Kerry (esq.) e Lavrov reunidos em Genebra na sexta-feira passada (9)
Reuters/Kevin LamarqueA rodada de negociações de 14 horas entre o chanceler russo, Serguêi Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, foi considerada um avanço para a resolução da questão síria, mas também levanta dúvidas sobre os resultados práticos.
Em primeiro lugar, foi anunciado um novo cessar-fogo a partir desta segunda-feira (12) envolvendo todas as forças em atuação no país, exceto os grupos terroristas.
Além disso, os dois países vão estabelecer um centro conjunto distinguir atos perpetrados por terroristas e pela chamada oposição moderada, coordenar a entrega de ajuda humanitária e organizar ataques contra os extremistas.
Confiança sem precedentes
Para a Rússia, que mantém apoio ao presidente sírio Bashar al-Assad, e os Estados Unidos, a favor de uma mudança de governo no país, não foi fácil chegar ao acordo.
Embora o encontro de sexta-feira (9) entre Lavrov e Kerry, em Genebra, tenha sido o quinto desde o início do verão de 2016, esta última reunião pode ser vista como um marco importante na crise síria, segundo Serguêi Karaganov, decano da Faculdade de Economia e Política Global da Escola de Economia.
“A Rússia propôs várias vezes coordenar ações na Síria, mas os EUA descartavam a possibilidade”, disse Karaganov a Gazeta Russa. “E, agora, pela primeira vez, serão coordenadas ações militares e de outros tipos.”
De acordo com o cientista político, a disposição demonstrada por Moscou e Washington indica que o cessar-fogo de 12 de setembro tem mais chances de vingar do que as tentativas anteriores, “como ocorreu em 27 de fevereiro”.
Longo caminho
Apesar do evidente avanço, especialistas destacam que o pacto entre a Rússia e os Estados Unidos não garante a interrupção da guerra civil na Síria, em que estão envolvidos muitos países e grupos, entre eles Turquia, Irã, Arábia Saudita e curdos.
“Por enquanto não existe nenhum acordo documentado entre as partes em conflito garantindo que elas estão dispostas a aceitar o que nós concordamos com os norte-americanos”, explica Vladímir Akhmedov, pesquisador sênior no Instituto de Estudos Orientais da Academia Russa de Ciências.
Como próximo passo, segundo o acadêmico, é preciso fortalecer o acordo alcançado por Moscou e Washington, aprovando uma resolução no Conselho de Segurança da OTAN com apoio, sobretudo, dos países do Oriente Médio envolvidas na questão.
“Se a Rússia e os EUA atuarem sozinhos, o processo de paz poderia ser estendido também”, diz Akhmedov, antes de acrescentar que seria um erro dos dois países “pensar que poderão resolver o problema sem a participação de forças regionais”.
Guerra imprevisível
Karaganov acredita, porém, que as negociações entre as partes em conflito será longa e difícil. “A qualquer momento pode ocorrer algo inesperado”, explica.
Entre as dificuldades ressaltadas também por Akhmedov estão a campanha militar da Turquia no norte do Iraque e a participação de tropas iranianas, Hezbollah e outras forças estrangeiras.
“Os esforços da Rússia e dos Estados Unidos devem abordar não só a eliminação de terroristas, mas também a retirada de todas as tropas estrangeiras do país”, sugere.
Sucessor de Obama
Outro fator que poderá influenciar o resultado do conflito sírio é a mudança no governo dos EUA após a saída de Barack Obama.
A nova administração, destaca Karaganov, seguirá uma campanha eleitoral que, pela primeira vez no século 21, está muito focada na oposição à Rússia, o que poderia prejudicar o diálogo entre Moscou e Washington sobre a questão síria.
Opinião semelhante é também exposta por Akhmedov. “A política externa dos EUA pode mudar depois das eleições e, se os acordos sobre a Síria não forem consolidados legalmente, podem acabar sendo esquecidos”, arremata.
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