Sabotador ucraniano detido pelo FSB na Crimeia
RIA NôvostiAs relações entre a Rússia e a Ucrânia, que estão em processo de deterioração desde a reintegração da Crimeia, chegaram nesta semana a um novo impasse, com a acusação por Moscou de que Kiev estaria por trás da tentativa de atos terroristas na península.
Segundo agentes do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, órgão que substituiu a KGB), sabotadores ucranianos, identificados como membros ativos das forças especiais da Ucrânia, se dividiram em dois grupos e tentaram entrar na Crimeia portando bombas caseiras, bem como com munições, granadas, minas e armas.
Após a detenção dos sabotadores, que resultou na morte de dois oficiais russos em confronto, o FSB obteve a informação de que uma rede de agentes operava na região.
O líder dos sabotadores, também detido, foi identificado como Evguêni Panov, membro da Coordenação-Geral de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia.
As ações da Ucrânia são “um jogo muito perigoso”, e a Rússia “não fechará os olhos para essas coisas”, declarou o presidente russo Vladímir Pútin, referindo-se ao episódio como “prática terrorista”. Na ocasião, Pútin ressaltou também que, diante da situação, não faz sentido realizar consultas no formato do chamado Quarteto da Normandia (que inclui ainda Alemanha e França), prevista para setembro na China.
As autoridades de alto escalão do governo ucraniano negaram, no entanto, qualquer ligação com os criminosos detidos, qualificando o incidente como “fantasioso” e um pretexto “para novas ameaças militares contra a Ucrânia”. Kiev manifestou desejo de convocar uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, alegando que próprios militares russos dispararam contra agentes de fronteira do FSB.
O serviço russo informou que os indivíduos detidos são cidadãos tanto da Rússia como da Ucrânia, e já confessaram o ato. Sabe-se que os militantes tinham como alvos pontos turísticos e transportavam explosivos com 40 kg de TNT.
Os sabotadores disseram que não havia intenção de detoná-los perto de pessoas, e sim explodi-los em locais esparsos da cidade para “criar pânico e acabar com o turismo”.
Enquanto um dos grupos ultrapassou a fronteira russo-ucraniana em veículos de propriedade das Forças Armadas ucranianas, o outro usou uma rota alternativa e deveria deixar os explosivos em um esconderijo pré-estabelecido.
Reação (des)proporcional
A resposta russa ao incidente dependerá da postura da Ucrânia, acreditam os especialistas entrevistados pela Gazeta Russa.
“A Rússia não pode chegar e começar a atirar em objetos militares da Ucrânia só porque um grupo de reconhecimento ucraniano tentou adentrar a Crimeia. Isso contradiz o direito internacional”, explica o vice-presidente da Comissão de Defesa do Conselho da Federação (Senado russo), Franz Klintsevitch.
No entanto, segundo o vice-diretor do Instituto de Análise Política e Militar, Aleksandr Khramtchikhin, não se deve descartar a possibilidade de realização uma operação militar “caso a Ucrânia perpetue tais provocações”.
Por enquanto, Moscou limitou suas ações à esfera diplomática, com uma advertência severa ao governo de Kiev, e suas forças especiais iniciaram atividades operacionais dentro da Rússia. Além disso, de acordo com o jornal “Kommersant”, tropas adicionais e veículos blindados foram enviados para o norte da península crimeana.
“É extremamente difícil para nós responder a isso. Nunca um país, qualquer país que seja, admite empregar grupos de sabotagem. E, agora, a coisa mais importante é não dar motivo para acusarem a Rússia de agressão contra a Ucrânia. Nenhuma bala russa deve ser disparada em território ucraniano”, diz Andrêi Suzdaltsev, vice-decano do departamento de Economia e Política Global na Escola Superior de Economia.
Tudo sobre o Donbass
Alguns especialistas, porém, não só veem provocação no incidente, mas um “plano de múltiplas frentes” por parte da Ucrânia.
“Esta questão não é sobre a Crimeia, mas sobre o Donbass”, sugere Suzdaltsev. “A Crimeia é um território separado e é a luta pelo rebelde oriente [do país] que obriga a Ucrânia a agir dessa maneira”, completa o observador.
Segundo Suzdaltsev, o governo ucraniano precisa de certas realizações antes das eleições, incluindo o retorno do Donbass à esfera de influência da Ucrânia. “Mas, com a Rússia apoiando o Donbass, isso é impossível”, diz.
Opinião semelhante é exposta pelo diretor do Centro para Assuntos Políticos, Aleksêi Tchesnakov. Na opinião do analista político, Kiev busca possibilidades de intensificar as relações com a Rússia para recusar a implementação dos acordos de Minsk-2 e, em seguida, acusar Moscou de assumir uma postura agressiva.
As gravações dos interrogatórios já foram disponibilizadas ao Conselho de Segurança da ONU, o que diminuiu as chances de apoio inequívoco do órgão a Kiev, supõem os especialistas. “Temos dois cadáveres russos. Os ucranianos os mataram em território russo. Isso é muito grave”, enfatiza Suzdaltsev.
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