"Moscou precisa ser transformada em cidade"

A exposição internacional MIPIM aconteceu de 12 a 15 de março Foto: Getty Images / Fotobank

A exposição internacional MIPIM aconteceu de 12 a 15 de março Foto: Getty Images / Fotobank

Às vésperas do evento imobiliário internacional “MIPIM”, o renomado arquiteto moscovita Serguêi Kuznetsov falou à Gazeta Russa sobre a criação de um espaço urbano aconchegante, projetos destinados à capital russa e qualidade de vida para os cidadãos.

Gazeta Russa: Você vai representar Moscou na exposição profissional de imóveis MIPIM. Conte-nos um pouco mais sobre sua participação.

Serguêi Kuznetsov:Temos dois stands na MIPIM: um deles é dedicado ao desenvolvimento da cidade e outro, a projetos de investimento. Entre os trabalhos apresentados, existem aqueles que   despertam um sentimento de orgulho, como é caso do projeto de renovação da área industrial que pertencia à montadora de automóveis ZIL. Trata-se de um vasto território às margens do rio Moscou, cuja concepção original foi criada pelo escritório de arquitetura Meganom há mais de um ano, e que passou a ser executado pelo Instituto Genplan nos últimos meses. O objetivo desse instituto, onde exerço a função de arquiteto chefe, é promover uma profunda renovação da área, reduzir consideravelmente as áreas de produção, desenvolver a rede rodoviária e o sistema de transporte público, além de construir casas, escritórios, complexos culturais e esportivos.

GR: Você citou o desenvolvimento da cidade. O que acha sobre o desenvolvimento de Moscou?

SK: Moscou precisa ser transformada em cidade, no sentido pleno da palavra. Uma cidade revela um estilo de vida. O ideal é viver em uma casa que se diferencie das demais, com um jardim acolhedor, por exemplo, além de oportunidades de lazer. As funções que caracterizam  uma cidade e a distinguem de uma aldeia devem ser explícitas. Mas Moscou não é uma cidade assim. Se você entra em alguma cidade-dormitório, logo percebe que, tirando as oito horas de sono, a vida parece impossível nas dezesseis horas restantes do dia. Quando se vive em uma parte da cidade onde não é possível realizar todas as funções sociais, necessárias para a vida, isso indica que a cidade inteira está “doente”.

GR: Existem exemplos ou algum tipo de experiência em que Moscou poderia se basear?

SK: Todas as cidades são únicas, mas existem bons exemplos. Quando as duas partes de Berlim foram unificadas, no lugar do muro foi construído um novo centro, quase do zero. Outro exemplo é a cidade alemã de Hamburgo, onde uma enorme área industrial foi reorganizada e transformada no distrito de HafenCity.

Pequim também passou por sérias mudanças. Na periferia da capital chinesa, cada quarteirão abriga uma mistura de edifícios de escritórios, hotéis, centro de esportes e lojas nos andares térreos. Shanghai, por sua vez, desenvolveu a área de Pudong de forma bem semelhante à nossa Moscou City, isto é, um terreno baldio ocupado por prédios.

GR: Moscou também utiliza serviços de escritórios de arquitetura estrangeiros? Eles podem participar de licitações públicas? 

SK: Os clientes do Estado praticamente não utilizavam arquitetos estrangeiros até recentemente, quando houve um concurso para a megalópole. Os investidores privados trabalham cada vez mais com arquitetos estrangeiros, mas o destino dos projetos é complicado.

GR: Por quê?

SK: Aqui não existe a cultura da escolha. A qualidade da arquitetura ocidental é, hoje, muito melhor. E o mercado entende que há um risco de os arquitetos ocidentais assumirem a maioria dos pedidos. Portanto, o próprio mercado acaba defendendo os interesses dos profissionais nacionais. Mas eu considero que isso é feito de forma excessiva e a ausência de procedimentos adequados se tornou uma norma. Vemos um grupo bastante restrito de arquitetos que, nos últimos 15 anos, monopolizaram o mercado. Na falta de concorrência, restou a ideia de que os estrangeiros não devem se aproximar, assim como os jovens. Essa é exatamente a situação que venho combatendo ativamente.

GR: As ciclovias de Moscou são um dos temas mais debatidos hoje em dia. As autoridades apoiaram a construção dessas vias, os jovens urbanistas fazem delas a sua bandeira e muitos acreditam que elas sejam a solução para todas os males da cidade. Porém, elas só podem ser utilizadas durante 5 meses por ano, na melhor das hipóteses...

SK: Existem diversas cidades no Canadá e nos EUA que possuem ciclovias e o clima é muito semelhante ao nosso. Ainda assim, as pessoas usam bicicleta. É uma ilusão dizer que não é possível pedalar por causa do tempo. Basta motivação e astúcia para saber quando vale a pena usar a bicicleta em vez de pegar o carro, mesmo sendo inverno.

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