De acordo com a legislação russa, espionar ou entregar segredos do Estado a um país estrangeiro é considerado traição ao Estado Foto: Reuters
Um telefonema à embaixada ucraniana tornou-se motivo para acusar de traição à pátria uma dona de casa de Viázma, cidade russa a cerca de 250 km da Ucrânia.
De acordo com a acusação, Davídova informou à embaixada do país vizinho que a cidade de Donetsk, palco de batalhas no leste ucraniano, estaria se preparando para transferir soldados da unidade militar localizada nos arredores da sua residência.
Segundo o marido de Davídova, Anatóli Gorlov, ela notou que a unidade militar tinha sido "esvaziada", e "isso lhe pareceu suspeito". No mesmo período, a dona de casa encontrou na lotação um militar que servia ali. "Ele estava à paisana e discutia em voz alta pelo telefone a transferência de grupos para Moscou, e de lá para mais adiante", disse Gorlov.
Apesar do ocorrido, os funcionários do FSB (da sigla em russo, Serviço Federal de Segurança) detiveram Davídova apenas seis meses depois, enviando-a para Moscou, onde ela foi presa. A dona de casa pode ser sentenciada a 20 anos de prisão, se considerada culpada.
De acordo com a legislação russa, espionar ou entregar segredos do Estado a um país estrangeiro ou organização internacional ou estrangeira, ou ainda prestar qualquer ajuda direcionada contra a defesa da Federação da Rússia é considerado traição ao Estado.
Estado 'se incriminou'?
O advogado designado para defender Davídova, Andrêi Stebenev, disse à rádio "Govorit Moskvá" (do russo, "Fala Moscou") que existe sim base para acusação e que, "de qualquer maneira, isso não foi suscitado do nada".
"Interpretar as coisas dessa maneira não é posicionamento de advogado. Nesse caso, a 'ajuda' é em prejuízo da cliente", disse à Gazeta Russa o professor da Universidade Estatal de Direito de Moscou, Aleksandr Manov.
Para ele, o FSB se incriminou ao acusar Davídova de traição da pátria, pois a dona de casa não é servidora estatal e não tem acesso a segredos de Estado.
"Se eles consideram que uma dona de casa poderia prejudicar a segurança do país ao informar do deslocamento de militares de Donetsk, isso significa que eles automaticamente admitem o fato de enviar militares à Ucrânia", acredita Manov.
Os funcionários do FSB não quiseram comentar o ocorrido.
Mal-entendido
O chefe do departamento de Moscou para direitos humanos, Aleksandr Brod, também prepara uma interpelação à procuradoria.
"Como pode o telefonema ter sido em abril e eles só reagirem agora? Por que o caso corre justamente com base neste artigo? Onde está o segredo de Estado, onde está a espionagem?", questiona Brod.
Para ele, é possível que haja outras circunstâncias que não tenham sido divulgadas pela investigação.
"A investigação terá que estabelecer, em primero lugar, que a informação concedida à embaixada realmente está ligada a um segredo de Estado, e, em segundo, que a ré sabia que isso era um segredo de Estado", explica o membro da Associação de Juristas da Rússia, Ígor Símonov.
"De qualquer maneira, a acusação tem que provar que houve uma ameaça à segurança", completa.
Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: