“Estado Islâmico goza de grande apoio entre civis”, diz curdo sobre Mosul

Soldados do governo iraquiano reunidos nos arredores de Mosul

Soldados do governo iraquiano reunidos nos arredores de Mosul

AP
Em entrevista por telefone a partir da cidade de Sulaymaniyah, no Curdistão iraquiano, o representante oficial na Rússia do governo regional do Curdistão, Aso Jangi Burhan Talabani, revelou ao portal Gazeta.ru o que está impedindo a operação para libertar Mosul do Estado Islâmico (EI) e falou sobre o papel de todas as partes envolvidas e o contra-ataque surpresa a Kirkuk, recentemente invadida por militantes do grupo.

Qual o resultado preliminar da operação para reconquistar Mosul?

Aso Jangi Burhan Talabani: O início foi bem-sucedido. Mas as coisas estão se desenrolando de forma muito lenta e ainda foram ainda mais agravadas pelos acontecimentos em Kirkuk. Na noite de quinta-feira (20), mais de 100 terroristas, incluindo tchetchenos e nativos do Uzbequistão, invadiram a cidade e tomaram vários edifícios. Desde sexta, há combates pesados em Kirkuk, de onde acabo de voltar. Cerca de 70 pessoas foram mortas, e mais de 200, feridas.

Embora a maioria dos militantes já estejam mortos, o confronto continua. Pelas informações que obtivemos, quase 100 militantes bem treinados chegaram a Kirkuk a partir de Mosul, com o intuito de desviar a atenção da coalizão e todos os outros que estejam envolvidos na operação para libertar a cidade.

O ataque em Kirkuk pegou o peshmerga [forças militares curdas] de surpresa?

A.J.B.T.: Sim. Nos últimos dois anos, a cidade esteve sob controle total dos curdos, e a situação estava bem tranquila. Ninguém esperava um ataque tão repentino.

O que mais está emperrando a operação para libertar Mosul?

A.J.B.T.: Há muitos territórios minados por perto, então, o processo será muito lento. A própria remoção de minas em Mosul vai demorar um bom tempo também. Outro problema é que o Estado Islâmico goza de considerável apoio entre os civis.

Talabani: "EI é tipo de proteção para moradores de Mosul" Foto: Arquivo pessoalTalabani: "EI é tipo de proteção para moradores de Mosul" Foto: Arquivo pessoal

Essa área é predominantemente povoada por sunitas, enquanto o governo iraquiano é dominado por xiitas árabes.

No passado, Sadam Hussein perseguiu intensamente os xiitas. Agora, muitas pessoas em Mosul têm receio de que os xiitas possam se vingar deles, por isso, o EI é um tipo de proteção para eles.

‘Só há uma saída – destruí-los’

Quantos militantes do EI estão hoje em Mosul?

A.J.B.T .: Entre 4.000 e 5.000.

A ideia é eliminar todos os que apoiam o EI ou haverá negociações com militantes?

A.J.B.T.: Em determinado momento, houve, de fato, a ideia de criar um corredor para permitir que os militantes se retirassem. No entanto, isso já não está mais na agenda, porque Bagdá e a coalizão liderada pelos EUA perceberam que, se esses militantes forem para a Síria, mais cedo ou mais tarde irão voltar ao Iraque e começar a guerra de novo.

Os peshmerga já tentaram conduzir negociações com militantes do Estado Islâmico?

A.J.B.T.: Nunca ouvi falar que os curdos iraquianos tenham tido conversações com terroristas da organização. É impossível negociar com eles. Há apenas uma saída – destruí-los.

‘Até agora, tudo corre conforme planejado’

Quando, na opinião da liderança do Curdistão iraquiano, a cidade será libertada dos militantes?

A.J.B.T.: É uma questão de várias semanas. Até agora, tudo está correndo conforme o planejado.

Os peshmerga pertencem formalmente à coalizão liderada pelos EUA ou estão agindo como parte das tropas do governo iraquiano?

A.J.B.T.: Os curdos iraquianos atuam de forma independente. Existe um acordo entre o peshmerga e a Otan e entre o peshmerga e o Exército iraquiano. Os curdos só podem operar fora de Mosul. Dentro da cidade, atuam apenas a polícia e as tropas do governo.

No entanto, o Exército iraquiano ainda está longe da cidade. Nós, por conta própria, libertamos várias aldeias.

Retomada de Mosul deve levar "várias semanas", segundo curdo Foto: APRetomada de Mosul deve levar "várias semanas", segundo curdo Foto: AP

Quantos curdos iraquianos estão participando da operação?

A.J.B.T.: Mais de 15 mil. Acho que pelo menos metade deles deve voltar a Kirkuk, porque para nós é mais importante defender Kirkuk do que Mosul. Quero salientar que não há um único soldado iraquiano ou norte-americano entre os peshmerga.

No domingo, a Turquia anunciou sua participação na retomada de Mosul. Quais interesses Istambul tem no Iraque?

A.J.B.T.: Suspeitamos que Istambul esteja ajudando alguns grupos militantes. Também é muito provável que os turcos queiram atacar os curdos turcos e sírios, por os considerarem terroristas. Esperamos, sinceramente, que Washington e Bagdá não permitiam essa participação. A Turquia conta com uma enorme base nos arredores de Mosul, que já atua há vários meses. Há cerca de 3.000 militares turcos ali.

Que tipo de armamento o Exército iraquiano e as forças curdas estão usando?

A.J.B.T.: O Exército iraquiano sempre utilizou equipamentos militares soviéticos, mas Bagdá também compra hoje armamento moderno dos EUA. Entre os russos, o governo do Iraque dispõe de caças Sukhôi, e helicópteros Mi-28 e Mi-35. E tem aviões F-16 norte-americanos. As forças curdas não possuem aviação.

Entre os veículos de terra, há tanques soviéticos antigos e blindados Hummer – quase todos equipados com metralhadoras russas e norte-americanas. Já os curdos, usam mais lança-granadas russos e rifles de assalto Kalashnikov.

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