Ex-premiê russo Evguêni Primakov morre aos 85 anos

Primakov foi ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1996 e 1998 e primeiro-ministro da Rússia em 1998 e 1999 Foto: Artiom Korotáiev/TASS

Primakov foi ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1996 e 1998 e primeiro-ministro da Rússia em 1998 e 1999 Foto: Artiom Korotáiev/TASS

Político era conhecido por rejeição ao atlantismo em prol do conceito de um mundo multipolar.

O ex-primeiro-ministro russo Evguêni Primakov faleceu em Moscou nesta sexta-feira (26), aos 85 anos, depois de uma longa luta contra um câncer no cérebro. A notícia foi dada à agência de notícias Interfax por uma fonte do círculo mais próximo do político e, posteriormente, confirmada por seu neto, Evguêni Sandro.

“O presidente expressa as suas profundas condolências à família e aos amigos de Evguêni Primakov”, declarou o assessor de imprensa do Kremlin, Dmítri Peskov, acrescentando que Pútin havia sido seu companheiro de luta. “Ele era um homem de Estado, um cientista, um político. Deixa um grande legado”, continuou Peskov.

Em memória ao ex-primeiro-ministro, a Duma (câmara dos deputados na Rússia) fez um minuto de silêncio. Durante a sessão desta sexta-feira, o vice-presidente da Duma, Nikolai Levitchev, propôs também a construção de um monumento em homenagem a Primakov na Praça Lubianka, em Moscou.

Primakov foi ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1996 e 1998 e primeiro-ministro da Rússia em 1998 e 1999. Na sequência, teve uma breve passagem como deputado, nos anos 2000 e 2001, antes de assumir a direção da Câmara de Comércio da Rússia por 10 anos.

Na voz dos políticos

Após o anúncio oficial, Primakov foi lembrado pela mídia russa como o homem que “fraturou a política externa russa e rejeitou o atlantismo em favor do conceito de um mundo multipolar”. Diversas personalidades políticas também se manifestaram sobre a morte do ex-premiê.

“Evguêni Primakov partiu. Um grande político. Ele criou a história da Rússia”, escreveu o ex-ministro das Finanças Aleksêi Kúdrin, em sua conta no Twitter.

Em entrevista à Gazeta Russa, a ex-porta-voz da Duma Irina Khakamada se referiu a Primakov como uma “grande autoridade”. “Eu o conheço por seu trabalho no governo e depois estivemos juntos no Parlamento. (...) Um grande sábio, um homem muito honesto e de princípios. Ele não entrou para nenhum partido da linha dura da oposição, mas trazia com ele a sua verdade”, disse.

Para Khakamada, por ser um homem experiente dos Serviços de Inteligência, Primakov era capaz de “inverter a direção de aviões e conduzir negociações”, além de “se interessar por economia e sempre compreender onde estavam os pontos fracos”.

Mikhail Deliaguin, que foi assistente de Primakov em 1999, também exaltou as habilidades econômicas do ex-chefe. “Ele liderou o governo após o catastrófico default de 1998, e literalmente salvou a Rússia”, disse Deliaguin à Gazeta Russa.

Guinada no Atlântico 

Evguêni Primakov esteve à frente do Instituto de Estudos Orientais da URSS entre 1977 e 1985. No final dos anos 1980, foi presidente do Soviete Supremo da URSS e, entre 1991 e 1996, diretor do Serviço de Inteligência Externa da Rússia.

Em 1999, já como primeiro-ministro, protagonizou a sua lendária empreitada política, que entrou para a história russa como o “retorno sobre o Atlântico”. Ao tomar conhecimento dos primeiros bombardeiros na ex-Iugoslávia por forças da Otan, Primakov cancelou a sua visita aos Estados Unidos e ordenou que a aeronave, já sobrevoando o Oceano Atlântico, fosse redirecionada de volta para Moscou.

As relações entre a Rússia e os Estados Unidos foram abordadas por Primakov em diversas ocasiões. “Todo mundo perde se as relações russo-americanas deslizarem para uma nova versão de Guerra Fria. Para evitar isso é necessário, acima de tudo, abandonar a retórica que cada vez mais, infelizmente, ganha força em ambos os lados”, disse o político.

 

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