Guêlman levou poetas, músicos e artistas famosos à desconhecida Perm Foto: Evguénia Smoliánskaia
As autoridades do território de Perm cancelaram o contrato com o diretor do Museu de Arte Moderna da região, o conhecido galerista e promotor de cultura Marat Guêlman. A colaboradora do museu, Elena Oleinikova, irá ocupar temporariamente o seu posto. A mudança na diretoria é considerada significativa, já que a era de Guêlman em Perm chega ao fim e, com isso, o projeto cultural que desenvolveu na região.
O motivo da demissão foi a exposição do artista Vassíli Slonov, organizada pelo museu e dedicada às Olimpíadas de Sôtchi, em 2014. Slonov fez releituras satíricas do Tcheburachka*, mascote da equipe olímpica russa, bem como do resto da símbologia olímpica: Tcheburachka de esquis em um banheiro rústico, o mascote em forma de uma granada “limonka” e cinco crânios em uma referência aos anéis olímpicos, entre outras.
A ironia é sombria, mas especialistas a consideram inofensiva. Nos anos 1990, caricaturas desse tipo apareciam nas páginas dos principais jornais. Curiosamente, antes de chegar em Perm, a exposição de Slonov foi aberta em Moscou sem maiores contratempos. Mas os deputados de Perm condenaram veemente o projeto e sugerem até a instauração um processo criminal.
A reputação de Guêlman também exerceu um papel nesse contexto. Na Rússia, o nome dele há muito se tornou sinônimo de uma arte provocativa e chocante. Onde estiver Guelman, pode se esperar um escândalo. Segundo o próprio artista, “o escândalo beneficia a liberdade”.
Desde a década de 1990, ele passou a trabalhar com os mais artistas mais radicais e reacionários, como Oleg Kulik, Aleksandr Brenner, Avdei Ter-Oganian. O primeiro entrou para a história da arte como “o homem-cão”, o segundo como “o homem que desenhou o símbolo do dólar em uma pintura de Malevich” e o terceiro como “aquele que picava ícones com um machado”.
Porém, por trás do choque e do protesto, há o indubitável papel civilizador do projeto de Guêlman. Seria difícil escolher uma cidade menos adequada para a experiência cultural e social: desemprego, alcoolismo, clima severo dos Urais, indústrias bélicas e um grande número de campos de trabalhos forçados. Ainda há pouco tempo, essa era uma das cidades mais secretas e negligenciadas pelo poder central da Rússia. Em cinco anos ela se transformou bastante.
O poeta moscovita Andrei Rodionov, que trabalhou para Guêlman como chefe do serviço de marketing, explica que somente pouco mais de 2% do orçamento do território vai para verba de cultura. “Tendo em conta as dificuldades com as quais nos deparamos, este é um bom resultado”, diz, referindo-se ao funcionamento do museu local.
De início, o museu não agradou os habitantes de Perm, mas os eventos promovidas no local mudaram a opinião dos moradores. O grande Festival do Livro Noites brancas, por exemplo, contou com a participação de escritores dos EUA, Israel e Portugal, atraindo mais de 200 mil pessoas. Neste mês, será realizado o tradicional fórum civil “Pilorama”, dedicado à memória de presos políticos e vítimas da repressão.
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