Emir do Qatar, Tamim bin Hamad al Thani
ReutersSeis países – Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito, Iêmen e Maldivas –, bem como o governo provisório da Líbia, cortaram relações diplomáticas com o Qatar sob alegação de apoio a terroristas, inclusive do Estado Islâmico.
A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein deram a todos os cidadãos qatarianos o prazo de duas semanas para que deixem o território de seus países. O Ministério das Relações Exteriores do Qatar declarou “lamentar” as ações.
Fator iraniano
“O ataque ao pequeno e rico Qatar (sua riqueza de hidrocarbonetos o coloca em terceiro lugar no mundo em reservas de gás natural) está vinculado ao confronto exacerbado entre a Arábia Saudita e o Irã”, diz Grigôri Kosatch, professor do departamento de Estudos Orientais Modernos na Universidade Estatal Russa de Humanidades. “Os sauditas veem Teerã como o grande mal do Oriente Médio e tentam criar uma aliança de países árabes para combater a ameaça iraniana.”
A decisão do governo qatariano de seguir uma política independente resultou na quebra de relações diplomáticas, sugere o professor.
“As declarações [recentes] do emir do Qatar, Tamim bin Hamad al Thani, de que o Irã é uma importante potência regional e que seu papel deve ser levado em consideração, foram condenadas na capital saudita”, acrescenta Kosatch.
As autoridades de Doha descreveram, mais tarde, as declarações do emir como “notícias falsas”, mas isso diminuiu a ira dos sauditas, aponta Anton Mardasov, do Instituto de Desenvolvimento Inovador, em Moscou.
Vista aérea de embaixadas e consulados em Doha (Foto: Reuters)
“Sobretudo porque o Qatar coopera com o Irã , inclusive na Síria, onde os países estão negociando um intercâmbio de presos entre xiitas e sunitas”, ressalta Mardasov.
Em visita oficial a Riad, em 24 de maio, o presidente americano Donald Trump deu apoio à Arábia Saudita e destacou o Irã como principal ameaça para o Oriente Médio. “A visita, é claro, inspirou a elite saudita e deu-lhe nova esperança”, diz Kosatch.
Relações problemáticas
O histórico das relações Moscou-Doha é marcado por dificuldades.
Em 2004, dois agentes dos serviços especiais russos assassinaram Zelimkhan Yandarbiyev, um dos líderes separatistas tchetchenos que se escondia no Qatar. Ambos os agentes foram condenados à prisão perpétua pelas autoridades qatarianas e só puderam retornar à Rússia após longas negociações.
Sete anos depois, outra polêmica surgiu quando o embaixador russo Vladímir Titorenko foi espancado pelos funcionários da alfândega no aeroporto de Doha.
A imprensa relacionou o incidente ao confronto entre a Rússia e o Qatar na Síria, onde Moscou apoia o regime, e Doha, a oposição. Após esse incidente, as relações diplomáticas com o Qatar ficaram estremecidas.
Além dos desentendimentos acerca da Síria, Rússia e Qatar são concorrentes no mercado de gás natural. Há, inclusive, uma teoria de que a guerra na Síria estourou o líder sírio após Bashar al-Assad, aliado da Rússia, barrar o projeto de um gasoduto atravessando o território de seu país – e pelo qual o gás do Qatar chegaria à Europa.
Projeto de gasoduto Qatar-Europa gerou controvérsia (Foto: Reuters)
A maioria dos especialistas, porém, não apoia essa hipótese. Além disso, segundo Mikhail Krutikhin, especialista no mercado de petróleo e gás, não é lucrativo para o Qatar implantar um gasoduto para a Europa via Síria. “Todos os projetos para entregar gás qatariano para a Europa por terra serão menos rentáveis do que remessas de gás liquefeito por mar”, disse Krutikhin, em um artigo para a revista “Forbes”.
Apoio zero
As relações de Moscou com o principal inimigo de Doha na região, a Arábia Saudita, também não são melhores. “A Rússia, em geral, tem relações difíceis com os países do Golfo. “Agora estamos tentando melhorá-las”, afirma Mardasov.
Diante das circunstâncias, o especialistas acredita que não faz sentido a Rússia tomar partido em um conflito que não a afeta diretamente.
A mesma posição é compartilhada por Kosatch. Segundo o professor, a principal preocupação para Moscou no conflito deve ser a de garantir que os desentendimentos não levem a grandes flutuações no mercado de hidrocarbonetos.
“A Rússia não terá benefícios se apoiar qualquer um dos lados”, diz Kosach. “O mais sensato, na minha opinião, seria tomar uma posição de neutralidade absoluta e adotar uma retórica oficial do tipo ‘parem de brigar, pessoal’”, completa.
O assessor de imprensa do Kremlin, Dmítri Peskov, declarou que a Rússia não irá interferir em assuntos internos do Golfo e expressou a esperança de que a situação seja resolvida de forma pacífica. Questionado por jornalistas, Peskov se recusou a comentar as acusações de que o Qatar apoie o terrorismo.
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