Fotos: Mikhail Mardasov
Duzentas delegações de dezenas regiões da Rússia e de mais de dez países, inclusive da Alemanha, 1.200 convidados e cerca de 20 mil moradores chegaram na manhã do último sábado (2) ao Memorial de Volgogrado (antiga Stalingrado) para homenagear a memória dos soldados que perderam suas vidas para defender a cidade durante a Segunda Guerra Mundial e foram enterrados ali, em uma vala comum.
Quando dizem que Volgogrado foi construída sobre os ossos é verdade. A vala comum se encontra em pleno centro da cidade, na Alameda dos Heróis, em um local marcado por um memorial e pela chama eterna.
Aqui, em uma enorme necrópole, no Mamaev Kurgan (o Monte Mamaev), ao pé da estátua "Pátria-Mãe Chamando", jazem os restos mortais de 36 mil defensores de Stalingrado encontrados na cidade durante as obras de reconstrução do pós-guerra.
Entre os moradores que prestigiaram o evento do último sábado, estava o casal Oleg e Natalia Medvedev, ao lado dos filhos.
"O Dia da Vitória na Batalha de Stalingrado tem uma relevância especial para nossa família", diz Oleg.
"Um de meus avôs, Fiodor Dedovich, lutou no Mamaev Kurgan. Sua batalha durou duas horas, até que ele foi ferido e levado para o hospital na margem esquerda do rio Volga. Posteriormente, chegou lutando até Berlim. Ele foi morto nos arredores de Leningrado. Portanto, essa festa é um motivo de alegria e orgulho especial para nós", completa Oleg.
O orgulho invadiu também todos aqueles que tiveram a oportunidade de assistir a um desfile envolvendo 650 militares do Comando Militar do Sul e cadetes da Academia Policial local e do Corpo de Cossacos.
O desfile foi precedido pela cerimônia de incorporação da réplica da Bandeira da Vitória e pela entrada dos estandartes de quatro frentes envolvidas na Batalha de Stalingrado. A guarda de honra perfilada no local vestia os mesmos uniformes usados pelos soldados soviéticos, que, há 70 anos, fizeram prisioneiro o marechal de campo Friedrich Paulus. Isso aconteceu a 100 metros do local das atuais solenidades.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as frentes não tinham seus próprios estandartes –eles foram criados no pós-guerra para solenidades. Já as bandeiras reais das unidades do Exército Vermelho envolvidas na Batalha de Stalingrado são guardadas na Sala do Triunfo do Museu-Panorama Batalha de Stalingrado.
A primeira e única vez que elas saíram da Sala do Triunfo foi no último dia 2, quando foram levadas para a sala onde o presidente Vladímir Pútin se reunia com veteranos de guerra.
"A vitória de nossas tropas em Stalingrado é um dos mais brilhantes exemplos de coragem e heroísmo na história militar", disse Pútin na reunião.
"A coragem dos defensores não teve precedentes. A vitória na Batalha de Stalingrado teve um grande impacto militar e psicológico, simbolizando o triunfo do patriotismo sobre o ódio, a raiva e a agressão. A Batalha de Stalingrado será sempre um símbolo da invencibilidade e da unidade do povo russo", disse Pútin.
Ao se referir ao papel dos moradores da cidade, o presidente disse:
"Quando vejo fotos antigas daquela época, sempre me ocorre a pergunta: onde os moradores da cidade se abrigavam naqueles dias? Onde eles viviam? Será que era possível viver nessas ruínas? Eles não só viviam, mas também trabalhavam e lutavam. Os moradores de Stalingrado deram uma contribuição inestimável para a vitória".
Cidade em chamas
"Parecia que não havia mais nada a arder, mas tudo estava em chamas e os ataques não paravam", relembra Anastasia Birukova.
Natural de Stalingrado, Birukova foi lutar na guerra aos 17 anos, logo após concluir o curso secundário, em junho de 1942. Foi operadora de rádio da 116ª Divisão de Infantaria do 66º Exército, que libertou a parte norte da cidade. Depois, lutou em Kursk, Belgorod, Orel, Kharkov e na Romênia.
"Passaram-se 70 anos, mas sempre me sinto muito feliz no dia 2 de fevereiro!", afirma Birukuova.
Mostra
Nesses dias o Museu-Panormama Batalha de Stalingrado apresenta uma exposição de pertences reais de defensores da cidade, entre os quais uniformes e armas, troféus, utensílios do cotidiano e documentos de identidade.
Aleksandra Batiuchkova foi daqueles que ajudaram a criar a exposição.
"Meu pai lutou em uma canhoneira no Volga", diz Batiuchkova.
"Ele não gostava de falar sobre a guerra, e nós, suas filhas, éramos demasiadamente pequenas para insistir. Mas conservamos suas fotos e condecorações militares, entre as quais as medalhas de defesa de Stalingrado e de Sevastopol", completa.
"Sabemos muito pouco sobre a história das canhoneiras", diz Svetlana Argastseva, chefe do departamento de exposições do Museu Batalha de Stalingrado.
"Projetadas para apoiar a infantaria com tiros de canhão a partir da água, essas embarcações levavam canhões leves e estavam sempre na linha de fogo, razão pela qual sofriam perdas pesadas em homens. Por isso, as informações que recebemos dos arquivos particulares são especialmente valiosas", salienta Argastseva.
Um dos principais presentes para os veteranos de guerra e crianças de Stalingrado foi um concerto do famoso cantor de ópera Dmítri Khvorostóvski. Acompanhado por uma orquestra sob a batuta do maestro Konstantin Orbelian, ele interpretou canções dos anos da Segunda Guerra Mundial.
"Cresci com histórias sobre a guerra, que atingiu também nossa família. Deve ser por isso que compartilho a dor de outras pessoas. Um de meus avôs lutou na Batalha de Moscou e foi morto em um dos primeiros combates. Meu outro avô foi tanquista. Chegou lutando até Königsberg. Em seguida, foi transferido para o Extremo Oriente. Ele teve sorte em sobreviver", disse Khvorostóvski.
"Interpretar canções dos anos de guerra é um desafio e responsabilidade muito grandes. O sentimento de dor e compaixão me ocorre toda vez que canto essas canções, independentemente do lugar onde estou. Apresentei essa programação em muitas cidades e países. Em todos os lugares a reação foi a mesma: as pessoas choravam, se levantavam e se solidarizavam com o conteúdo das canções. Esse é um fenômeno inédito, que não sei explicar", disse Kvorostóovski.
As comemorações culminaram com 30 salvas de fogo de artifício no Mamaev Kurgan, em homenagem àqueles que defenderam a cidade, o país e o mundo.
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