Um projeto de lei sobre o restabelecimento do uniforme escolar foi apresentado à Duma de Estado no final de Abril e, muito provavelmente, os alunos das escolas já estarão uniformizados a partir de primeiro de setembro Foto: ITAR-TASS
Curiosamente, essa ideia, proposta por alguns políticos, tem encontrado apoio de alunos em fase escolar, pais e professores. Muitos esperam que a desigualdade social nas escolas deixe de ser tão notória como tem sido hoje e que a questão sobre se os estudantes devem ou não usar roupas religiosas seja finalmente resolvida.
Um projeto de lei sobre o restabelecimento do uniforme escolar foi apresentado à Duma de Estado no final de Abril e, muito provavelmente, os alunos das escolas já estarão uniformizados a partir de primeiro de setembro. A autora do projeto, Olga Timofeieva, do partido Rússia Unida e membro da Duma pela Frente Popular de Toda a Rússia, elaborou emendas ao projeto de lei “Sobre a Educação na Rússia”.
“Isso está sendo feito a fim de preservar a escola como um local de conhecimento e para evitar a classificação das crianças como ricas ou pobres, cujos pais não têm dinheiro para comprar roupas de marca. Além disso, somos contra a separação das crianças em crentes e ‘não crentes’, porque alguns alunos podem começar a usar roupas religiosas. Nós gostaríamos que nossos filhos crescessem patriotas de suas escolas,” diz a autora do projeto.
Desta vez não haverá vestidos marrons com golas de renda e aventais pretos ou brancos, os quais as estudantes da era soviética tanto odiavam. O projeto de lei não exige um uniforme padrão para todos os alunos do país. Os autores do projeto evitaram descrever qualquer detalhe específico que deveria constar no uniforme escolar a fim de evitar ditames, preferindo dar às regiões da Rússia completa liberdade de escolha. Caberá às autoridades locais decidir qual tipo de uniforme é mais o adequado. Crianças de famílias com baixa renda obterão seus uniformes escolares gratuitamente.
O presidente russo Vladímir Putin apoiou a ideia de implementar o uniforme escolar na primeira conferência da Frente Popular de Toda a Rússia no final de março.
“Deve haver uniforme escolar em nosso país”, disse Pútin. Ele indicou que tomará decisões federais que obriguem as regiões a adotarem o uniforme escolar e que dará aos territórios e municípios a chance de escolher os detalhes.
O uniforme escolar foi extinto na Rússia em 1992. Vestidos marrons para as meninas e ternos azul-marinho para os meninos desapareceram no início dos anos 90. Depois do colapso da União Soviética a oportunidade de ir à escola vestindo uma calça jeans e uma camiseta parecia um sinal indubitável de uma nova e livre sociedade. Agora algumas escolas já introduziram seus próprios uniformes. A maioria insiste que seus alunos deveriam adotar um estilo empresarial e apenas apresentarem-se decentemente sem necessariamente estarem uniformizados, já outros recomendam o uniforme para alunos do ensino fundamental.
Até agora o uniforme escolar tem sido obrigatório apenas no território de Stavropol. Esta medida, em vigor desde dezembro do ano passado, foi direcionada para meninas de famílias muçulmanas, que surgiram em sala de aula vestindo hijabs. A diretoria da escola decidiu proibir as garotas que usassem véus muçulmanos de freqüentar as aulas. Como resultado, quando o presidente Putin lembrou que a sociedade russa é secular, o governador de Stavropol ordenou que o uniforme escolar se tornasse obrigatório em todas as escolas
No dia 5 de abril, o estilista Slava Zaitsev apresentou sua versão do uniforme escolar. Em um evento, jovens modelos desfilaram com blusas, suéteres, saias, calças e jaquetas para garotas e camisetas, suéteres e traje clássico (calça, colete e casaco) para garotos. Zaitsev prometeu que o traje completo vai custar aos pais entre 3.000 e 3.500 rublos (R$ 200 a R$ 230).
Os adversários do retorno do uniforme escolar argumentam que mesmo um traje que custa entre 2.000 e 3.000 rublos (R$ 130 a R$ 200) será um fardo pesado para as famílias pobres e para as que têm muitas crianças. Quanto à desigualdade social, os caros telefones celulares e outros aparelhos eletrônicos que alguns adolescentes exibem hoje em dia, teriam um peso maior.
Alguns já começaram a especular sobre corrupção no atacado, que, eles suspeitam, se espalhará por todas as escolas. Diretores podem facilmente introduzir regras em suas escolas que permitam a uma empresa de confecção pré-selecionada ganhar um concurso de licitação fraudulento.
A iniciativa da Timofeieva renderá contratos robustos entre o Estado e a indústria do vestuário. De acordo com algumas estimativas, a indústria receberá R$ 2,3 bilhões anuais, uma vez que as escolas russas têm hoje 12 milhões de alunos e um uniforme completo deve custar até R$200.
Seja como for, os partidários do uniforme escolar superam de longe os céticos e críticos.
"Do ponto de vista psicológico, o uniforme escolar tem efeitos tremendos", o jornal Komsomolskaia Pravda cita Marina Loseva, professora e psicanalista em um liceu de Volgogrado, no centro do vale do rio Volga, que afirma. "Isto é assim em termos de desenvolvimento e educação. Devemos lembrar que as roupas são um excelente meio de comunicação, embora não-verbal. Temos notado frequentemente que, se uma criança aparece em sala de aula vestindo roupas brilhantes, todo o processo de instrução fica comprometido. O uniforme escolar pode ainda ajudar a resolver muitos conflitos comuns entre os adolescentes. Além disso, o uniforme é o símbolo de um status específico e isso é muito importante para os alunos do ensino fundamental.”
Ademais, os alunos que se acostumaram a usar o mesmo uniforme, dizem que isso não só melhora a disciplina, como também reforça a unidade e ajuda a melhorar o progresso acadêmico. Alguns acham difícil decidir o que vestir para ir à escola pela manhã. O uniforme não deixa espaço para dúvidas.
De acordo com uma pesquisa sociológica do Ministério da Educação e Ciência da região de Volgogrado, 63% dos estudantes, 77% dos pais e 91% dos professores estão certos de que o uniforme é necessário e 65% dos pais e 89% dos professores esperam que ele ajudará a minimizar a gritante desigualdade social.
Publicado originalmente pela ITAR-TASS
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