O manuseio de areia é altamente eficiente nos tratamentos psicológicos e é frequentemente utilizado no estabelecimento de contato com os pacientes Foto: Reuters
Os métodos tradicionais adotados pelos psicoterapeutas mundiais fazem pouco sucesso no território russo. Apesar da existência de uma grande quantidade de clínicas psicológicas estatais e especialistas particulares, a população do país não está acostumada a usar os seus serviços. A terapia por arte, no entanto, é uma modalidade de tratamento que está ganhando cada vez mais espaço em locais como o exército e os presídios russos.
O SPF (Serviço Penitenciário Federal) lançou um programa experimental de terapia por arte de areia nos presídios do distrito de Krasnoiarsk destinada à reabilitação psicológica dos detentos reservados e com várias fobias, assim como daqueles que sofrem da depressão e não conseguem aceitar o seu destino.
Na opinião dos psicólogos, o manuseio de areia e a modelagem de situações reais através da criação de quadros de areia na mesa iluminada ajudam os pacientes a se livrarem das emoções negativas. Artigo publicado no jornal “Moskóvski Komsomolets” afirma que os primeiros resultados da experiência foram positivos: além do aumento da autoestima, os pacientes ficaram mais abertos ao contato social, dispostos a ajudar os seus colegas e menos agressivos. Segundo os próprios pacientes, o contato com areia gera muitas emoções positivas, além de ajudar na descoberta de novos talentos.
O manuseio de areia é altamente eficiente nos tratamentos psicológicos e é frequentemente utilizado no estabelecimento de contato com os pacientes, explica Oksana Mikhailova, terapeuta artística e diretora do estúdio terapêutico Desenhar na Areia.
"É uma ótima tática para os presidiários descobrirem as verdadeiras causas de crimes cometidos, analisá-las e restabelecerem a convivência harmônica com eles mesmos. A permanência no presídio não é uma tarefa fácil do ponto de vista psicológico, no entanto, a terapia de areia permite relaxar e baixa o nível de ansiedade", explica especialista.
"Dentro de cada um de nós existe uma barreira que não nos deixa entender as verdadeiras causas dos nossos problemas, no entanto, a construção dos castelos de areia ou a arte de pintura ajudam a ultrapassá-la", acrescenta a terapeuta.
Do ponto de vista financeiro, este tipo de tratamento psicológico é muito econômico –requer apenas uma caixa de tamanho médio preenchida com areia e uma coleção de brinquedos.
No entanto, segundo o terapeuta, os métodos não tradicionais usados nos presídios não são facilmente reconhecidos pelo público em geral.
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Moscovitas transformam garagens em casaVladímir Ossétchkin, defensor dos direitos humanos e diretor do projeto GULAGu.net é um desses opositores. Ele acredita que os tratamentos psicológicos não terão uma alta eficiência na ausência das condições adequadas nos presídios, de uma boa remuneração para os detentos que escolhem trabalhar e de uma infraestrutura adequada para a prática de esportes.
"Nenhum psicólogo conseguirá ajudar os pacientes ameaçados com cães de guarda, que trabalham com limpeza de banheiros ou fazem qualquer outro trabalho humilhante. Precisamos reformar o sistema de punição para que ele se torne mais civilizado. E só depois disso poderemos pensar em outras formas de reabilitação", afirma Vladímir.
No entanto, enquanto as reformas do sistema não saem do papel, os presidiários são submetidos a vários tipos de terapia artística, que incluem aulas de música e pintura. Por exemplo, a administração dos presídios localizados no território da unidade federativa de Irkutsk realiza oficinas de criação de ícones religiosos.
Quanto aos militares, os melhores resultados na sua reabilitação foram demonstrados pela terapia literária. Além dos métodos e testes tradicionais, os psicólogos da frota marítima do Mar Cáspio não dispensam a arte de desenho, pintura e leitura de contos de fadas na adaptação de recrutas para o serviço militar. A terapia literária é uma das maneiras mais eficientes de resolução das situações difíceis. Além de audição, inclui o processo de criação dos próprios contos de fadas, explica Vladímir Nikítin, diretor do departamento de antropologia filosófica e terapia artística do Instituto de Psicologia e Pedagogia.
"No entanto, a criação de histórias ou a construção de castelos de areia em si não são suficientes para a obtenção de bons resultados, pois os tratamentos psicológicos preveem a determinação de focos conforme a necessidade de cada paciente. As imagens criadas na sua imaginação permanecem e podem gerar emoções tanto positivas, quanto negativas", afirma Vladímir.
Segundo Nikítin, os especialistas russos utilizam todos os tipos existentes de terapia artística: plástico-visual, dramática, musical e com dança. No entanto, desenho e pintura são mais amplamente usados no tratamento de crianças. Por exemplo, estes foram os principais métodos de terapia incluídos no projeto conjunto do fundo UNICEF e do Museu Estatal de Arte de A.S. Puchkin destinado aos pequenos pacientes do centro de reabilitação social Krasnossélski.
Nikítin ressalta que a terapia artística se provou eficiente no tratamento e correção dos problemas e desvios psicológicos, assim como no desenvolvimento de personalidade, e é amplamente utilizada por professores, agentes de serviços sociais e artistas, além dos psicólogos e médicos.
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