Visita de Cristina Kirchner a Moscou resultou em um pacote de tratados importantes Foto: RIA Nóvosti
A passagem da presidente argentina Cristina Kirchner por Moscou na semana passada mostrou que ambos os países estão focados no desenvolvimento da cooperação bilateral na esfera política e sugere até mesmo uma possível tomada de posição conjunta contra a pressão do Ocidente.
“Nossa relação não é resultado de reviravoltas conjunturais, mas de um interesse mútuo estável entre as duas regiões. Culturalmente, somos parecidos: seguimos os valores europeus, respeitando identidade e independência”, disse em entrevista à Gazeta Russa o chefe do Centro Ibero-Americano no Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (Mgimo), Aleksêi Chestopal.
Segundo o diretor do Centro Científico-Informativo do Instituto da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, Aleksandr Kharlamenko, a Rússia tem a expectativa de que a Argentina e seus parceiros na América Latina rompam o bloqueio econômico e as sanções impostas contra si e países parceiros.
“Paralelamente, o país pretende que essas relações a ajudem a rechaçar a ação hostil de forças reacionárias internas e externas contra a soberania nacional”, acrescenta Kharlamenko.
Argentina e Rússia podem encontrar ainda um ponto comum em outra questão: as ilhas Malvinas – ou ilhas Falkland, como as chamam os britânicos. Moscou, que já mantém uma relação difícil com o Reino Unido há muito tempo, pode apoiar abertamente os argentinos na disputa territorial.
Cabe lembrar que, no ano passado, Kirchner condenou a recusa dos países ocidentais em reconhecer os resultados do referendo realizado na Crimeia, citando a Carta das Nações Unidas, que estabelece o direito dos povos à autodeterminação.
Energia x Alimento
Em termos estratégicos, a cooperação energética foi o tema mais importante da visita de Kirchner. “A economia argentina é deficitária do ponto de vista energético. O país gasta US$ 9 bilhões por ano em importação de recursos energéticos”, aponta o diretor do Instituto da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, Vladímir Davidov.
“Enquanto isso, parte significativa do país é subaproveitada em termos de energia. Temos capacidade de ajudar a Argentina, inclusive no sensoriamento remoto de recursos minerais do subsolo”, acrescenta Davidov. O governo russo se comprometeu a participar do desenvolvimento de energia hidrelétrica na Argentina.
Além disso, o mercado argentino também é de interesse dos ferroviários russos. Isso porque, nos anos 1990, sob o governo de Carlos Menem, o sistema de transporte por trilhos entrou em declínio após a privatização das ferrovias nacionais.
Paralelamente, as empresas argentinas ganham a possibilidade de explorar o mercado russo, sobretudo o segmento alimentar. “A Rússia é deficiente em termos de alimentos. E a primeira solução para este problema não o da substituição das importações, mas o da substituição de uns fornecedores por outros, mais leais e confiáveis.”
Escambo político
O projeto de construção de usinas nucleares na Argentina também foi destaque na reunião da semana passada. De acordo com o presidente russo Vladímir Pútin, a assinatura do contrato dá à Argentina “acesso às mais recentes tecnologias russas, que obedecem aos mais rigorosos padrões de segurança nuclear”.
Mas, segundo os especialistas, o mais importante é que o acordo assume uma forte conotação política, já que a Rússia está partilhando tecnologia nuclear com potenciais aliados na região.
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