Sem teto nem esperança

Morador de rua há 15 anos, Iúri é um dos 3 milhões de russos que moram nas ruas Foto: RIA Nóvosti

Morador de rua há 15 anos, Iúri é um dos 3 milhões de russos que moram nas ruas Foto: RIA Nóvosti

Na década de 90 do século passado, as mudanças radicais na Rússia fizeram com que mais pessoas perdessem suas casas. Hoje em dia, apesar de a situação econômica ser melhor, as estatísticas demonstram que até 3 milhões de pessoas vivem nas ruas do país.

Iúri, 45 anos, mora na rua há uma década e meia. Antes disso, morava no apartamento da família em Moscou e trabalhava como vendedor em uma loja. Depois da morte dos pais, a irmã vendeu o apartamento e Iúri não tinha para onde ir. “Confiei à minha irmã a venda do apartamento dos nossos pais, e fiquei apenas com uma pequena parte. Tinha um pouco de dinheiro, aluguei um pequeno quarto e passei a viver sozinho”, conta Iúri.

Mas as novas condições o levaram a ouros problemas: álcool, dívidas e brigas com os amigos. A situação foi se agravando até que se viu obrigado a passar a noite nas escadas de um prédio no final dos anos 90. Hoje em dia, Iúri dorme na estação de Kursk, convive apenas com outros mendigos e passa o dia todo pedindo esmola na igreja próxima.

Assim como Iúri, atualmente 50 mil pessoas vivem nas ruas de Moscou, e a tendência é que esse número continue a aumentar. “A raiz do problema está na política social ineficaz e na própria psicologia dos sem-teto”, comenta Elena Kovalenko, coordenadora dos projetos da Fundação Instituto de Economia da Cidade.

“Os moradores de rua costumam passar por um processo gradual de acumulação de problemas que limitam seriamente as possibilidades da pessoa lidar com a situação. As pessoas que caem nesta situação, assim como os caminhos que as levam a ela, são muito diversos, mas elas logo são agrupadas”, continua Kovalenko.

Para a moradora de rua Svetlana, 50 anos, sair da sua cidade-natal Voznessensk, na Ucrânia, para morar nas ruas da capital russa não fazia parte dos seus planos. Apesar de a oferta de emprego me Moscou não passar de uma armadilha, ela se acostumou à vida de sem-teto e não enxerga outra alternativa.

“Lá [na Ucrânia] não tinha dinheiro para nada. Aqui em Moscou eu sou sem-teto mas, pelo menos, consigo encontrar comida e roupa. Se ficar o dia todo na porta da igreja consigo uns 15 dólares rublos – geralmente é suficiente para comprar pão, leite e álcool”, conta a moradora de rua.

Segundo Kovalenko, os serviços estatais não se ocupam do combate nem da prevenção desse tipo de situação. Além disso, o trabalho social com esses indivíduos é agravado por obstáculos burocráticos, pelo baixo nível de interação entre os serviços e pela falta de desenvolvimento de uma rede de agências especializadas, entre outros fatores.

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