Morto na última segunda-feira, bilionário fez parte da história dos contatos russo-americanos pós-Guerra Fria.
Getty ImagesMorto na última seguna (20), David Rockefeller ficou conhecido pelo contato estreito que tinha com políticos de todo o mundo. Acredita-se que o bilionário tenha participado pessoalmente de reuniões com pelo menos 200 líderes de 100 países.
Um dos herdeiros do fundador do império de petróleo Standard Oil - que se tornou diretor de um dos maiores bancos dos Estados Unidos, o Chase Manhattan - David Rockefeller manteve, entre anos 1960 e 1970, contatos frequentes com líderes soviéticos.
Em suas memórias, intituladas “Um banqueiro no século 20”, Rockefeller escreveu que, para garantir o crescimento de seu banco, era necessário aprender a interagir com regimes "opostos aos princípios democráticos e à atividade do mercado livre" - mas que controlavam parte considerável do planeta.
O presidente do Conselho de Ministros da URSS Aleksêi Kosiguin (dir.) se encontra no Kremlin com Rockefeller (esq.) em 1973 / Foto: Iúri Ivanov/RIA Nôvosti
Rockefeller conseguiu estabelecer relações com os líderes soviéticos e o Chase Manhattan se tornou o primeiro banco americano a abrir filial na União Soviética.
Conferências de Dartmouth
A primeira filial da Chase foi aberta no centro da capital soviética em 1973. O evento foi precedido por mais de dez anos de contatos frequentes entre o bilionário e representantes do governo da URSS.
Os contatos foram realizados em um formato intitulado “conferências Dartmouth”, realizadas entre os EUA e a URSS a partir da chegada de Dwight Eisenhower ao poder. O objetivo das conferências era estimular as relações entre as duas superpotências durante a Guerra Fria.
Conversa dura com Khruschov
A ideia de organizar uma reunião entre Rockefeller e o líder soviético Nikita Khruschev, de acordo com o bilionário, pertence ao então secretário-geral da ONU, U Thant.
A reunião foi realizada em 1964, quando Rockefeller visitou Leningrado para participar de uma das primeiras conferências de Dartmouth. Khrushchov convidou o bilionário e sua filha para visitar o Kremlin em Moscou.
Segundo Rockefeller, o encontro com Khrushchov foi incomum: "áspero, agressivo, e até hostil”. Rockefeller acusou Khrushchov de organizar,em alguns países da América Latina e da Ásia, mudanças nos regimes com ajuda dos partidos comunistas locais.
O líder soviético respondeu, com irritação, que revoluções acontecem por razões objetivas, e não pela interferência externa. Apesar do caráter duro da conversa, o banqueiro americano não nutriu hostilidade quanto ao líder soviético.
O secretário-geral do Partido Comunista, Mikhail Gorbatchov (esq.) e Rockefeller em recepção na URSS em 1989 / Foto: Viatcheslav Runov/RIA Nôvosti
Rockefeller apoiou a normalização das relações entre os EUA e a URSS, segundo escreveu um dos organizadores das conferências de Dartmouth, Gueôrgui Arbatov, em seu livro “Falcões e Pombos da Guerra Fria”. O pesquisador soviético relembra do bilionário norte-americano como um homem modesto, culto, com uma rápida capacidade de reação e uma mente afiada.
Durante o anos 1970, Rockefeller viajava à URSS quase todos os anos, e se reuniu diversas vezes com o primeiro-ministro, Aleksêi Kosíguin, que queria ampliar os contatos econômicos com os EUA e propunha medidas financeiras revolucionárias.
Rockefeller também se reuniu diversas vezes com Mikhail Gorbatchov, inclusive em 1992, após a queda da URSS, e com o primeiro presidente da Rússia, Boris Iéltisin, que visitou os EUA pela primeira vez em 1989 e participou do Conselho dos Assuntos Externos.
Rockefeller visitou a Rússia pós-soviética apenas uma vez, em 2003, para participar da apresentação de seu livro em russo.
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