Stoltenberg: “Não queremos confronto, queremos aliviar as tensões”
APO secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, ressaltou, durante uma cúpula em Bruxelas na semana passada, que a aliança ocidental não tem intenção de isolar a Rússia e que sua política em relação a Moscou será a de “diálogo e defesa”.
Na reunião, ocorrida no último dia 7, os líderes da Otan e os ministros das Relações Exteriores do países do grupo assinaram 42 documentos que ampliam a cooperação em várias áreas, incluindo cibersegurança e contra as chamadas ameaças “híbridas”.
A elaboração de uma estratégia eficaz para lidar com a política externa de Moscou foi uma das questões-chave discutidas durante a cúpula.
Posição da Otan
“A Rússia é o nosso maior vizinho (...) e não há como querermos ou tentarmos isolar a Rússia”, disse Stoltenberg após a reunião da Comissão Otan-Ucrânia em nível de ministros das Relações Exteriores.
“Precisamos nos envolver com a Rússia de muitas maneiras diferentes, não apenas no nível da Otan, mas também no de diferentes aliados da aliança”, disse Stoltenberg.
Apesar das declarações, o secretário-geral acredita que as sanções contra a Rússia deverão ser prolongadas. Além disso, quatro batalhões adicionais, cada qual com 800 a 1.200 soldados, serão posicionados nos estados Bálticos e na Polônia com o objetivo de defender a Europa e os países membros da Otan.
Embora, segundo Stoltenberg, a aliança não veja ameaças de segurança provenientes da Rússia, a Otan está preocupada com o aumento das forças militares no oeste do país. “Não queremos confronto, queremos aliviar as tensões”, disse.
Os Estados Unidos decidiram também quadruplicar o financiamento da sua presença militar na Europa.
Posição da Rússia
De acordo com o representante permanente da Rússia na Otan, Aleksandr Gruchko, Moscou não testemunhou mudanças na posição da aliança nem o desejo do grupo de rever suas relações com a Rússia.
“A situação continua se deteriorando; em particular, novas sedes pequenos estão sendo criadas, e há discussões constantes sobre a necessidade de aumentar a presença da Otan no mar Negro. Em última análise, tudo isso contradiz as reais necessidades de segurança da Europa”, disse Gruchko a jornalistas em Bruxelas, após a cúpula.
Segundo o diplomata russo, a “abordagem dual” da liderança da Otan, que combina o diálogo com uma política de dissuasão, está impondo uma nova guerra fria à Rússia.
“É óbvio hoje que a Otan liga seu futuro à defesa de um grande inimigo. E isso está levando a aliança a incitar uma possível ameaça russa”, afirmou Gruchko. “Mas é evidente que a Rússia não possui qualquer plano agressivo em relação à Otan, isso demonstraria falta de bom senso.”
Relações com Trump
Após a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, a expectativa dos russos é que as relações com o Ocidente melhorem. Especialistas do país, no entanto, advertem que é cedo para criar esperança.
“A Rússia deve evitar o que eu chamo de pêndulo de Dostoiévski: oscilando de desespero total para euforia completa, que tem se mostrou particularmente forte no mês passado, após a eleição de Trump e os resultados das eleições em vários países europeus”, diz Víktor Mizin, professor no Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou e vice-diretor do Instituto de Avaliações Estratégicas.
O futuro das relações entre a Rússia e a Otan só ficará claro em fevereiro de 2017, acredita Valéri Garbuzov, do Instituto de Estudos dos EUA e do Canadá em Moscou.
“Não é apenas Moscou que deseja melhorar o relacionamento com a Otan, mas também vários países membros da aliança”, afirma Garbuzov. “Ambos os lados deverão se empenhar em um trabalho mais produtivo, sobretudo se o Conselho Otan-Rússia se reunir no final de 2016, para identificar outras vias de cooperação.”
Segundo Mizin, no entanto, a classe política dominante nos países ocidentais não mudou de posição e continua percebendo a Rússia como problema, e não aliada.
“O sistema não permitirá que Trump busque aproximação com a Rússia”, prevê o professor. “A Otan permanecerá fiel a si mesma: continuará com a política de dissuasão dos últimos anos, aplicada a Moscou, ao mesmo tempo declarando que o Kremlin tenta desenvolver uma estratégia de guerra híbrida”, diz.
Prevenção de incidentes
Para Mizin, Rússia e Otan têm, porém, a oportunidade de evitar incidentes marítimos e aéreos se entrarem em um consenso sobre a instalação de transponders (dispositivo de comunicação) em aeronaves militares.
Essa questão está sendo atualmente negociada pelo representante da Rússia na Otan e pelo vice-secretário-geral da aliança.
“O número de incidentes marítimos e aéreos vem crescendo nos últimos anos. Basta lembrar de como a aviação turca derrubou um bombardeiro Su-24 russo no final de 2015. O principal objetivo é evitar que tais tragédias aconteçam no futuro”, diz Mizin.
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