"Sem dúvida, um dos “pontos mais quentes”, talvez a situação mais séria, refere-se às atividades agressivas da organização Estado Islâmico", diz Primakov Foto: Oléssia Kurliáieva/RG
Rossiyskaya Gazeta: Cinco anos atrás o senhor disse: “É necessário ter um bom relacionamento com a Ucrânia. Não podemos perder a Ucrânia sob qualquer cenário político. Devemos nos aproximar continuamente naquilo que for possível”. Por que isso não deu certo? O que ocorrerá no futuro?
Evguêni Primakov: Não nego ter dito essas coisas cinco anos atrás. A aproximação e o consenso com a Ucrânia permanecem, antes de tudo, nos interesses nacionais do povo e do Estado russo. Nada mudou quanto a isso. Ocorre que há mudanças situacionais na própria Ucrânia e em torno dela. Em relação ao futuro, tenho otimismo – limitado, por enquanto.
RG: Dizem que os acontecimentos na Ucrânia são o gatilho para uma nova Guerra Fria, estabelecendo um novo equilíbrio de poder no mundo...
EP: Não concordo com as suposições de que, inevitavelmente, teremos uma nova Guerra Fria. O desentendimento atual com o Ocidente não tem essa conotação, considerando que naquela época existiam dois grupos de Estados com posições ideológicas opostas, liderados respectivamente pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Havia também a ameaça constante da guerra “se tornar quente”.
Atualmente não existe esta composição. No entanto, ocorreram inegáveis mudanças no mundo em conexão com a crise na Ucrânia – isso não pode ser ignorado. A Rússia tem se mostrado um país capaz de proteger seus interesses nacionais em um mundo multipolar. Os Estados Unidos e seus aliados europeus não gostam disso, mas esse é o curso objetivo da história.
RG: Recentemente,o Papa Francisco disse que o mundo vive Terceira Guerra Mundial “em partes”. Seria apenas uma metáfora?
EP: Não compartilho das opiniões daqueles que acreditam estar ocorrendo a Terceira Guerra Mundial. O Papa não me parece um visionário.
RG: Imagine agora um mapa onde seria possível indicar todos os “pontos quentes” do planeta. Quais são os mais perigosos ao mundo e à Rússia?
EP: Sem dúvida, um dos “pontos mais quentes”, talvez a situação mais séria, refere-se às atividades agressivas da organização Estado Islâmico (EI). Ocorre que, em primeiro lugar, ela é um ímã para radicais islâmicos de diferentes países. O EI já controla uma parte significativa do Iraque e da Síria, mas principalmente do Iraque.
Em segundo lugar, essa organização não se limita em estabelecer um califado em algum país árabe, mas quer expandir seus intentos a todos os territórios de população muçulmana. E, como sabemos, há muitos.
Em terceiro lugar, os Estados Unidos não se afastaram de sua política incoerente de eliminar o regime de Bashar al Assad nem conciliaram suas relações com Irã. Também não fizeram tudo que podiam para cativar os sunitas em sua luta contra o Estado Islâmico. Um mero bombardeio não consegue derrotar o EI. Isso requer um esforço global.
RG: O presidente norte-americano BarackObama considera que o vírus ebola, as ações da Rússia na Europa e o EI são as grandes ameaças globais na atualidade. O que Obama busca com essas declarações?
EP: Deixe essas declarações pesarem na consciência de Obama. Elas são, no mínimo, incoerentes.
Publicado originalmente pelaRossiyskaya Gazeta
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