Soldados do governo iraquiano reunidos nos arredores de Mosul
APQual o resultado preliminar da operação para reconquistar Mosul?
Aso Jangi Burhan Talabani: O início foi bem-sucedido. Mas as coisas estão se desenrolando de forma muito lenta e ainda foram ainda mais agravadas pelos acontecimentos em Kirkuk. Na noite de quinta-feira (20), mais de 100 terroristas, incluindo tchetchenos e nativos do Uzbequistão, invadiram a cidade e tomaram vários edifícios. Desde sexta, há combates pesados em Kirkuk, de onde acabo de voltar. Cerca de 70 pessoas foram mortas, e mais de 200, feridas.
Embora a maioria dos militantes já estejam mortos, o confronto continua. Pelas informações que obtivemos, quase 100 militantes bem treinados chegaram a Kirkuk a partir de Mosul, com o intuito de desviar a atenção da coalizão e todos os outros que estejam envolvidos na operação para libertar a cidade.
O ataque em Kirkuk pegou o peshmerga [forças militares curdas] de surpresa?
A.J.B.T.: Sim. Nos últimos dois anos, a cidade esteve sob controle total dos curdos, e a situação estava bem tranquila. Ninguém esperava um ataque tão repentino.
O que mais está emperrando a operação para libertar Mosul?
A.J.B.T.: Há muitos territórios minados por perto, então, o processo será muito lento. A própria remoção de minas em Mosul vai demorar um bom tempo também. Outro problema é que o Estado Islâmico goza de considerável apoio entre os civis.
Talabani: "EI é tipo de proteção para moradores de Mosul" Foto: Arquivo pessoal
Essa área é predominantemente povoada por sunitas, enquanto o governo iraquiano é dominado por xiitas árabes.
No passado, Sadam Hussein perseguiu intensamente os xiitas. Agora, muitas pessoas em Mosul têm receio de que os xiitas possam se vingar deles, por isso, o EI é um tipo de proteção para eles.
Quantos militantes do EI estão hoje em Mosul?
A.J.B.T .: Entre 4.000 e 5.000.
A ideia é eliminar todos os que apoiam o EI ou haverá negociações com militantes?
A.J.B.T.: Em determinado momento, houve, de fato, a ideia de criar um corredor para permitir que os militantes se retirassem. No entanto, isso já não está mais na agenda, porque Bagdá e a coalizão liderada pelos EUA perceberam que, se esses militantes forem para a Síria, mais cedo ou mais tarde irão voltar ao Iraque e começar a guerra de novo.
Os peshmerga já tentaram conduzir negociações com militantes do Estado Islâmico?
A.J.B.T.: Nunca ouvi falar que os curdos iraquianos tenham tido conversações com terroristas da organização. É impossível negociar com eles. Há apenas uma saída – destruí-los.
Quando, na opinião da liderança do Curdistão iraquiano, a cidade será libertada dos militantes?
A.J.B.T.: É uma questão de várias semanas. Até agora, tudo está correndo conforme o planejado.
Os peshmerga pertencem formalmente à coalizão liderada pelos EUA ou estão agindo como parte das tropas do governo iraquiano?
A.J.B.T.: Os curdos iraquianos atuam de forma independente. Existe um acordo entre o peshmerga e a Otan e entre o peshmerga e o Exército iraquiano. Os curdos só podem operar fora de Mosul. Dentro da cidade, atuam apenas a polícia e as tropas do governo.
No entanto, o Exército iraquiano ainda está longe da cidade. Nós, por conta própria, libertamos várias aldeias.
Retomada de Mosul deve levar "várias semanas", segundo curdo Foto: AP
Quantos curdos iraquianos estão participando da operação?
A.J.B.T.: Mais de 15 mil. Acho que pelo menos metade deles deve voltar a Kirkuk, porque para nós é mais importante defender Kirkuk do que Mosul. Quero salientar que não há um único soldado iraquiano ou norte-americano entre os peshmerga.
No domingo, a Turquia anunciou sua participação na retomada de Mosul. Quais interesses Istambul tem no Iraque?
A.J.B.T.: Suspeitamos que Istambul esteja ajudando alguns grupos militantes. Também é muito provável que os turcos queiram atacar os curdos turcos e sírios, por os considerarem terroristas. Esperamos, sinceramente, que Washington e Bagdá não permitiam essa participação. A Turquia conta com uma enorme base nos arredores de Mosul, que já atua há vários meses. Há cerca de 3.000 militares turcos ali.
Que tipo de armamento o Exército iraquiano e as forças curdas estão usando?
A.J.B.T.: O Exército iraquiano sempre utilizou equipamentos militares soviéticos, mas Bagdá também compra hoje armamento moderno dos EUA. Entre os russos, o governo do Iraque dispõe de caças Sukhôi, e helicópteros Mi-28 e Mi-35. E tem aviões F-16 norte-americanos. As forças curdas não possuem aviação.
Entre os veículos de terra, há tanques soviéticos antigos e blindados Hummer – quase todos equipados com metralhadoras russas e norte-americanas. Já os curdos, usam mais lança-granadas russos e rifles de assalto Kalashnikov.
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