Novos acordos e antigas posições marcam 7ª cúpula do Brics

Pútin (à esq.) ressaltou disposição dos parceiros de Brics para promover reformas nas estruturas financeiras mundiais. Foto: EPA

Pútin (à esq.) ressaltou disposição dos parceiros de Brics para promover reformas nas estruturas financeiras mundiais. Foto: EPA

Lançamento de Novo Banco de Desenvolvimento do Brics e apoio à Rússia no cenário político internacional foram destaques de reunião em Ufá. Especialistas divergem sobre possibilidades de o grupo se tornar um bloco formal.

Após dois dias de conferências e reuniões bilaterais, a 7ª cúpula de líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em Ufá, foi encerrada nessa quinta-feira (9), com declarações que indicam o estreitamento das posições dos países-membros em torno de questões políticas e econômicas globais.

Em coletiva à imprensa, o presidente russo Vladímir Pútin ressaltou a disposição dos parceiros para promover uma reforma nas estruturas financeiras mundiais e ampliar o papel de países emergentes no FMI. Para a Rússia, no entanto, a cúpula assumiu especial importância.  

Os países do Brics não só manifestaram apoio a Moscou no que se refere à questão das sanções, condenando a posição e as medidas impostas pelo Ocidente, bem como reforçaram a importância da abordagem adotada pela Rússia na resolução do conflito ucraniano, por meio da implementação dos acordos de Minsk.

Segundo o diretor do Comitê Russo para Estudos do Brics, Gueórgui Toloráia, a cúpula também demonstrou a unidade dos países-membros na abordagem de outros conflitos regionais. “Isso consolida o Brics como uma plataforma para discussões sobre questões de segurança e definição de perspectivas de desenvolvimento da política mundial”, diz.

Organização (quase) plena

O principal resultado prático da cúpula foi o lançamento de mecanismos financeiros como o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do Brics e o pool de reservas cambiais, que, segundo o diretor do Instituto de Problemas da Globalização, Mikhail Deliáguin, marcam o surgimento de uma nova característica da associação.

“Até o momento, o Brics era um grupo semelhante ao G7, mas, ao iniciar a construção de instituições financeiras parecidas com o FMI e com o Banco Mundial, ele deu um passo na direção de tornar-se uma organização plena”, disse Deliáguin à Gazeta Russa.

Para o diretor do Instituto da Globalização e Movimentos Sociais, Boris Kagarlítski, a reunião atesta “um deslocamento para frente, relativamente bem sucedido, mas extremamente lento” do grupo de emergentes.

Embora as atividades do Banco de Desenvolvimento do Brics tenham sido iniciadas no última terça-feira (7), a instituição só começará a financiar os primeiros projetos a partir do ano que vem.

“Na minha opinião, as partes ainda não decidiram o que elas querem para si [do Brics]: um bloco completo e eficaz ou apenas um formato determinado para estabelecer relações multilaterais”, disse Kagarlítski à Gazeta Russa, ao reafirmar o potencial do grupo como um “um bloco muito poderoso e perfeitamente capaz de concorrer com a União Europeia”.

A lenta e cautelosa movimentação dos países em direção à formalização institucional do Brics também foi apontada por Toloráia. “Nem todos os países querem criar algum tipo de órgão supranacional”, justifica o especialista. “Mas cabe destacar aqui a criação de uma secretaria virtual do grupo, cujo memorando foi acordado em Ufá.”

Bom para a Rússia

Em entrevista à Gazeta Russa, o diretor dodepartamento econômico da Fundação Instituto de Energia e Finança, Marcel Salikhov, destacou a importância do lançamento do NBD em meio ao atual impasse entre a Rússia e o Ocidente.

“No momento que as empresas russas têm acesso cortado ao capital ocidental, o surgimento de uma fonte financeira alternativa deve ter um efeito benéfico na economia russa”, aponta.

O analista acredita que a nova instituição também funcionará como um importante mecanismo para atrair capital chinês para a economia russa. “Ultimamente, na Rússia, tem se falado muito sobre os recursos financeiros da China, porém, até agora, não foi observado um afluxo de investimentos chineses.”

Em discurso na plenária da cúpula, Pútin anunciou que o banco do Brics irá financiar projetos conjuntos de grande porte em infraestrutura de transporte e energia, bem como o desenvolvimento industrial do países-membros. Na qualidade de atual presidente do Brics, o país propôs um roteiro para a cooperação em termos de investimentos.

“Realizamos consultas em nossos círculos de negócios, já incluímos no roteiro cerca de 50 projetos e iniciativas. Entre eles está a proposta de instituição de uma associação no setor energético, a criação de um centro internacional de pesquisas em energia e de uma união da indústria de fundição”, declarou o presidente russo.

 

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