Segundo Ministério da Defesa russo, cerca de 1,5 milhão soldados mortos não foram sepultados Foto: Zelma / RIA Novosti
O grande chefe militar russo Aleksandr Suvorov dizia que “a guerra não acabou enquanto o último soldado morto não for enterrado”. Baseados nessa máxima, grupos de pesquisadores permanecem há anos à procura dos locais de sepultamento e da determinação da identidade dos combatentes que morreram durante a Grande Guerra Patriótica, como é conhecida a Segunda Guerra Mundial na Rússia.
As suas buscas são conduzidas nos locais das batalhas mais sangrentas como, por exemplo, na região de Leningrado. Lá, grupo Ingria já foi capaz de localizar, ao longo de 37 expedições, 2227 restos mortais de soldados e oficiais do Exército Vermelho.
“Há 13 anos me ocupo com buscas organizadas. Tenho a sensação de que essa guerra, da qual eu não participei, sempre existiu dentro de mim. Minha infância se passou nas proximidades de Leningrado, naqueles lugares onde tinham ocorrido os combates. E nós também, naturalmente, sempre brincávamos de guerra”, disse à Gazeta Russa o líder da equipe, Evguêni Ilin.
Depois de ter cumprido o serviço militar obrigatório, Ilin ingressou na faculdade de História da Universidade de Leningrado e, em 2000, já como professor da Faculdade de História da Universidade Federal de São Petersburgo, reuniu um pequeno grupo de busca constituído por alunos das faculdades de História e Química.
“A principal diferença entre o grupo de busca oficial e os saqueadores está no objetivo da busca. O nosso objetivo é muito modesto: encontrar os combatentes, enquanto que eles são movidos apenas pela ganância”, revela o professor, que hoje com a ajuda de 36 pessoas para realizar os trabalhos.
Na região de Kirov, onde estão sendo realizadas as buscas atuais, morreram, aproximadamente, 120 a 130 mil pessoas. No entanto, apenas 37 mil pessoas, incluindo as valas comuns, são oficialmente consideradas sepultadas.
“Na última expedição, no Outono de 2012, encontramos no pântano um tanque destruído por uma explosão. Eu disse ao pessoal que o mais provável é que a infantaria vinha correndo atrás do tanque. De fato, perto do tanque encontramos vinte e cinco soldados mortos. Três deles tinham medalhões de identificação, mas por eles terem permanecido muito tempo imersos no pântano, dois medalhões estavam ‘perdidos’. Mas num deles foi possível ler a identificação e até conseguimos encontrar os parentes do soldado morto”, conta Ilin.
Quando conseguem encontrar um medalhão e é possível ler o nome do soldado, os membros do grupo de busca sentem uma alegria imensurável. “Isso significa que mais um soldado morto conseguiu escapar da obscuridade. E se ainda conseguimos encontrar os parentes, então, não há limite para a satisfação moral”, acrescenta o pesquisador.
O grupo também mantém contato estreito com os alemães e, inclusive, já foram realizadas várias excursões para estudantes germânicos. “Se encontramos restos mortais de um alemão, dizemos: ‘pessoal, aqui está um câmara seu’. E vice-versa”, narra Ilin.
Quando o grupo Ingria encontra um soldado morto da Wehrmacht, seus restos mortais são transferidos para a União do Povo Alemão para que seja feito o sepultamento no Sologubovka, o maior cemitério do mundo para os soldados alemães fora da Alemanha. Atualmente, esse cemitério situado na região de Kirov possui cerca de 82 mil soldados alemães enterrados.
De acordo com os dados recentes do Ministério da Defesa russo, cerca de 1,5 milhão soldados mortos não foram sepultados. Acredita-se que os restos mortais poderiam ser encontrados em antigos campos de batalha que vão do Vale da Morte, em Murmansk, até Berlim. Ao longo de todo o tempo de trabalho dos grupos de busca foram encontradas e enterradas cerca de 450 mil pessoas.
Segundo Ilin, “nunca vamos conseguir encontrar o último soldado, mas é nosso dever fazer todos os esforços para que isso seja feito.
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