A questão cigana na Rússia

Tradicionalmente, os ciganos ganhavam dinheiro com a venda de cavalos ou sucata Foto: Tatiana Kótova / focuspictures

Tradicionalmente, os ciganos ganhavam dinheiro com a venda de cavalos ou sucata Foto: Tatiana Kótova / focuspictures

Estima-se que na Rússia vivam entre 180 mil e 400 mil ciganos. Os seus principais problemas na Rússia são as drogas, a pobreza, a incapacidade de se adaptar à economia moderna e as dificuldades para transmitir sua língua e cultura, segundo fontes ouvidas pela Gazeta Russa.

"Eu vou dizer o que eu penso, o problema dos ciganos é que eles não querem trabalhar", diz um jovem policial russo que visita a aldeia cigana russa Gorodishi Possiólok, a cerca de 150 quilômetros de Moscou. Vestido em uniforme, de cabelo loiro e olhos azuis, o jovem policial conversa o ancião cigano Gendar, que mora nessa aldeia.

Gendar defende os ciganos: "Os ciganos não têm educação, não sabem o que fazer."

Gendar é o patriarca da aldeia. Neste "Tábor" (antiga palavra para se referir ao campo) da região de Vladímir vivem ciganos do grupo étnico “koldiari”, que chegaram à Rússia da Hungria, da Ucrânia e da Moldávia. Este é um dos grupos que preservou os seus costumes melhor do que os outros ciganos.

Tradicionalmente, os ciganos ganhavam dinheiro com a venda de cavalos ou sucata. Depois de comunismo, alguns deles conseguiram receber educação e criar empresas bem sucedidas de restauração de estruturas metálicas para telhados. Mas aqui, nesta aldeia, ninguém conseguiu abrir seu negócio.

"Recebo 1.000 rublos (cerca de US$ 30) de ajuda do Estado por mês. Para alimentar as quinze pessoas que vivem na minha casa, preciso de 2.000 rublos (cerca de US$ 65) por dia. As pessoas que têm carros trabalham como taxistas e trazem comida para casa. Mas o que devem fazer aqueles que não tem carros? As crianças pequenas pedem pão. Como uma criança pode entender que você simplesmente não tem comida?”, diz Gendar.

Entramos na casa de Gendar. "Tudo que temos aqui vem do comunismo", lamenta.

“Naquele tempo, não havia nem pobres nem ricos”. As paredes estão cobertas com o esplendor do comunismo: cortinas amarelas, xales com rosas. A mãe, sentada em um sofá, vestida de azul, fuma com um sorriso fechado. "Quer ver o filme do casamento da minha neta?", pergunta ela. Uma menina bonita de quinze anos, vestindo uma saia laranja com medalhões de cobre traz chá, manteiga e cogumelos marinados.

Alguns grupos de ciganos, especialmente “Russka Roma”, chagaram à Rússia para cantar para os nobres do regime czarista. Agora, esses grupos são os mais integrados. Durante a época soviética a maioria dos ciganos foi ligada a contrabando. Naquela época, isso era uma atividade ilegal, mas não criminal.

  

"Depois de Perestroika, todas as nações que vivem na Rússia começaram a participar do comércio, e os analfabetos ciganos se tornaram incapazes de continuar esse trabalho", diz Marianna Seslavinskaia, uma das líderes da união interregional da Rússia para a defesa dos ciganos, a Roma Union.

Exclusão social

"As drogas representam um problema para todos os ciganos na Rússia", diz Sleslavinskaia.

"Não só porque alguns ciganos distribuem as drogas, mas também porque os jovens consomem e morrem. Neste sentido, os ciganos são um grande espelho que reflete bem a sociedade russa, os 2% da população russa consomem heroína regularmente. Os rumores sobre os grupos organizados de ciganos que criaram redes de distribuição de drogas são errados", afirma Sleslavinskaia.

Gueôrgui Tsvetkov está de acordo com Sleslavinskaia. “Os ciganos geralmente desempenham o papel de ‘camelos’. Eles são pobres, não entendem os perigos, é muito fácil convencê-los. Na verdade, o principal problema é a falta de educação”, diz Tsvetkov.

Gueôrgui e Sleslavinskaia trabalham em um laboratório de pesquisas no Instituto Federal para o Desenvolvimento da Educação de Moscou e fizeram da educação dos ciganos uma prioridade.

Sleslavinskaia criou um laboratório de investigação da cultura cigana na Universidade Linguística Estatal de Moscou. No entanto, apenas duas pessoas trabalham nesse ali.

“Precisamos de um programa que ofereça acesso ao ensino da lígua e cultura russa. Os ciganos não poderão se tornar russos sem saber a cultura desse país. Construção da sua própria identidade é a única solução que lhes permitirá se adaptar ao mundo moderno, encontrar emprego e evitar a pobreza e o crime”, completa Sleslavisnskaia.

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