Entre o conhecimento e a tortura

Ritual escolar no início de setembro remonta aos tempos soviéticos Foto: ITAR-TASS

Ritual escolar no início de setembro remonta aos tempos soviéticos Foto: ITAR-TASS

O início do ano letivo significa um longo aprendizado pela frente. No entanto, esse caminho pode ser dificultado pela difícil convivência entre as crianças.

Primeiro de setembro. O pátio da escola se enche de flores brancas, vermelhas, amarelas e cor-de-laranja. À frente estão os alunos dispostos em semicírculo, cada um com seu ramo de flores. Atrás deles, vem os pais comovidos, filmando e tirando fotografias.

Os professores e o diretor da escola fazem discursos calorosos e dão parabéns aos escolares pelo Dia do Conhecimento. As boas-vindas alternam com os jovens talentos da escola, que se chegam ao meio para dançar, cantar e recitar poemas.

Todos os anos, esse ato solene acaba da mesma forma: o finalista com melhores notas e fisicamente mais forte carrega nos ombros uma criança da 1.ª série, que tilinta um pequeno sino. Para os novatos, aquele é o primeiro toque de campainha, que significa o início de longos estudos.

Todo esse ritual vem dos tempos soviéticos. No entanto, 1° de setembro sempre foi um dia especial, desde os tempos remotos. Na Idade Média, era festejado o Ano Novo, que coincidia com o início da colheita.

Lição difícil

Duas adolescentes de 13 anos puxam o cabelo de uma terceira. Ao ser empurrada, a garota cai junto a um monte de lixo e as duas a obrigam a beijar seus sapatos. Há alguns meses, o vídeo que exibia essa cena de violência bateu todos os recordes do YouTube na Rússia. Os pais só tomaram conhecimento do ocorrido quando o vídeo caiu na rede.

Nas escolas sempre houve os excluídos. Porém, ultimamente, as ofensas se tornaram mais agressivas. “O importante, é entender a razão por que uma criança é excluída”, diz a diretora do Liceu nº 1589, Sofia Bogoróditskaia. “De toda a turma, é escolhido um elemento pelo professor ou pelos companheiros. O professor pode ficar descontente com um aluno e passar a picá-lo com observações que o humilham. Quando são os alunos, o processo é subconsciente. A escolha recai geralmente nos companheiros mais inseguros.”

Os principais alvos são crianças que fogem dos padrões físicos e sociais aceitos pela maioria. “Em todos os grupos, os excluídos desempenham uma função importante, pois são válvulas de escape da tensão nervosa”, diz o psicólogo Mark Sandomirski, ao acrescentar que no meio escolar existe uma hierarquia e concorrência.

Os papéis costumam ficar distribuídos no 2º ou 3º ano. Antes disso, as crianças testam-se umas às outras. É precisamente nesta altura que os pais devem dar toda a atenção ao comportamento da criança, apontam os especialistas. “A minha filha Ánia perdeu o apetite. Praticamente deixou de comer, começou a dormir mal e passou a ter dores de cabeça. Os médicos não encontraram nada e aconselharam-na a falar com um psicólogo”, conta Marina Rógova. “Foi assim que soubemos que Ánia era maltratada pelos companheiros de turma.”

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