Mattis em juramento perante a comissão de serviços armados do Senado americano, no último dia 12, em Washington
ZUMA/Global Look PressAo longo de seus anos de serviço militar, o general James Mattis, que ganhou o apelido de Mad Dog da imprensa, usou uma retórica dura para falar sobre a Rússia. Em passado recente, ele afirmou que os EUA deveriam opor-se ao país em todas as áreas onde os dois fossem incapazes de estabelecer uma cooperação. “Pútin está tentando quebrar o tratado do Atlântico Norte”, disse em uma ocasião, afirmando assim a necessidade de os Estados Unidos darem passos “para defenderem-se onde fosse necessário”.
O que não quer dizer que o general não tenha apoiado o presidente eleito Donald Trump em sua decisão de melhorar as relações com a Rússia.
Teerã e Beijing
O especialista em Estados Unidos Víktor Olevitch salienta que Mattis pertence ao grupo de liderança militar tradicionalmente negativa em relação ao Irã. “Ele serviu na Marinha [US Marine Corps], e os generais desta força, comparados aos das demais Forças Armadas, são conhecidos como os que têm as posições mais contrárias às iranianas. Tudo começou com a explosão de bombas nos acampamentos da Marinha americana em Beirute, Líbano, em 1983. As suspeitas do ataque caíram no Hezbollah e em seu patrocinador, o Irã. Os marinheiros então retiraram-se para os EUA, e sua liderança procura uma desculpa para retaliar desde então.”
Para Olevitch, a China também pode esperar uma posição mais dura nas relações com os EUA daqui para frente. “Os primeiros prenúncios desse novo clima foram a conversa recente pelo telefone entre Donald Trump e o chefe de Estado de Taiwan Tsai In-wen e a escolha do novo líder do National Trade Council, Peter Navarro, autor do livro com o sugestivo título ‘Death by China’”.
Os sentimentos anti-Irã e anti-China do governo Trump, segundo Olevitch, vão impactar as relações russo-americanas. “Tanto Teerã quanto Beijing são parceiros estratégicos da Rússia. “Pode-se esperar que a nova administração americana vai basear uma melhora nas relações com a Rússia na medida da deterioriação das relatções de Moscou com o Irã e a China.”
General x político
Boris Mejuiev, outro pesquisador especialista nos Estados Unidos, afirma que Mattis, como figura política, é uma peça dúbia no time de Trump. “Pode-se esperar que ele tenha sido escolhido para o posto de secretário de Defesa mais por sua carreira militar que por suas posições políticas. Ele é um típico representante do que a propaganda soviética chamava de os ‘provocadores de guerras’”, diz. Mejuiev ainda pontua que é a primeira em muito tempo que um militar é chamado para ocupar a liderança do Pentágono.
“Tradicionalmente, e por um longo período, o departamento de Defesa nos EUA tem sido comandado por um civil, enquanto militares têm ocupado a liderança na posição de Joint Chiefs of Staff. Trump decidiu mudar isso. No entanto, foram sempre os secretários civis que iniciaram novas guerras”, explica. Isso dito, complementa o especialista, Mattis não tem se mostrado um amante da paz, mas o contrário.
Nova ordem mundial
Mejuiev avalia que um chefe militar no Pentágono pode minar a força política do cargo, fazendo com que Mattis pareça menos poderoso que o secretário de Estado Rex Tillerson, que tem uma posição muito mais favorável em relação à Rússia.
Ainda assim, o especialista considera que a administração Trump será difícil para as relações com a Rússia. Para Mejuiev, a estratégia mais correta agora é outra. “As relações com os Estados Unidos ou outros países pode nos custar muito; os sentimentos anti-Irã, anti-China, anti-América Latina na administração Trump são muito fortes. Duvido que Tillerson consiga amenizar tais sentimentos. E, para nós, fazer um plano comum para o futuro do mundo é quase impossível com um governo assim. O melhor agora agora de proteger nossos interesses.”
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