Kerry (esq.) e Lavrov seguem para coletiva de imprensa, após 12 horas de reunião
Reuters“Não conseguimos bater um novo recorde de duração de negociações”, brincou o chanceler russo Serguêi Lavrov, durante a entrevista coletiva que seguiu a reunião com o seu homólogo norte-americano, John Kerry, em Genebra, na sexta-feira (26).
As conversações, que duraram 12 horas (uma a menos que a realizada em julho), foram também descritas como “longas e construtivas” por Kerry.
Ambos os lados reforçaram a necessidade de romper o impasse na implementação dos Acordos de Minsk, assim como a normalização das relações Moscou-Washington.
No entanto, a maior parte da reunião gerou em torno da questão síria, motivo pelo qual o encontro foi também acompanhado pelo enviado especial da ONU Staffan de Mistura.
Separando oposição de terroristas
Segundo Lavrov, os EUA apresentaram à Rússia, pela primeira vez desde o início das negociações, uma lista de grupos no conflito considerados “moderados” e que teriam aderido ao cessar-fogo. A iniciativa vai na contramão das críticas de Moscou sobre a incapacidade de Washington de separar a “oposição moderada” dos terroristas.
“O fato de que os norte-americanos terem apresentado suas listas mostra que eles também percebem a necessidade de separar grupos moderados dos terroristas, o que nunca foi feito neste conflito”, avalia o observador Fiódor Lukianov, editor-chefe da revista “Russia in Global Politics”.
Segundo o analista, a apresentação das listas são o primeiro, mas também um passo importante no sentido de separar grupos de oposição de terroristas, sem os quais não pode haver solução política. “O principal é que a noção de inimigo comum se solidifique”, completa.
“É um processo complexo”, diz o acadêmico árabe Leonid Isaiev, professor sênior do Departamento de Estudos Políticos da Escola Superior de Economia. “Vejam o exemplo da Frente al-Nusra, ela está mudando seus nomes, adaptando-se, está cooperando estreitamente com grupos formalmente moderados”, explica.
Durante a coletiva, Lavrov reforçou se tratar de uma tarefa difícil, mas destacou a necessidade de abordagem e disposição da Rússia em ajudar os Estados Unidos.
Entre turcos e curdos
Em suas declarações, os dois diplomatas também abordaram a questão curda. Enquanto Lavrov disse que ser inaceitável usar os curdos (que buscam estabelecer um Estado próprio) para fragmentar a Síria, Kerry destacou que os EUA trabalham com as forças curdas de forma “bastante limitada”.
Já em relação à operação militar lançada pela Turquia esta semana no norte da Síria, onde Ancara luta não só contra o Estado Islâmico (EI), mas também contra as forças curdas, a posição dos ministros parecem de ‘apoio à Turquia”, observam os analistas.
“É evidente que tanto a Rússia como os EUA, após as recentes mudanças nas relações com a Turquia, estão se distanciando dos curdos”, diz Lukianov. Segundo ele, na tentativa de constituir uma cooperação com a Turquia na Síria, ambas as potências estariam dispostas a limitar seus contatos com os curdos.
Paralelamente, Moscou e Washington não têm intenção de cortar relações com os curdos por completo, segundo Isaiev, para quem os EUA estaria tentando agir como um intermediário entre os seus dois aliados na região: os curdos e a Turquia.
“Os EUA estão dizendo o que Erdogan gostaria de ouvir a fim de acalmá-lo. Mas isso não significa que eles estão abandando sua cooperação com os curdos”, diz. “O mesmo se aplica à Rússia.”
Diálogo por diálogo
Apesar das conversações intensas de sexta-feira, não houve assinatura de qualquer documento nem anúncio sobre uma nova rodada de conversações abrangentes como parte do processo de Genebra (a última rodada dessas conversas, envolvendo todos os lados do conflito na Síria, aconteceu em abril).
No entanto, os contatos permanentes entre Lavrov e Kerry sobre a questão síria são de extrema importância, apontam os especialistas.
“As relações bilaterais entre a Rússia e os EUA, em geral, são ruins no momento. O fato de que Lavrov e Kerry continuam as tentativas de desembaraçar o nó sírio, apesar do atual estado das relações, é a principal boa notícia”, diz Lukianov.
“Sem que a Rússia e os EUA mantivessem contatos constantes sobre a questão síria, a situação poderia ter desencadeado um confronto direto na região entre duas potências nucleares”, arremata o observador russo.
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