Embalados por gritos nacionalistas, manifestantes exigiam regime de vistos para países da CEI Foto: ITAR-TASS
Milhares de nacionalistas foram às ruas das principais cidades da Rússia, incluindo Moscou, São Petersburgo, Kazan e Irkutsk, na segunda-feira passada (4), dando continuidade às manifestações que desencadearam violência anti-imigração nos anos anteriores.
O grupo de 20 mil manifestantes em Moscou era composto por pessoas com idades diversas, desde adolescentes a idosos, alguns dos quais são militares aposentados.
As imagens do bairro Liublino, onde a marcha ocorreu, mostram militantes carregando bandeiras da Rússia Imperial e cartazes com slogans como “Hoje uma mesquita, amanhã jihad” e “Diga sim a vistos para imigrantes”. Um grupo exibia também uma faixa com os dizeres “Jovens Contra a Tolerância”, acusando os imigrantes de elevarem os índices de criminalidade e tomarem seus trabalhos.
Os manifestantes gritavam em coro “Russos Unidos” e “Rússia para os russos, Moscou para os moscovitas”, ecoando a hostilidade para com imigrantes das ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central e cidadãos não eslavos oriundos do Cáucaso, em sua grande maioria muçulmanos. Esses indivíduos geralmente se dedicam ao comércio ou trabalhos braçais que os moscovitas se recusam a fazer – gari, lixeiro, pedreiro e outros serviços ligados à manutenção da infraestrutura.
Em 2005, o presidente russo Vladímir Pútin substituiu o antigo feriado que celebrava a revolução de 1917 com o Dia da Unidade Nacional, comemorando a libertação de Moscou dos invasores poloneses em 1612. O feriado, no entanto, logo se tornou sinônimo de manifestações ultranacionalistas sob a bandeira “Marcha Russa”, que geralmente apresentam slogans anti-imigração e, às vezes, até mesmo símbolos nazistas.
Os cidadãos de todas as repúblicas da Ásia Central, incluindo Azerbaijão, Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Moldova, Tadjiquistão, Ucrânia e Uzbequistão, não precisam de visto para entrar no país. Por isso, os participantes dos protestos pediam a introdução de um regime de vistos para os cidadãos da CEI (Comunidade dos Estado Independentes) que viajarem para a Rússia. Alguns manifestantes exigiam também que o governo reduza o volume de verbas públicas destinadas às repúblicas russas no Cáucaso do Norte, como Tchetchênia e Daguestão.
Enquanto alguns transeuntes mostravam descontentamento, outros disseram apoiar a marcha por causa do crescente número de imigrantes em suas vizinhanças. Cerca de 140 pessoas ficaram feridas e 19 foram vítimas de crimes de ódio ao longo deste ano em Moscou, de acordo com o Centro Sova, uma ONG com sede na capital que monitora os casos de racismo.
Cerca de 30 pessoas foram detidas em Moscou durante o protesto de segunda-feira por usarem slogans e símbolos nazistas, além de pequenas infrações de ordem pública, de acordo com a polícia local. A agência de notícias Interfax informou também que a polícia deteve 12 participantes em um protesto semelhante na cidade siberiana de Krasnoiarsk
Na cidade de Volgogrado, 60 pessoas foram supostamente presas depois que tentaram continuar o protesto após o horário permitido. Mais de 30 pessoas foram detidas em São Petersburgo, onde cerca de 2 mil participaram do evento.
Problema latente
Os protestos desta segunda-feira aconteceram três semanas depois da revolta no bairro moscovita de Biriulovo. O tumulto em Moscou havia sido gerado pelo assassinato de um cidadão de etnia russa, supostamente morto por um migrante do Cáucaso.
Depois do crime, os manifestantes chegaram a invadir o armazém onde o suposto assassino trabalhava. Mais tarde, a polícia prendeu cerca de mil imigrantes que trabalhavam no local, e um homem do Uzbequistão foi encontrado morto nas proximidades com várias marcas de facada.
De acordo com observadores, as revoltas de Biriulovo mostram que a xenofobia não é característica exclusiva de alguns extremistas, mas está rapidamente se transformando em uma preocupação social.
Manifestações da paz
Alguns moscovitas decidiram, contudo, celebrar o Dia da Unidade de uma maneira menos agressiva, participando da “Marcha Imperial”, organizada para celebrar o 400º aniversário da dinastia Romanov.
O presidente russo Vladímir Pútin, por exemplo, participou de uma exposição em homenagem a dinastia Romanov, juntamente com o líder da Igreja Ortodoxa Russa, Patriarca Kirill.
Em São Petersburgo, alguns ativistas organizaram protestos contra o ódio e o fascismo dois dias antes da “Marcha Russa”. Mas nem isso impediu a violência racial durante a marcha na cidade, e 40 jovens “mau encarados” atacaram diversas pessoas de aparência não eslava.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: