Um dos motivos para as tensões é, porém, a entrada ilegal de mão de obra barata estrangeira Foto: Photoshot/VostockPhoto
No dia 13 de outubro, canais de TV russos transmitiram imagens de milhares de pessoas ocupando o bairro residencial de Biriulevo, no sul de Moscou, enquanto destruíam um hipermercado local e invadiam um sacolão. Os manifestantes viraram carros estacionados e cercaram vendas supostamente pertencentes a imigrantes.
A multidão enfurecida era, em sua maioria, composta por jovens nacionalistas de toda a capital.
Eles chegaram ao local para apoiar os 40 moradores de Biriulevo que haviam se reunido do lado de fora da delegacia local no início do dia exigindo que a polícia encontrasse o assassino de Ígor Scherbakov, um russo étnico de 25 anos que foi esfaqueado na noite de 10 de outubro.
O rosto do assassino de Scherbakov foi registrado pelas câmeras de vigilância e, a partir dessas imagens, passou-se a crer que fosse um nativo do Cáucaso.
Cerca de 400 pessoas foram detidas após o tumulto. Dois dias depois, as demandas dos manifestantes foram finalmente atendidas. A investigação do assassinato de Scherbakov avançou e o suspeito foi localizado. O armazém foi fechado por violação das normas de saneamento.
Xenofobia em ascensão
O aumento da xenofobia na Rússia se tornou visível na segunda metade dos anos 1990. “Após o início das reformas econômicas e a frustração causada pelo desmantelamento do sistema social da União Soviética, as pessoas começaram a se autoafirmar projetando seus complexos pessoais e antipatias sobre os estrangeiros. O processo se agravou durante a década de 2000, quando o governo definiu um plano para reviver as tradições nacionais e o conservadorismo”, explica Lev Gudkov, diretor do instituto de pesquisas Centro Levada.
Sociólogos acreditam que a Rússia iria se beneficiar caso atraísse mais imigrantes, compensando, assim, o constante declínio na população do país.
“Observamos uma tendência demográfica negativa desde 1992. A população russa diminuiu em 13,4 milhões de pessoas nos últimos 20 anos, mas, devido à imigração, o déficit efetivo foi de apenas 5,3 milhões de pessoas”, diz Anatóli Vichnévski, diretor do Instituto de Demografia da Escola Superior de Economia.
Um dos motivos para as tensões é, porém, a entrada ilegal de mão de obra barata estrangeira.
As cotas para a contratação de imigrantes são significativamente menores do que a atual demanda do mercado. Neste ano, a cota permanece em 1,7 milhões de pessoas. Segundo Gudkov, no entanto, a economia da Rússia precisaria de 4,5 a 5 milhões de trabalhadores estrangeiros por ano.
Os acontecimentos em Biriulevo deram novo impulso a discussões sobre a possibi-lidade de se introduzir vistos para cidadãos de países da Ásia Central e da região do Cáucaso do Sul, ideia apoiada por 84% dos russos, de acordo com dados do Centro Levada de junho deste ano.
Mas o presidente russo Vladímir Pútin já se pronunciou contra a medida, alegando que isso afastaria da Rússia os países-membros da CEI (Comunidade dos Estados Independentes).
A proporção de habitantes que veem os imigrantes como causa dos maiores problemas do país aumentou de 7% para 27% ao longo dos últimos oito anos.
Em Moscou, a imigração já é considerada o maior problema da cidade. Assim, o discurso de repressão a imigrantes ilegais constou das campanhas eleitorais de todos os candidatos a prefeito em meados deste ano.
Fugindo da lei
De acordo com o ministro do Interior russo, Vladímir Kolokoltsev, criminosos que agiam no país estão usando a isenção de visto entre os membros da CEI para evitar detenções.
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Centenas são detidos durante protesto anti-imigração em MoscouSegundo o Comitê de Investigação da Rússia, cerca de um a cada seis assassinatos e um a cada três estupros registrados em Moscou nos primeiros nove meses de 2013 foram cometidos por estrangeiros.
Os dados contribuem para fomentar o sentimento anti- imigração, especialmente em bairros mais pobres, como Biriulevo. A região, na periferia sul de Moscou, fica relativamente isolada do resto da cidade, pois não tem ligação com a linha do metrô que leva ao centro.
Como resultado, os preços de moradia ali são mais baixos, tornando Biriulevo bastante popular entre os imigrantes que trabalham no armazém local – o estabelecimento que mais emprega pessoas no bairro.
“Biriulevo é o local escolhido por pessoas de baixa renda. A xenofobia lá é maior por causa da propensão geral das pessoas a conflitos e sua prontidão para extravasar a agressividade em estrangeiros”, diz Gudkov. “Tal contexto social é comum a outros bairros, portanto, os protestos de Biriulevo serão provavelmente replicados em outros locais”, prevê.
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