Estado islâmico é o principal inimigo da Rússia, diz Lavrov

Lavrov declarou que a única ameaça real à segurança do país está no sistema americano de defesa antimísseis Foto: Iliá Pitalev/RIA Nóvosti

Lavrov declarou que a única ameaça real à segurança do país está no sistema americano de defesa antimísseis Foto: Iliá Pitalev/RIA Nóvosti

Em entrevista às principais rádios russas, chanceler falou sobre Obama, crise ucraniana e polêmica envolvendo Irã.

Na quarta-feira passada (22), o chanceler russo Serguêi Lavrov deu uma entrevista de duas horas às rádios russas Sputnik, Echo de Moscou e Fala Moscou. Durante a conversa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia declarou que considera o grupo extremista Estado Islâmico como “o principal inimigo do momento”.

“Centenas de cidadãos russos, centenas de europeus, centenas de norte-americanos e cidadãos dos países da Comunidade dos Estados Independentes estão lutando pelo Estado Islâmico”, disse Lavrov. Segundo o ministro, “eles já estão voltando para casa; lutam, depois vêm descansar e, para se divertir, podem armar alguma sujeira em seus países de origem”.

Desencanto com Obama

Questionado sobre as possíveis intimidações da China à Rússia, Lavrov declarou que a única ameaça real à segurança do país está no sistema americano de defesa antimísseis.

“Eu não vejo ameaça por parte da China. Em geral, não vejo ameaças por parte do Oriente, a não ser a defesa antimísseis que faz parte do sistema global norte-americano e está sendo montada tanto no território dos EUA, quanto no Leste Europeu e no nordeste da Ásia, envolvendo prodigiosamente o perímetro das fronteiras da Federação Russa”, afirmou o chanceler.

Lavrov aproveitou a pergunta para dizer que Moscou havia depositado esperanças no presidente americano Barack Obana, mas, durante o seu governo, foram desencadeados vários conflitos militares.

“Eu não gostaria de levar o assunto para o campo pessoal, mas havia muitas esperanças, houve o prêmio Nobel da Paz. Mas, depois disso, aconteceram muitas guerras, inclusive guerras absolutamente ilógicas, que não correspondiam aos interesses de estabilidade nas respectivas regiões”, acrescentou o ministro.

EUA e crise ucraniana

A respeito da possibilidade de um convite a Obama para participar do ‘acordo da Normandia para solucionar a crise ucraniana, Lavrov destacou o papel do presidente francês François Hollande nessa iniciativa. Segundo o ministro russo, como o modelo de negociação foi iniciado por Hollande, a possível adesão de Obama deve ser tratada pelo líder da França.

No entanto, Lavrov afirmou duvidar do sucesso das conversas em Minsk em fevereiro passado caso Barack Obama tivesse participado do encontro e falou sobre os objetivos dos EUA no conflito ucraniano.

Segundo ele, para os Estados Unidos, era importante não dar espaço a um possível aprofundamento da parceria entre a União Europeia e a Rússia, principalmente entre Moscou e Berlim. “E isso não é uma suposição minha, nós temos informações concretas”, acrescentou.

Sugestão para Ucrânia

Durante a entrevista, Lavrov assinalou as tarefas da política da Rússia em relação à Ucrânia. Em primeiro lugar, o ministro defendeu que a Ucrânia deve conservar a sua unidade; caso contrário, “o resultado será apenas um: ali mesmo, do lado ocidental, do lado da Otan, surgirão tentativas de transformar a Ucrânia em uma nação anti-Rússia”, disse.

Para a manutenção da unidade do país, o chanceler russo aconselhou os ucranianos a “abandonarem posições inflexíveis em relação à obrigatória manutenção de uma Ucrânia unitária”, conforme anunciado pelo presidente ucraniano Petrô Porôchenko e seus ministros. “É preciso abandonar o que eles chamam de ucranização (...) e a Ucrânia deve permanecer “neutra em questões político-militares”, continuou Lavrov.

S-300 para o Irã

A recente decisão do Kremlin de suspender a proibição de instalação do complexo de defesa S-300 no Irã também foi abordada pelos jornalistas. O ministro explicou que a instalação do S-300 será concluída por Moscou, porque a Rússia não quer que o Irã se torne o próximo alvo de uso ilegítimo de forças militares.

“Após da instalação do S-300 em Teerã, aqueles que quiserem atacar o país pensarão duas vezes”, declarou Lavrov. “Nesse caso, não é necessária uma união militar entre Rússia e Irã.”

Lavrov disse ainda que Moscou não pretende instalar bases nucleares em outros países nem vê necessidade de criar bases militares russas de grandes proporções, a exemplo do que têm feito os EUA, fora das fronteiras do país. “Nem mesmo na Venezuela”, concluiu o ministro.

Acusações à Gazprom

Por fim, os jornalistas pediram a Lavrov que comentasse as acusações feitas na Comissão Europeia à gigante russa do gás Gazprom, que teria violado leis antimonopólio. O ministro garantiu que todos os contratos da Gazprom são feitos dentro da lei e destacou que a Rússia está disposta a retomar o diálogo com a União Europeia sobre o fornecimento de energia.

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