Moradores entre escrombos no vilarejo de Kafr Hamra, na região norte de Aleppo
ReutersApós a libertação de Palmira, em março deste ano, as Forças Armadas russas e o exército de Bashar Assad precisaram fazer uma escolha: atacar a capital síria do Estado Islâmico, Al Raqqa, no leste do país, ou se concentrar na liberação de Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, onde o conflito já dura mais de quatro anos.
Os acontecimentos dos últimos três meses mostram que a Rússia e seus aliados sírios escolheram a segunda opção.
No início de junho, o exército sírio realizou um ataque na província de Al Raqqa, mas não conseguiu alterar a situação na cidade.
Em seguida, Damasco e Moscou finalmente decidiram concentrar forças em Aleppo e deixaram Al Raqqa nas mãos da coalizão ocidental e de seus aliados das forças democráticas na Síria, formadas principalmente por curdos.
"A Stalingrado síria"
O presidente do Instituto do Médio Oriente da Rússia, Evguêni Satanóvski, acredita que Rússia e Assad tomaram a decisão correta, uma vez que, tomado o controle sobre Aleppo, todo o norte do país poderá ser liberado.
"Aleppo é a chave para parar a guerra. Obviamente, após a liberação dessa cidade, será preciso limpar a província de Idlib e confrontar o Estado Islâmico em Al Raqqa, mas o significado de Aleppo é comparável com o de Stalingrado durante a Segunda Guerra Mundial”, disse Satanôvski.
O pesquisador do Instituto de Estudos Orientais da Academia das Ciências da Rússia, Vladímir Akhmetov, também acredita que a decisão de evitar o conflito direto em Al Raqqa foi uma decisão acertada.
"A operação em Al Raqqa é basicamente a continuação da guerra dos Estados Unidos contra o Estado Islâmico no Iraque", disse.
"A invasão irresponsável dos EUA no Iraque em 2003 involuntariamente contribuiu para a criação do Estado Islâmico. É bastante lógico que os norte-americanos estejam tentando resolver a situação, inclusive em Al Raqqa", explicou Akhmetov.
Segundo ele, hoje, o exército sírio não tem recursos necessários para manter a guerra ativa em duas frentes.
Em Aleppo
Em Aleppo as tropas de Assad estão enfrentado as forças da milícia islâmica Jabhat al-Nusra, que, segundo Satanôvski, não se diferem dos jihadistas do Estado Islâmico.
O Ministério da Defesa da Rússia compartilha dessa visão, e está criticando os Estados Unidos pelo não fornecimento de listas dos grupos da “oposição moderada”.
"Nossos colegas norte-americanos ainda não enviaram as coordenadas das áreas onde estão localizadas as forças da oposição moderada”, declarou em julho o ministro da Defesa da Rússia, Serguêi Choigu.
Os especialistas afirmam que o resultado da batalha por Aleppo permanece obscuro.
No final de julho, o exército sírio conseguiu estabelecer controle sobre diversos bairros da cidade e cortar as fontes de abastecimento dos terroristas.
Mas, no início de agosto, os radicais islâmicos conseguiram escapar do cerco.
Ajuda humanitária
No final de julho, o ministro da Defesa russo, Serguêi Choigu, anunciou o início do fornecimento de ajuda humanitária a Aleppo.
Em 28 de julho, foram abertos corredores humanitários para permitir que civis e milícias deixem a cidade.
No mesmo dia, Assad garantiu anistia para todos os combatentes que estivessem dispostos a baixar as armas.
Durante a última semana, a Rússia enviou mais de 18 toneladas de alimentos e medicamentos para Aleppo.
A ajuda humanitária é distribuída entre os moradores em pontos especiais dentro da cidade e é fornecida por helicópteros.
Vladímir Akhmedov acredita que essas ações não vão contra a estratégia da Rússia na Síria.
"O objetivo principal é salvar as instituições do Estado que devem se tornar a base para a reconstrução do país. As iniciativas humanitárias ajudam a restaurar a unidade do Estado”, diz Akhmedov.
Impasse de Genebra
Após a retomada da ofensiva em Aleppo, Barack Obama acusou a Rússia de apoio a um "regime assassino".
O vice-chanceler russo, Serguêi Riabkov, respondeu que entre a Rússia e os EUA há "desacordos conceituais" sobre a Síria, enquanto Washington quer derrubar Assad a qualquer preço e não fez nada para resolver o conflito no país.
"Obviamente, o processo de Genebra está em um impasse. Mas isso não é novidade”, diz Satanôvski.
“Seu único objetivo é declarar posições e argumentos diametralmente opostos. As partes mostram que conseguem manter o diálogo para não brigar feio”, completa Satanôvski.
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