Caso Biriuliovo evidencia falta de segurança nos subúrbios de Moscou

O sentimento de revolta exposto recentemente não é novidade, já que os imigrantes (muitas vezes ilegais) se espalharam por todos os bairros moscovitas Foto: RIA Nóvosti

O sentimento de revolta exposto recentemente não é novidade, já que os imigrantes (muitas vezes ilegais) se espalharam por todos os bairros moscovitas Foto: RIA Nóvosti

Protestos no sul da capital trazem à tona não só problemas na política migratória do governo, mas também insatisfação de moradores locais, que há anos não veem melhorias nas regiões periféricas da capital.

Moscou é composta por classes sociais que circulam por ambientes diferentes e quase nunca se misturam. O bairro de Biriuliovo, que ganhou as manchetes nos últimos dias depois de protagonizar manifestações contra os imigrantes, é um dos locais na capital geralmente caracterizados como “distantes e perigosos”. 

“Há 10 anos, o bairro já não era seguro. Uma vez, os valentões locais me deixaram marcas no rosto tão graves que precisei passar três semanas sem sair de casa. Na época, nenhum canto de Moscou era seguro. Aos poucos, a situação foi se normalizando, mas Biriuliovo não foi atingido por essa mudança”, conta Iúri, ex-morador do bairro.

Localizado na zona sul de Moscou, Biriuliovo fica praticamente isolado da cidade por dois ramais ferroviários. Possui edifícios altos, muitos supermercados e uma enorme frota de vans devido à grande distância até a estação de metrô mais próxima.

A madrugada do dia 10 de outubro foi marcada pelo assassinato do Igor Scherbakov, 25 anos, a facadas ao proteger a namorada do assédio de um descendente do Cáucaso. Dois dias depois, os moradores de Biriulevo saíram às ruas para exigir a captura do criminoso e o fechamento do centro local de distribuição de alimentos onde trabalham diversos imigrantes. Desde então, manifestantes de diversas regiões do país vêm demonstrando apoio à causa, muitas vezes entrando em conflito direto com a polícia. Alterações à política migratória do país também estão sendo discutidas entre deputados e funcionários públicos de alto escalão.

Os últimos anos foram marcados pela abertura de vários cafés e restaurantes comandados por estrangeiros, que preferem se reunir com os amigos dentro do próprio bairro em vez de fazer uma pequena viagem ao centro do capital. “Mas não consigo entender os imigrantes que não saem de casa sem uma faca no bolso. Isso até pode ser comum no seu país de origem, mas a situação em Moscou é muito diferente”, diz um comerciante local.

A escalada da violência tem forçado muitos moradores antigos a se mudarem para outras regiões do país em busca de sossego. Esse é o caso de Nikolai Bikua-Mfantse, que nasceu e vive no Biriuliovo, mas planeja se mudar para outra região. “Há cerca de 5 anos, foi aberto um parque com área de lazer para os moradores, mas, assim que escurece, vira ponto de encontro dos imigrantes que não respeitam nossas leis e costumes nem a nossa cultura em geral”, conta. “Eu não apoio as ações destrutivas, mas, devido à situação atual do país, a população precisa chamar a atenção do governo de alguma maneira.”

O sentimento de revolta exposto recentemente não é novidade, já que os imigrantes (muitas vezes ilegais) se espalharam por todos os bairros moscovitas. Os moradores da zona leste da cidade também já apresentaram reclamações junto às autoridades sobre os estrangeiros que ocupam prédios abandonados.

No entanto, não existem dados oficiais que relacionem a presença dos imigrantes às estatísticas de crimes cometidos na capital. De acordo com as informações fornecidas pela Diretoria Geral de Negócios Internos, a maior parte das infrações é cometida na região central de Moscou e consiste em crimes pequenos, como furtos, por exemplo. Além disso, os relatórios policiais não levam em consideração a origem dos infratores, mesmo porque todos os recém-chegados das repúblicas do Cáucaso do Norte também são cidadãos russos, embora sejam considerados imigrantes por grande parte dos moscovitas.

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