Uma compra de quase R$ 300 mil em "acessórios para interior" de um helicóptero da "Rosneft" suscitou debate sobre compras do governo.
Getty ImagesNa última segunda-feira (22), o líder do governo russo, Aleksêi Naválni, divulgou uma compra da gigante do petróleo “Rosneft”, cujas ações de controle são de propriedade do governo russo, no valor de 5 milhões de rublos (quase R$ 300 mil).
As encomendas, publicadas no site da “Rosneft” como “equipamentos de interior” para sua filial, a “RN-Aerokraft”, foram classificadas por Naválni como gastos exagerados sem justificativa.
Da listagem constam, por exemplo, jogos de cálices para vodca a um valor de 11 mil rublos cada (R$ 640) e mantas a 124 mil rublos (R$ 7.200).
“Eles dormem no luxo”, declarou Naválni, relembrando que hoje é de 9.889 rublos (R$ 570) o o custo de vida mínimo na Rússia – um valor calculado no país que soma o valor da cesta básica mínima, saneamento básico etc.
O porta-voz da “Rosneft”, Mikhail Leontiev, disse à rádio “Kommersant FM” que a compra tem valor agregado de imagem.
“Fechar transações bilionárias servindo comida em pratos descartáveis não é muito decente”, disse.
Conhecido por suas declarações ásperas, o porta-voz sugeriu ainda que Naválni se “empanturre com as mãos e limpe com as mangas da camisa”.
No dia seguinte, porém, a “RN-Aerokraft” cancelou a compra. Segundo informação oficial, o fornecedor não cedeu em baratear os preços dos produtos.
Leontiev, por sua vez, aventou que Naválni vendesse à empresa “colheres e pratos mais baratos”.
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Todas as compras de órgãos estatais russos devem ser registradas nos sites de compras governamentais do país. E o que se encontra ali chega a ser curioso, como você poderá ver na lista que compilamos:
1. Fezes do neoclassicismo, R$ 91,5 mil
Em 2013, a administração de Krasnoiársk (3.352 quilômetros a leste de Moscou) decidiu reformar um dos banheiros da prefeitura em estilo neoclássico. “O visitante do banheiro de servidores deve experimentar em tudo um senso de estilo”, escreveu então o jornal regional “Sibnovosti”. O custo dessa maravilha arquitetônica deveria, de acordo com a licitação, ser de 1,6 milhão de rublos (R$ 91,5 mil). Mas o valor causou a ira dos moradores da cidade, e o prefiero, Edkham Akbulatov cancelou a licitação.
2. Tamborileiros do Burundi na ilha Sacalina, R$ 20 mil
Servidores da região federativa da ilha Sacalina, localizada no Extremo Oriente Russo, quase no Japão, desejaram um ano novo em grande estilo em 2010, quando convidaram 5 mestres tamborileiros do Burundi, na África, para a festa da virada. Para suprir passagens e hotéos, eram necessários 340 mil rublos (quase R$ 20 mil). O governador de então da Sacalina, Aleksandr Khorochavin, não deu valor ao exotismo cotado e cancelou a licitação. Sua propensão a economizar o dinheiro público, porém, não foi confirmada, já que ele foi preso em 2015 por receber R$ 18,3 milhões em propinas.
3. Lembrancinha de pedra, R$ 355 por pessoa
Em fevereiro de 2015, a administração da região federativa de Sverdlovsk, com capital em Ekaterimburgo, publicou no site de compras estatais a encomenda de 40 pen drives de 8 Gb decorados com a pedra malaquita, assim como 40 conjuntos para escrever com jásper. A encomenda custou 244,5 mil rublos (R$ 14.200 ). O conjunto de lembrancinhas saiu, portanto, cerca de R$ 355 por pessoa.
4. Jantar com whisky 18 anos nos rincões russos, R$ 174 mil
Em março de 2015, a administração da região federativa de Novosibirsk (2,8 mil quilômetros a leste de Moscou) publicou uma licitação para serviços de uma recepção oficial que somava 3 milhões de rublos (R$ 174 mil). O menu tinha costeleta de cordeiro, “vol-au-vent” com caviar de salmão, whisky 18 anos e “twill” de laranja – esse, segundo noticiou com ironia o jornal “Nezavíssimaia gazeta”, possibilitou que os moradores locais descobrissem pela primeira vez o prato, ainda que a distância. A festança chamou a atenção do projeto “Por compras justas”, e após uma semana o governador da região, Vladímir Gorodetski, cancelou a compra e reduziu seu salário e os de outros funcionários.
5. Carneiro-azul de enfeite, R$ 35 mil
A região budista da Buriátia (com capital em Ulan-Ude, a 4,5 mil quilômetros a leste de Moscou), leva a sério o Ano Novo oriental. Em 2015, a administração da capital encomendou por licitação um símbolo do ano pelo calendário chinês, o Carneiro-Azul, por 600 mil rublos (R$ 35 mil). A organização “Fronte Popular Social” reprovou a ideia, dizendo que o valor podia cobrir os gastos de iluminação de toda uma avenida, e o carneiro era bem modesto. Um ano depois, os funcionários públicos contiveram o apetite: em 2016, a escultura de um Macaco Vermelho luminoso custou à cidade 300 mil rublos (R$ 17,5 mil), mas dessa vez a imprensa também critiou a ideia, chamando-a de “esbanjamento do dinheiro do contribuinte”. Em 2017, a cidade também foi enfeitada com um novo símbolo, um Galo escarlate, que custou os mesmos 300 mil rublos do ano anterior.
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