Obama (dir.) e Pútin conversam antes de sessão da Cúpula do G20, na Turquia
APNa recente reunião do G20, a primeira desde a deflagração da crise ucraniana, os presidentes russo Vladímir Pútin e norte-americano Barack Obama tiveram uma conversa de 35 minutos, marcando um ponto de inflexão na longa pausa da relação entre os dois chefes de Estado.
Pútin encontrou também outros líderes com os quais não concorda sobre a crise ucraniana, como o primeiro ministro britânico David Cameron, nem sobre o destino do presidente sírio Bashar al-Assad, como é o caso do presidente turco Recep Erdoğan e do rei saudita Salman.
A interação, retomada após ataque de terroristas islâmicos na França, revelou um cenário surpreendentemente diferente da reunião anterior do G20, em Brisbane, quando Pútin enfrentou uma atmosfera hostil e chegou a deixar a reunião antes do término.
Também no encontro de Viena, na véspera da cúpula em Antália, o clima foi outro.
Os ministros das Relações Exteriores concordaram com o cronograma para um acordo político na Síria, estipulando que, em um período de seis meses, um “governo confiável, inclusivo e não sectário” deveria ser estabelecido na região, com capacidade de elaborar e implementar uma nova Constituição, além de conduzir “eleições livres e justas” dentro de 18 meses.
O resultado do encontro foi saudado pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, que considerou o avanço em Viena como um “raro momento de oportunidade diplomática para acabar com o conflito na Síria.”
Diante dos fatos, resta uma dúvida: será que o drama parisiense reacendeu a chama entre a Rússia e o Ocidente? Iúri Rogulev, diretor da Fundação Franklin D. Roosevelt para o Estudo dos EUA junto à Universidade Estatal de Moscou, conversou com a Gazeta Russa acerca das complexidades das negociações diplomáticas.
Quando a tragédia atingiu um dos maiores aliados dos Estados Unidos na Europa, isso mudou a situação geral. A reunião de ministros das Relações Exteriores em Viena mostrou que é possível chegar a um acordo sobre a Síria. Os ataques terroristas em Paris demonstraram que há uma agenda em comum. A campanha antiterrorista anterior, conduzida pelos EUA e seus aliados contra os militantes islâmicos no Iraque e na Síria, não foi produtiva: ela não reduziu a capacidade do grupo de atacar os ocidentais em seu próprio território. Isso é uma ameaça não apenas para a Rússia, Síria ou Turquia, mas afeta também a Europa e os Estados Unidos.
Na sequência do encontro de Pútin e Obama, o G20 reforçou o consenso de todas as 20 nações na luta contra o EI. No entanto, mais tarde, o Kremlin salientou que a estratégia está sujeita a uma interpretação equivocada e há divergência de opiniões acerca das táticas a serem empregadas. O que isso significa?
O objetivo estratégico é derrotar o terrorismo. Não se pode fazer isso separadamente, sobretudo no Oriente Médio, onde todos lutam contra todos e há muitos atores do Estado envolvidos em conflitos. A unidade é a chave do sucesso, contanto que haja consenso a respeito do objetivo final. É interessante notar que Obama afirmou apoiar os esforços da Rússia para combater o terrorismo na Síria. Agora é necessário definir e chegar a um acordo sobre o formato das ações coordenadas, tanto militares quanto políticas.
O G20 priorizou o combate ao EI e ao terrorismo em geral. Isso veio no encalço dos resultados positivos das conversas em Viena no dia anterior. Tendo em vista as decisões tomadas em Viena e na reunião do G20, estamos testemunhando um certo alinhamento de abordagens da Rússia e dos Estados Unidos no tratamento da crise dentro da Síria e no seu entorno?
A posição russa, desde o início, foi a de que, em primeiro lugar, o destino do [presidente sírio Bashar] al-Assad deveria ser decidido não em Moscou ou em Washington, mas pelo povo da Síria. Em segundo lugar, deve-se lutar contra o terrorismo in locu; é impossível derrotar o EI com ataques aéreos. Uma vez alcançada a vitória, ao menos nas áreas estratégicas, então seria o momento certo para deixar que o povo da Síria decidisse a forma de governo que prefere.
Enquanto persiste a divergência de opiniões sobre a futura manutenção, destituição ou ostracismo de Assad, bem como as diferenças sobre um possível anúncio de trégua entre as forças do governo e as da oposição, os atores internacionais parecem estar lenta, porém resolutamente, levando à frente a agenda do acordo político do conflito interno na Síria.
Com o drama parisiense e sua repercussão no estado psicológico das pessoas, o duplo consenso alcançado em Viena e Antália dificilmente pode ser subjugado como um fato insignificante.
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