Primakov: "A Rússia gostaria de normalizar as relações com os EUA e com a Europa" Foto: Oléssia Kurpiáieva/RG
Economia de petróleo
A Rússia está enfrentando uma situação econômica difícil, estimulada sobretudo por causas externas, como a queda dos preços mundiais do petróleo e as sanções contra o país.
Não vale a pena esperar por mudanças econômicas externas que venham favorecer o país. É improvável que as sanções sejam suspensas em futuro breve. Também não é uma atitude realista nutrir esperança nas declarações de alguns políticos e representantes do empresariado europeu que se manifestaram contra as sanções à Rússia.
O curso que mantém o autoisolamento do país, inclusive no campo econômico, permanece imutável. Devemos mostrar interesse em manter ou estabelecer novas relações econômicas com todos os países e empresas estrangeiras que manifestem interesse nesse sentido.
Em 2002, o Mercury Club começou a funcionar no Centro Internacional de Comércio, em Moscou, por iniciativa da Câmara de Comércio da Federação Russa. O objetivo do grupo é estimular o diálogo entre o empresariado e os representantes das autoridades legislativas e executivas federais e regionais a fim de desenvolver medidas para combater os problemas sociais, econômicos e políticos do país.
A rentabilidade da produção de petróleo na plataforma continental do Ártico só será garantida se o preço do barril estiver a 100-120 dólares. Assim sendo, seria prudente aumentarmos a produção na plataforma continental do oceano Ártico nas atuais condições? Por que, apesar de toda a importância dessa região para a Rússia, não fazer uma pausa na exploração dos depósitos de petróleo e gás do Ártico? Alguns dos nossos concorrentes já iniciaram esse processo. O último poço aberto pelos EUA no Ártico foi em 2003, e pelo Canadá, em 2005.
Conflitos religiosos
De modo algum acredito que alguns oposicionistas, sem sistema nem apoio das massas, consigam levar a melhor na situação política interna do nosso país. Aliás, a atmosfera turbulenta pode agravar a situação social da maior parte da população.
É particularmente importante distinguir o nacionalismo do patriotismo. O nacionalismo não se limita à proteção de valores histórico-culturais da nação pela necessidade de defender os seus interesses. Isso seria aceitável, se a essência do nacionalismo não estivesse na oposição a nações que os próprios nacionalistas tendem a olhar com desprezo.
A tragédia na França aconteceu diante dos nossos olhos. Será que devemos tirar lições dela? A verdade absoluta de que a liberdade de imprensa é essencial para a construção de uma sociedade democrática é inegável. Mas quem disse que devemos dar apoio incondicional à liberdade de se publicar qualquer coisa destinada a humilhar e insultar sentimentos religiosos? Os apelos para testar a liberdade de imprensa com a publicação de caricaturas do profeta Maomé, por exemplo, ferem os sentimentos da população muçulmana. E, na Rússia, eles não são assim tão poucos: temos 18 milhões de cidadãos muçulmanos ou até mais.
Além de presidente do Conselho do Mercury Club, Evguêni Primakov é um economista e político soviético/russo. Chefiou o Serviço de Inteligência russo no exterior entre 1991 e 1996, e na sequência foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros. Atualmente, dirige também o Centro de Análise Situacional da Academia Russa de Ciências.
Crise na Ucrânia
Devemos continuar falando do interesse russo em que o sudeste permaneça parte da Ucrânia? A minha resposta é: acho que precisamos falar, sim. Só tendo isso como fundamento é que podemos chegar a uma resolução da crise ucraniana. Outra questão é saber se valerá a pena incluir a rejeição da reunificação da Crimeia e Sevastopol como uma “concessão” da Rússia aos EUA e seus aliados europeus. Não, isso não deve ser moeda de troca nas negociações.
No contexto de descumprimento do Acordo de Minsk, poderá a Rússia, em situação extrema, enviar suas unidades militares regulares para ajudar as milícias? De modo algum! Se isso acontecer, seria vantajoso para os Estados Unidos, que usariam essa situação para manter a Europa sob sua alçada.
Política externa
A Rússia gostaria de normalizar as relações com os EUA e com a Europa, mas seria imprudente de sua parte ignorar a importância crescente da China e outros países da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico. Somos muitas vezes intimidados pelo fato de corrermos o risco de nos tornarmos um apêndice de matéria-prima da China. A Rússia, com as capacidades que tem, nunca poderá se tornar, nem se tornará, uma fonte de matérias-primas de quem quer que seja.
Deverá a Rússia manter a porta aberta para ações conjuntas com os EUA e seus aliados da Otan no caso de essas ações se direcionarem contra ameaças reais à humanidade, tais como o terrorismo, o tráfico de drogas e assim por diante? Sem dúvida que sim. Sem isso, e já para não falar do interesse dos russos na eliminação de fenômenos internacionalmente perigosos, perderíamos o nosso país como grande potência.
Publicado originalmente pela Rossiyskaya Gazeta
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