Referendo que definiu reanexação da Crimeia pela Rússia desencadeou medidas de retaliação dos EUA e UE
ShutterstockParlamentares da região italiana do Vêneto, no nordeste do país, aprovaram uma resolução pedindo o reconhecimento do controverso referendo de 2014 que estabelece a Crimeia como parte da Rússia, assim como a suspensão das sanções contra Moscou.
Em votação no último dia 18 de maio, 24 membros do conselho votaram a favor da resolução e nove votaram contra. Houve uma abstenção e três ausências.
O texto da resolução se refere à Constituição da Itália e à legislação internacional para justificar o direito à autodeterminação dos povos.
O conselho regional do Vêneto também “pede ao governo italiano, ao Parlamento nacional e às instituições da União Europeia que revejam as relações entre a UE e a Rússia” e “insta às autoridades italianas que reavaliem os aspectos da política externa da UE em relação a questões da Crimeia”.
“A votação sobre a resolução no conselho do Vêneto regional e outros processos políticos (...) mostram que a propaganda anti-Rússia no contexto ucraniano não só chegou a um impasse, mas também está se desenrolando na direção oposta e atuando contra aqueles que iniciaram o processo”, declarou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakhárova.
O chefe da delegação da UE para a Rússia, Vygaudas Usackas, minimizou a relevância da votação, destacando que a resolução tem caráter recomendatório.
“Todas as medidas restritivas ou sanções contra nossos vizinhos não são do interesse de ninguém. No entanto, as resoluções do conselho regional do Vêneto ou da Assembleia Nacional da França são de natureza recomendatória e não pressupõem obrigatoriamente sua implementação”, disse Usackas à estação de rádio Vesti FM.
Reação em Moscou
Os veículos de comunicação russos reagiram rapidamente à votação. Em entrevista ao jornal “Kommersant”, Serguêi Útkin, do Centro de Análise da Situação da Academia Russa de Ciências, salientou que a resolução não terá influência direta sobre a política externa da Itália nem da UE.
A justificativa, segundo Útkin, é que as relações internacionais estão além da competência dos conselhos regionais.
“Neste caso, porém, coloca-se a ideia de que, independentemente de o número de pessoas na UE que concordam com a posição oficial da Rússia sobre a Ucrânia crescer ou não, há necessidade de manter relações pragmáticas”, disse o analista.
Útkin também relembrou que o governo italiano já havia demonstrado uma posição mais branda em relação à Rússia do que outros países europeus.
“Embora eu não sinta que a Itália tomaria a liderança de um movimento para o levantamento das sanções, neste sentido, eles tentarão agir com cautela.”
‘A voz do bom senso’
Aleksêi Martinov, diretor do Instituto Internacional do Novos Estados, um grupo de reflexão pró-Kremlin, acredita que o voto dos parlamentares europeus tem grande valor simbólico e afeta a solidariedade europeia.
“A voz do bom senso está soando na Europa, e isso é positivo”, afirma, destacando, porém, que os “burocratas europeus não ouvirão quaisquer conselhos regionais ou parlamentos nacionais com declarações semelhantes”.
Apesar das poucas perspectivas de mudança no cenário das sanções contra Moscou, Martinov considerada outra consequências da iniciativa de Vêneto.
“Isso vai levar muitos Estados europeus a começar a funcionar de forma independente, pelo menos em políticas de sanções e outras coisas do gênero, uma vez que afetam diretamente os seus interesses nacionais e econômicos”, prevê. “Portanto, a chamada solidariedade europeia está em risco”, arremata.
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