Funcionários dos órgãos de defesa no local do assassinato do ex-deputado russo Denís Voronenkov, em Kiev.
RIA NôvostiPor volta de meio-dia desta quinta-feira (23), o ex-deputado da Duma de Estado (câmara dos deputados na Rússia), Denís Voronenkov, passava em frente hotel “Premier Palace”, no centro de Kiev, quando começou a ser baleado.
O atirador solitário, de acordo com testemunhas, disparou pelo menos oito balas e matou Voronenkov no local. O guarda-costas de Voronenkov também disparou contra o atirador, e ambos se feriram.
De acordo com o jornal ucraniano “Obozrevatel” (“Observador”), o assassino, nascido em 1988, era procurado pela polícia, e morreu após os ferimentos.
Asilado político ou corrupto?
Voronenkov foi deputado no parlamento russo de 2011 a 2016, mas ainda em 2014 o Comitê Investigativo da Rússia enviou à Duma de Estado um pedido de destituição de sua imunidade parlamentar - o deputado era acusado em grandes casos de corrupção.
No terceiro trimestre de 2016, Voronenkov fugiu da Rússia e, em dezembro, ele e a mulher, a também deputada Maria Makssakova se mudaram para a Ucrânia. A Rússia a anunciou uma busca internacional pelo ex-deputado e decretou sua prisão.
Em Kiev, o ex-deputado recebeu cidadania ucraniana e passou a criticar o governo russo. Ele considerava que as acusações de Moscou tinham caráter político e estavam relaxionadas ao fato de que ele testemunhou à Procuradoria Geral da Ucrânia no caso de traição do Estado do ex-presidente Víktor Ianukóvitch.
Na Ucrânia, Voronenkov criticava a integração da Crimeia à Rússia, apesar de ter votado a favor dessa em 2014, e dizia receber convites para integrar os serviços de inteligência ucranianos.
Reação ao assassinato
Logo após o ocorrido, o governo ucraniano acusou a Rússia pelo assassinato de Voronenkov. O presidente Piotr Porochenko caracterizou o evento como “ato de terrorismo” e disse que ver no assassinato “marcas claras dos serviços secretos russos”.
O procurador-geral Iúri Lutsenko ressaltou que o deputado morto deu valiosos testemunhos no caso de Ianukóvitch e que a Rússia realizou uma “execução demonstrativa de testemunha”.
Políticos e funcionários públicos russos rejeitam as acusações. O porta-voz do presidente russo, Dmítri Peskov, disse serem absurdas as declarações e afirmou que a Ucrânia foi incapaz de prover a segurança de Voronenkov. “O assassinato de uma pessoa é sempre uma tragédia”, disse ainda Peskov.
O porta-voz de Pútin disse ter esperanças de que a Ucrânia realize uma investigação completa e objetiva das circunstâncias do assassinato.
Já a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, declarou que, baseando-se nas declarações de Poroshenko, “as investigações não podem ser imparciais e objetivas”. Zakharova tamém apresentou condolências à família do ex-deputado.
Mas a reação mais inesperada foi a da sogra de Voronenkov, Liudmila Makssakova, que disse ao site “Life.Ru”: “Graças ao Senhor! Graças a Deus que no final das contas mataram uma pessoa tão mesquinha”.
Efeito contrário?
O asilado político Iliá Ponomariov, ex-deputado da Duma de Estado que também vive em Kiev e ao encontro do qual ia Voronenkov quando foi morto, também acredita que o assassinato foi planejado pela Rússia.
“O Voronenkov era mortalmente perigoso para os agentes da lei russos”, escreveu Ponomariov em sua página no Facebook.
Já o chefe do instituto russo “Centro Político de Informações”, Aleksêi Múkhin, coloca em dúvida a afirmação. Para ele, os serviços especiaisrussos não tinham interesse em Voronenkov, e o assassinato do político fugitivo no centro de uma cidade de três milhões de pessoas chamaria atenção imediatamente para a Rússia. Isso seria a última coisa que os serviços especiais quereriam, segundo Múkhin.
Para ele, a morte poderia ter sido organizada pelos serviços especiais ucranianos, justamente para que Kiev pudesse acusar o Kremlin. O ponto de vista é compartilhado por muitos políticos russos.
Crime comum
Outra hipótese para o assassinato de Voronenkov está relacionada com seus interesses empresariais.
Nesse ponto, o vice-presidente do Conselho da Federação Para Defesa e Segurança, Frans Klintsevitch relembra as conexões de Voronenkov com negócios ilegais.
“Ele roubou uma quantidade imensa de dinheiro sujo, e isso é sempre perigoso”, disse Klintsevitch à agência de notícias Ria Nôvosti.
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