Com queda na popularidade dos livros de papel, russos mudam hábitos de leitura

Compactos e com boa visualização, smartphones e tablets cada vez mais substituem os livros de papel como opção de leitura Foto: ITAR-TASS

Compactos e com boa visualização, smartphones e tablets cada vez mais substituem os livros de papel como opção de leitura Foto: ITAR-TASS

De acordo com as estatísticas fornecidas pela Câmara do livro, em 2012, a tiragem total de livros editados no país caiu 12% em comparação com 2011.

Pesquisas recentes têm mostrado uma tendência preocupante na Rússia: a diminuição no tempo gasto para a leitura de livros. A fundação de opinião pública “Obschéstvennoe Mnénie” revelou que 44% dos russos entrevistados admitiram não terem lido um único livro durante o ano. Os dados divulgados pela fundação são confirmados por outros estudos.

“Estamos observando uma tendência semelhante”, comenta Iúri Púlia, diretor da Agência Federal de Imprensa Periódica e de Comunicação em Massa.

No entanto, não é tão fácil determinar se os russos estão perdendo o interesse pela leitura ou se este fenômeno tem outra natureza; de acordo com o Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Rússia, em pesquisa feita em março, os russos, pelo contrário, passaram a ler mais: uma média de 4,23 livros por trimestre em 2013, enquanto no ano de 2011, esta média era de 3,94 livros.

O que é possível avaliar é a popularidade dos livros de papel. De acordo com as estatísticas fornecidas pela Câmara do livro, em 2012, a tiragem total de livros editados no país caiu 12% em comparação com o ano de 2011.

De acordo com os dados de pesquisa da empresa TNS Rossía, contidos no relatório setorial da Rospechat, o consumo geral de mídia por cidadãos russos com idade acima de 16 anos é de 8 horas por dia.

Dentre este tempo, somente 1,8% (cerca de 9 minutos por dia) são dedicados à leitura de livros. Como comparação, para ler o romance “Eugene Onegin”, de Aleksander Pushkin, um russo médio usuário de mídia precisará de pelo menos 15 dias (1,5 horas de leitura) e para o poema “Almas Mortas”, de Nikolai Gogol, terá que gastar um mês e meio para a leitura (ou um total de aproximado de 5 horas)”.

Hoje, olhando através dos olhos de um leitor moderno para a rotatividade dos livros, podem-se notar duas tendências. Em primeiro lugar, nas últimas duas décadas, o livro de papel deixou de ser o principal transmissor de informações em texto –muitos agora leem da tela do computador, de um smartphone ou tablet, utilizam o iReader ou ouvem audiobooks no carro.

Em segundo lugar, o livro na Rússia deixou de ter tanto prestígio –a posse de uma edição rara já não afeta o status do proprietário, como acontecia nos tempos soviéticos. Segundo a pesquisa do Centro de Pesquisa de Opinião Pública da Rússia, atualmente 83% dos russos possuem uma biblioteca pessoal. Em 46% delas, no entanto, o volume não excede 100 livros. Curiosamente, até mesmo nos questionários escolares, onde se pede que os pais façam uma lista com os nomes dos livros infantis disponíveis em casa, existe um pequeno espaço de três linhas para enumerá-los.

Livrarias

As livrarias da Rússia, especialmente as metropolitanas, estão em geral reagindo com flexibilidade às mudanças na situação: nas grandes cidades, o número de lugares onde  somente livros são vendidos torna-se cada vez menor; cada loja ou rede está adotando o seu próprio conceito e um círculo de clientes fiéis. 

As livrarias se transformaram em clubes, cafés, salas de palestras, surgiram livrarias 24 horas, vários projetos especializados e até mesmo projetos móveis.

Um exemplo é ônibus infantil Bumper, que não é  apenas uma livraria, mas um clube com um programa bastante sério de educação.

“Nós não ficamos esperando que as pessoas venham comprar livros, mas escolhemos os melhores e mais emocionantes para trazê-los para os leitores”.

Este é o lema do ônibus Bumper, que transita durante todo o verão pelo interior da Rússia, apresentando para as crianças as melhores novidades de leitura. 

Também ganha popularidade o “bookcrossing” –estantes de troca de livros que funcionam em muitas livrarias, clubes e cafés.

Vendas on-line

As vendas on-line também estão crescendo.

“Em 2012, por exemplo, nosso crescimento foi de 30% em ganhos e 27% em exemplares”, diz Aleksêi Kuzmenko, diretor da editora OZON.ru, a maior varejista on-line da Rússia.

O principal crescimento, acrescenta, não se percebe em Moscou ou São Petersburgo, mas regionalmente. E é lá que acontecerá a luta para conquistar o cliente.

As declarações dos russos modernos sobre o seu baixo interesse pela leitura contrastam com a visão popular de que a URSS eram a nação que mais lia no mundo. É do conhecimento geral que em tempos soviéticos havia déficit de livros, eles eram estimados como uma preciosidade e precisavam ser obtidos como uma roupa fina ou uma iguaria rara.

Fanáticos soviéticos por leitura ficavam na fila por uma assinatura. Para comprar livros de Alexandre Dumas, por exemplo, era possível obter um cupom, entregando 20 kg de papel usado. No final do período soviético, surgiram as comissões de livros, mas estes eram poucos e caros. A situação começou a mudar somente nos anos 1990.

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