Cerca de 5.000 manifestantes se reuniram em 11 de dezembro de 2010 na Praça Manéjnaia, em Moscou, para prestar homenagem a Egor Sviridov, torcedor do Spartak de Moscou morto em 6 de dezembro de 2010 durante uma briga entre um grupo de torcedores e um grupo de origem do Cáucaso do Norte Foto: ITAR-TASS
Com o objetivo de combater conflitos étnicos, o governo russo elaborou um plano de ação com 82 medidas. Entre elas, o apoio financeiro a organizações sem fins lucrativos voltadas à adaptação de migrantes, a organização de festivais e oficinas culturais, assim como a inclusão da disciplina “Cultura das Relações Interétnicas” nos currículos escolares e universitários. Segundo especialistas, esse é o primeiro projeto de relevância sobre a questão nos últimos 50 anos.
Com realização prevista para estender-se até 2025, o programa foi elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e aprovado pelo gabinete de ministros logo após conflitos étnicos ocorridos no início de julho na cidade de Pugatchov. Ali, quase mil quilômetros a sudeste de Moscou, na unidade federativa de Saratov, uma grande desordem se instaurou depois da morte de um morador local por um adolescente tchetcheno.
“Essa é a primeira estratégia elaborada nos últimos 50 anos para uma política nacional sobre o assunto”, explica Aslambek Paskatchov, presidente do movimento dos povos do Cáucaso que participou da elaboração do plano de ação.
“Pela primeira vez temos um programa pela integridade do país que leva
em conta as relações entre
etnias. Apesar de esses assuntos já terem sido discutidos antes, não havia um
plano de ação único, pois eles faziam parte de ministérios diferentes.”
Quem são os russos?
A Rússia comporta mais de 180 povos, caracterizados como “etnias”. Enquanto entre as mais volumosas encontram-se os chamados “russos étnicos”, que seguem o cristianismo ortodoxo, tártaros e bashikires, na maioria muçulmanos, não tendem a entrar em conflito com os primeiros, diferentemente de tchetchenos e outros povos da região separatista do Cáucaso do Norte.
Assim, o item prioritário da estratégia é, até 2020, contribuir para o fortalecimento da união entre russos étnicos e outros povos. Cada prefeitura terá seu próprio plano de ação, a ser elaborado por funcionários públicos treinados especificamente para esse fim, levando em consideração as particularidades regionais.
Além disso, cursos de formação para especialistas em “relações interétnicas” serão inaugurados em instituições de ensino superior, já que um dos pilares do projeto é a educação. Nos currículos de pré-escolas, colégios e universidades também será incluído o tema “Cultura das Relações Interétnicas”.
"Todos cremos em um mesmo Deus"
“Síndrome tchetchena” tumultua cidade na região do VolgaA maior parte do programa, porém, é dedicada a eventos culturais como festivais, celebrações de datas históricas, exposições, festas e atividades destinadas à população jovem, que incluem cursos de verão de ciência política, eventos esportivos e colônias de férias educacionais organizadas no complexo Etnomir (do russo, “Mundo das Etnias”), na unidade federativa de Kaluga.
“Na esfera juvenil, é justamente o contato com culturas diferentes que confere o sentimento de segurança. O próprio festival não resolve os conflitos, mas dá conhecimento sobre outros povos”, explica Paskatchov.
O programa também prevê a produção de programas de TV e documentários sobre as culturas dos povos que habitam o país.
Punição
As autoridades prometem apresentar o novo projeto em pouco tempo. Também devem ser feitas algumas emendas à legislação vigente referentes à ordem pública em eventos esportivos, de acordo com solicitação do governo, já que torcedores são motivo constante de conflitos étnicos no país.
Uma prova disso foi a desordem pública criada na capital com a morte de Egor Sviridov, torcedor do Spartak de Moscou, por um grupo originário do Cáucaso do Norte, em 6 de dezembro de 2010. Uma série de manifestações desencadeadas pelo crime resultou em conflitos étnicos e pancadaria em diferentes pontos de Moscou.
O projeto também inclui medidas punitivas a organizações sociais, religiosas ou entidades sem fins lucrativos cujas atividades incitem ações extremistas, conflitos religiosos ou étnicos. As fontes de recursos financeiros para essas organizações também passarão a ser monitoradas.
Já os grupos que fortalecem as relações entre etnias receberão apoio especial do governo. A fundação de cursos de idioma russo em países com grande fluxo migratório para a Rússia é outro ponto a ser desenvolvido.
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