Presidente russo Boris Iéltsin faz discurso sobre tanque em frente ao antigo prédio do Conselho de Ministros em 19 agosto de 1991 Foto: Reuters
Apesar de a Rússia pós-soviética completar 22 anos em 2013, é somente há 21 que o 12 de junho é celebrado como o feriado do Dia da Rússia. Tudo começou nessa data, em 1990, quando o Congresso dos Deputados do Povo da República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR) votou a favor da Declaração de Soberania desse Estado.
Nessa ocasião, os parlamentos das repúblicas da União Soviética estavam, um a um, adotando suas próprias declarações de soberania, e a RSFSR não poderia ficar de fora.
Os delegados do Congresso votaram quase por unanimidade a favor da inclusão da questão na agenda do dia. Mas o texto final do documento foi motivo de muitos debates. Por isso, sua elaboração se arrastou por um mês e apenas no dia 12 de junho acabou aprovado.
Em 1991, as primeiras eleições para presidente da RSFSR foram marcadas para a mesma data.
Isso pode ser explicado pelo temor que a equipe política de Boris Iéltsin tinha de que a mudança para uma data posterior impedisse a vitória do seu candidato no primeiro turno, já que os eleitores sairiam para as férias prolongadas de verão, que no país ocorrem em meados do ano, e viajariam para suas “datchas” (casas de campo).
Volta aos tempos do tsar
A construção do novo país estava baseada em duas premissas ideológicas. Em
primeiro lugar, vinha o retorno às tradições da Rússia pré-soviética. Assim,
comerciantes e “nobres” viraram uma moda que se propagou.
Começaram a surgir “guildas de comerciantes” e “assembleias da
nobreza”. Houve também o retorno da palavra “senhor” à linguagem
cotidiana, assim como o da bandeira tricolor que quase
imediatamente começou a ser assimilada como bandeira oficial da
RSFSR – embora até agosto de 1991 não houvesse qualquer base legal
para tanto.
De alguma forma, isso se assemelhava ao que ocorria naquele momento nos países
da Europa Oriental, quando os integrantes do ex-bloco soviético se despiam
do socialismo sob o lema do “retorno à Europa”.
Não foi por acaso também que em 12 de junho de 1991 realizou-se um
referendo para devolver o nome São Petersburgo à cidade de Leningrado.
Brincando de EUA
Os pais da nova Rússia brincavam um pouco de se fingir de fundadores dos Estados Unidos, como os chamados “pais da pátria” que criaram o país norte-americano do zero.
Guennádi Búrbulis, o principal ideólogo da fase inicial de Boris Iéltsin, atribuía grande importância aos símbolos. Assim, o presidente da Rússia deveria ser eleito na data da aprovação da Declaração de Soberania.
Inicialmente, o Congresso dos Deputados do Povo da RSFSR apoiou esse jogo e até participou dele diretamente. Em 1992, de acordo com a Resolução do Conselho Supremo, o dia 12 de junho foi transformado em feriado.
Boris Iéltsin reiterou a instituição do feriado em 1994 com um decreto, já que o dia do país não poderia ser oficializado pela resolução de um Conselho Supremo que já não existia. Porém, a euforia em torno da data já havia diminuído.
Dia da “Independência”
O feriado também ficou conhecido por muitos russos como “Dia da Independência”, e até os dias atuais causa confusão entre os cidadãos do país.
Em junho de 1990, ninguém poderia imaginar que a Rússia iria se retirar da União Soviética. A desintegração da URSS parecia impensável, e a Declaração de Soberania, apenas um elemento do jogo político entre a administração federal e a equipe de Iéltsin.
Em meados da década de 1990, a iminente queda da URSS já era considerada por muitas pessoas como a “maior catástrofe geopolítica do século 20”, como mais tarde foi denominado o acontecimento pelo atual presidente Vladímir Pútin.
Foi então que um sentimento de nostalgia em relação à União Soviética se espalhou pela sociedade, e o apoio aos democratas radicais da equipe de Boris Iéltsin entrou em declínio.
Assim, o feriado de celebração do novo país era necessário à nova geração de integrantes do círculo de Iéltsin como afirmação do direito ao poder.
Desde meados da década de 1990, o dia 12 de junho passou a ser bem recebido por todos como um dia de folga que serve de ponte entre os feriados de maio (no dia 9 celebra-se o principal do país, o Dia da Vitória na 2ª Guerra Mundial) e as férias de verão, mas é pouco compreendido por muitos.
Com o passar do tempo, ele foi se tornando cada vez mais oficial e solene. A ruptura final com qualquer relação do feriado com a “independência” russa ocorreu em 1998, quando o presidente Boris Iéltsin alterou seu nome e a data foi batizada simplesmente de “Dia da Rússia”. O evento pode ter ligação com a guerra que se instalara no sul do país no período, quando a Rússia passou a reprimir o desejo de soberania de repúblicas do Cáucaso do Norte como a Tchetchênia.
As declarações, soberanias, pais fundadores e a marcha em direção à época pré-bolchevique ficaram para trás, bem longe dos novos tempos na Rússia. Adiante, estavam a inadimplência, o término e o recomeço da guerra na Tchetchênia, novos ricos e oligarcas, Vladímir Pútin, e um país novo e desconhecido.
Parabeniza todos os compatriotas exilados no Brasil no feriado nacional do Dia da Rússia!
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: