Referendo no Reino Unido impõe incertezas sobre o futuro do bloco europeu
DPA/Vostock-PhotoA observação feita pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, de que o presidente Vladímir Pútin “deveria estar feliz” com a vitória do Brexit (nome dado à saída dos britânicos do bloco europeu) foi uma tentativa indevida de exercer pressão sobre a opinião pública britânica, declarou Pútin à imprensa nesta sexta-feira (24).
A maioria dos cidadãos do Reino Unido (52%) tomaram a decisão histórica, em plebiscito realizado nesta quinta-feira (23), de se separarem da União Europeia, bloco econômico e político composto por 28 países do qual faziam parte desde 1973.
“Eu acredito que isso não seja nada mais que uma tentativa ruim de influenciar a opinião pública no próprio país. Mas, como vimos, ele não conseguiu alcançar o efeito esperado. Além do mais, depois da votação ninguém tem o direito de dizer qualquer coisa sobre a posição da Rússia. Isso não é mais que uma evidência de baixo nível de cultura política”, disse Pútin, na cúpula da Organização para Cooperação de Xangai.
Cameron, que iniciou o referendo, mas defendia a continuidade da adesão à UE, anunciou sua intenção de renunciar, após a divulgação do resultado.
Derrota de Bruxelas
“O mais importante projeto de integração europeia, e suas realizações óbvias, não resolveu o problema fundamental: tornar-se compreensível e conveniente para a população em geral”, escreveu em seu Facebook o chefe da Comissão de Assuntos Internacionais do Conselho da Federação (Senado russo), Konstantin Kosatchev.
Segundo o senador, a burocracia interna estaria privando o bloco de responder às novas ameaças e desafios, como o terrorismo e o afluxo de migrantes.
Opinião semelhante foi exposta pelo deputado Aleksêi Puchkov, que entrou em um embate no Twitter com o ex-embaixador dos EUA para a Rússia, Michael McFaul.
“Perdedores: UE, Reino Unido, EUA, aqueles que acreditam na utilidade de uma Europa forte, unida e democrática. Vencedores: Pútin”, publicou McFaul na manhã desta sexta (24), o que gerou a revolta de Puchkov.
“A Rússia não deve ser culpada. Essa derrota se deve aos próprios inimigos do Brexit e ao fracasso pessoal de Barack Obama”, rebateu o deputado russo, antes de McFaul responder que não quis dizer que “Pútin tenha influenciado, de algum modo, a escolha dos britânicos, mas trata-se de uma saída lucrativa” para a Rússia.
Susto econômico
As notícias sobre a futura saída do Reino Unido da UE prontamente causaram uma queda nos mercados de ações europeus. De acordo com o presidente do maior banco estatal russo Sberbank, Guêrman Gref, o movimento deve também abater a Rússia.
“Causará pânico. Isso terá um impacto muito negativo na nossa economia, na nossa taxa de câmbio, e os investidores em títulos russos”, declarou Gref, salientando, porém, tratar-se apenas de uma primeira reação do mercado.
Outros especialistas em economia russa sugerem que o declínio será curto e provavelmente não afetará o país. “Podemos lamentar a decisão, mas não há desastre, embora, em curto prazo, aumente a instabilidade”, diz o ex-ministro das Finanças russo, Aleksêi Kúdrin. “Temos problemas próprios, mais latentes.”
O ministro interino das Finanças, Anton Siluanov, concorda que a vitória do Brexit não terá grande impacto sobre Moscou, embora preveja a queda dos preços do petróleo e o enfraquecimento do rublo. “Mas o impacto desse evento sobre a situação econômica nacional é limitada”, garante.
Relações Moscou-UE
Alguns especialistas divergem, porém, quanto às perspectivas das relações entre a Rússia e o bloco europeu após a saída do Reino Unido.
“Os resultados em longo prazo serão benéficos, já que a ausência de britânicos na UE propiciará mais negociabilidade com a Europa continental”, disse à Gazeta Russa o diretor do Centro para Estudos Europeus e Internacionais, Timofei Bordatchev.
Além disso, segundo o analista em Moscou, a UE pós-saída do Reino Unido irá reforçar ainda mais o domínio da Alemanha.
“Berlim é mais focado em cooperação com Moscou do que que o circuito londrino. Para a própria UE, em um primeiro momento, [Brexit] é muito ruim, já que domínio da Alemanha vai levar à instabilidade interna”, afirma.
Para Dmítri Danilov, chefe do departamento de Segurança Europeia no Instituto da Europa, a instabilidade que ameaça a Europa irá, porém, afetar a Rússia.
“O caráter estratégico dessa turbulência não vai de encontro aos interesses russos”, disse o especialista à Gazeta Russa. “Os países europeus remanescentes na UE vão procurar consolidar e manter a unidade, incluindo em questões políticas, o que pode significar uma postura dura em relação à Rússia.”
Paralelamente, Danilov acredita que, enfraquecida, a União Europeia poderá buscar o apoio de parcerias externas. “Em primeiro lugar, estamos falando dos EUA, mas, talvez, Bruxelas vá tentar fortalecer e cooperação com a Rússia. Há, assim, chances de algum avanço na relações com a UE, para tirá-los da crise”, arremata.
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