paróquias em inúmeros lugares do mundo. “Em todos eles, os nossos representantes estabelecem uma parceria com as suas autoridades”, acrescenta.
As agendas de todas as visitas internacionais do patriarca incluem uma reunião com o chefe de Estado local com o objetivo de fechar um acordo de parceria baseado em dois princípios: a não intervenção da Igreja e do governo nos seus respectivos assuntos internos, e a colaboração de ambas as partes nas áreas do seu interesse mútuo.
No entanto, segundo o metropolita, a Igreja não assume participação direta nos assuntos políticos do Estado. “Ela não forma partidos políticos e não apoia um para prejudicar o outro. Além disso, a igreja não expressa a sua preferência por nenhum vertente ou regime político”, afirma. “Nossa instituição reserva o direito de avaliar as declarações e medidas tomadas por líderes políticos do ponto de vista moral e espiritual por meio de notas oficiais.”
Fé na política
A população tende confiar na posição da igreja, ode que anteriormente ajudou muitos seus representantes a ganharem as eleições populares e conquistarem cadeiras no Parlamento. Porém, hoje em dia, os membros ortodoxos não podem mais participar da vida política do seu país.
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Padre lutador de vale-tudo é atração de igrejaa 300 km de Moscou“O Santo Sínodo [autoridade suprema da Igreja] tomou a decisão de não se envolver nesses assuntos, mas, recentemente, introduziu uma exceção, permitindo a participação de seus representantes nas eleições após a obtenção de uma bênção dos líderes da igreja”, conta o metropolita Hilarion.
Essa alteração visa oferecer aos representantes ortodoxos as mesmas oportunidades dos líderes de comunidades de outras religiões que não são proibidos de participar das eleições. “Portanto, caso um padre destas comunidades apresente a sua candidatura para uma vaga em algum órgão do poder, a Igreja Ortodoxa poderá autorizar um dos seus representantes a fazer o mesmo”, explica.
Parceria Igreja-Estado
Atualmente, a Igreja Ortodoxa Russa mantém uma ampla parceria com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país. “Para ser mais específico, criamos uma força-tarefa que se reúne duas vezes ao ano. Mas, além disso, mantemos os contatos quase diários com o ministério em questão para discutir vários assuntos importantes”, diz o representante ortodoxo.
Mesmo assim, o metropolita garante que a Igreja nunca influenciou nas decisões do governo, inclusive no que diz respeito à política internacional. “Temos a nossa própria agenda e interesses, e às vezes coincide com a posição dos chefes de Estado”, argumenta, citando como exemplo o conflito na Síria.
O líder ortodoxo também afirmou que não considera a introdução das matérias religiosas, tais como os Princípios das Religiões Mundiais e a Ética Secular, uma intervenção da igreja nos assuntos do estado.
Publicado originalmente pelo Kommersant
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