"Não há tropas russas na Ucrânia", responde Pútin a questão feita por cidadão russo. Foto:TASS
O líder russo Vladímir Pútin realizou nesta quinta-feira (16) o programa anual de perguntas e respostas "Conversa com o presidente".
Televisionado para todo o país, o programa trouxe perguntas de convidados no estúdio, de moradores de diversas cidades do país em transmissão ao vivo, assim como de cidadãos que enviaram suas questões por meio de sms, pela internet ou pelo telefone.
A Gazeta Russa acompanhou o programa ao vivo e selecionou os melhores momentos para o leitor.
Apresentação
Durante uma semana, o líder russo recebeu mais de 2,3 milhões de mensagens com perguntas. Em sua apresentação no auditório, Vladímir Pútin informou que o PIB da Rússia cresceu em 0,6% em 2004, e foi possível controlar a espiral de inflação. Entre as tendências negativas, estão a queda de investimentos nos pequenos negócios, o corte nos rendimentos da população, relacionado à inflação. Entre os resultados negativos, Pútin citou a bem-sucedida realização das Olimpíadas em Sôtchi e o crescimento demográfico no país.
Iniciam-se as questões:
Por quanto tempo teremos que suportar as sanções?
Vladímir Pútin: Se me permitem, eu colocaria de outra forma. Elas não devem ser suportadas, elas devem ser utilizadas para encontrarmos novas fronteiras de evolução. A fabricação própria é algo importante, e ela acontecerá em nosso mercado. Agora, fazemos isso graças às sanções.
Temos forças e recursos o suficiente para nos virarmos com as sanções?
Pútin: As forças são suficientes. Nossa tarefa - do presidente, do Banco Central, dos líderes regionais - é atravessar esse período com o mínimo de perdas para usar isso a nosso favor.
O que já foi realizado?
Pútin: Providenciamos todo um conjunto de medidas, destinamos 3 trilhões de rublos para o desenvolvimento econômico do país. O rublo se estabilizou. Dizer que não há nada acontecendo também não é certo. O governo terminou seu trabalho no plano anticrise.
Contrassanções
Pútin: O mais importante é apoiar o crescimento da nossa própria agricultura, substituir os bens importados em nossas prateleiras.
Muitos russos se viram em maus lençóis após a queda do rublo por terem feito empréstimos em moeda estrangeira...
Pútin: O Estado existe para ajudar as pessoas. Aconselho pegar empréstimos em moeda estrangeira apenas àqueles que recebem salários nessas moedas, para não se arriscarem no caso de uma mudança de cotação.
Discutimos com Porochenko questões relacionadas ao restabelecimento econômico. Não houve nenhuma proposta de tomar Donbass, como escreveram na imprensa, nada do gênero. Hoje, observamos um cerco completo a Donbass. Falamos muito sobre o fato de haver lá pessoas que continuam a defender seus direitos com armas nas mãos. Certo ou errado, eu não julgo. Mas também há pessoas que não têm nada a ver com isso. Eles não têm relação com as atividades armadas. Por que eles não recebem salários, aposentadorias? Por lei, eles são obrigados a pagar a essas pessoas. O próprio governo ucraniano está cortando Donbass fora.
Saída da crise ucraniana
Pútin: Vejo a saída da crise ucraniana da seguinte forma: na execução dos acordos de Minsk, na reforma constitucional, na resolução dos problemas sociais e econômicos. Não pretendemos nos meter na política deles, não é da nossa conta. Mas temos o direito de dar nossa opinião. Queremos, em primeiro lugar, que os acordos de Minsk sejam cumpridos.
Relações entre Rússia e Ucrânia
Pútin: Hoje, a Rússia não espera nada do governo ucraniano, exceto uma coisa: que a relação conosco seja de um parceiro igual em todos os sentidos. A parte mais importante disso é a observação dos direitos legais dos russos que vivem na Ucrânia, que consideram o russo sua língua nativa, a cultura russa, sua cultura nativa. Outro caminho, além do da resolução política dos problemas, já não há.
É verdade que o oposicionista político Boris Nemtsov tinha provas da presença de militares russos na Ucrânia, como divulgou a mídia estrangeira?
VP: Ele era um opositor cortante tanto quanto a mim, como em relação ao governo em geral, apesar de nós termos boas relações. Foi um acontecimento trágico e vergonhoso. A investigação literalmente dentro de cerca de um dia já sabia o nome do executor, e a única questão estava em como e onde prendê-los. São dados absolutamente objetivos, temo falar demais para não revelar os métodos de trabalho de nossos órgãos de inteligência. A questão foi resolvida dentro de algumas horas. Se alguém encomendou o crime, ainda não sei. Ficará claro no decorrer desse trabalho que está sendo realizado.
Na questão sobre haver ou não tropas russas na Ucrânia, eu respondo: não há tropas russas na Ucrânia.
Relações com o Ocidente e patriotismo
Pútin: O patriotismo é o amor à pátria, a xenofobia é o ódio a outras nações. Eu não confundiria alhos com bugalhos. O nacionalismo é um fenômeno prejudicial e destrutivo à integridade do Estado. As condições sob as quais podemos ter relações normais não foram deterioradas por nós; sempre nos colocamos a favor de relações normais com Estados tanto no Oriente, como no Ocidente. Essas condições são o respeito à Rússia e a seus interesses.
Algumas grandes potências que reivindicam sua singularidade não precisam de aliados, mas de vassalos. Refiro-me aos EUA. A Rússia não pode viver em tais relações. Sempre estivemos abertos a parcerias. Ou não é verdade que durante os anos 1990 nos abrimos completamente? Assim que comunicamos sobre isso, recebemos uma dura reação. Por exemplo, lembrem-se da reação quanto à posição de Iéltsin na Iugoslávia. Assim que expressamos uma posição independente, tudo cai por terra, imediatamente. Isso não significa que devamos nos isolar. Queremos fazer parcerias e vamos fazê-lo.
Amizade com o Brics e a Organização para Cooperação de Xangai
Pútin: Eles foram criados há não muito tempo, mas se desenvolvem com sucesso. Não são organizações bélicas, são nossos amigos, com quem trabalhamos estreitamente e desenvolvemos relações.
Inimigos
Pútin: Somos um país de grande território, em comparação à Europa, e também temos uma população grande, muitos recursos naturais e somos sem dúvida uma potência nuclear. Uma potência nuclear comparável aos EUA. Eu chamaria de inimigos os terroristas internacionais, as organizações criminosas etc. Não consideramos ninguém como inimigo, digo, da comunidade internacional. E não recomendo a ninguém que nos considere como inimigos.
Estado Islâmico
Pútin: Não representa nenhuma ameaça ao nosso país.
ISS (Estação Espacial Internacional)
É uma perspectiva longínqua, mas também necessária para nós - necessária de um ponto de vista da economia nacional, porque usamos a ISS ativamente para as ciências e para a economia nacional, mas da ISS só são visíveis 5% do território da Federação da Rússia. Já com uma estação nacional poderemos, claro, ver todo o território do nosso enorme país.
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