Menino de bicicleta observa caminhão de ajuda humanitária destruído.
ReutersNa noite da última segunda-feira (19), uma coluna de ajuda humanitária da ONU ficou sob fogo armado no noroeste de Aleppo, na Síria. Como resultado, 20 pessoas morreram e foram destruídos 18 dos 31 caminhões com provisões e medicamentos para os moradores da cidade ocupada.
Não se pode, porém, precisar se foram aviões russos que abriram fogo contra o comboio. Militares americanos dizem que apenas os aviões das Forças Aéreas da Rússia ou da Síria poderiam fazê-lo. Os porta-vozes oficiais russos, porém, negam.
Duas fontes do governo norte-americano afirmaram à Reuters que dois bombardeiros Su-24 abriram fogo contra o comboio. Seus nomes não foram, porém, divulgados, assim como evidências que provem sua afirmação.
The United States is outraged by reports that a humanitarian aid convoy was bombed near #Aleppo today. pic.twitter.com/yCurP3rwUV
— John Kirby (@statedeptspox) September 20, 2016
"Acreditamos que o governo russo seja responsável pelo ataque aéreo nessa área, considerando sua lealdade ao regime de cessar-fogo", disse o conselheiro do presidente Barack Obama para comunicações estratégicas em defesa, Ben Rhodes.
Como ressaltou o porta-voz oficial da diplomacia dos EUA, John Kirby, Washington "está furiosa" com o ocorrido.
"O governo de Assad e a Federação Russa sabiam sobre o trajeto da coluna. Os funcionários da missão da ONU foram mortos por seu ímpeto em ajudar o povo sírio", disse o diplomata.
Segundo ele, após o incidente os EUA reverão as relações com a Rússia.
Resposta russa
O Ministério da Defesa da Rússia repudiou a versão do fogo aberto contra a coluna de ajuda humanitária da ONU. Os funcionários da pasta não verificaram no local crateras de bombas aéreas, e os veículos permaneceram sem danos ou rachaduras causadas por uma onda explosiva.
Vídeo registrado por drone do movimento do comboio humanitário por território dos combatentes em Aleppo. Fonte: YouTube/Ministério da Defesa da Rússia
Ainda de acordo com o órgão, os veículos teriam pegado fogo e, "de maneira estranha", esse teria começado no momento de uma ofensiva de grandes proporções dos combatentes do Jabhat al-Nusra em Aleppo a partir dessa direção.
Em imagens de drone do Ministério, também se vê o movimento da coluna no território rebelde é acompanhado de uma picape com um lança-foguetes de grande calibre.
"E o mais importante é onde foi parar esse lança-foguetes próximo ao ponto final de acompanhamento da coluna de carros e para onde abriu fogo durante a parada e abastecimento?", disse à imprensa o porta-voz da pasta, general-major Ígor Konashenkov, na última terça-feira (20).
As Forças Aéreas da Síria também não poderiam atacar a missão da ONU em Aleppo, jpa que não realizam voos quando já está escuro, de acordo com o chefe do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguêi Lavrov.
Para a pasta, os responsáveis pelas mortes dos funcionários da missão humanitária da ONU são combatentes da Jabhat al-Nusra.
"O bairro onde o comboio humanitário da ONU se encontrou sob fogo está 20 quilômetros a noroeste da cidade e sob o controle dos combatentes do Jabhat al-Nusra", diz o analista militar Víktor Murakhóvski.
Para uma análise mais efetiva, porém, seria necessário enviar um especialista ao local do ocorrido.
Os caminhões podem ter sido ainda destruídos por mísseis com uma ogiva em um cilindro de gás embalado com pregos, parafusos e porcas, arma amplamente utilizada nos combates na Síria.
"A ogiva é lançado de um tubo ou tripé comum, serrado e preparado coletivamente", diz o analista.
Consequências
Por ora, pode-se esquecer da resolução pacífica da situação na Síria, de acordo com Ígor Korotchenko, editor-chefe da revista "Natsionálnaia oborona" (do russo, "Defesa Nacional").
O fogo aberto contra o exército sírio por aeronaves das Forças Aéreas dos EUA em Deir-ze-Zor e o ataque à missão da ONU conduzem a uma nova guerra da informação entre Moscou e Washington.
"Entramos em uma nova espiral da crise síria, que ameaça crescer e virar uma guerra mediada pelos EUA e pela Rússia", diz o cientista político russo Fiódor Lukianov, editor-chefe da revista "Rossia v globalnoi politike" (do russo, "Rússia na Política Global").
Para ele, Moscou e Washington se contraporão em nome dos grupos por eles patrocinados na Síria.
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