Perspectivas do comércio Rússia-Brasil caso Aécio vença Dilma

Disputa Aécio-Dilma traz à tona debate sobre reaproximação do Brasil com EUA Foto: Reuters

Disputa Aécio-Dilma traz à tona debate sobre reaproximação do Brasil com EUA Foto: Reuters

Observadores russos discorrem sobre as perspectivas do comércio russo-brasileiro após o fim das eleições no Brasil. Enquanto alguns receiam que o candidato do PSDB se oriente mais para os EUA do que a atual presidente, outros rejeitam a ideia de grandes mudanças em relação ao cenário de hoje.

O primeiro turno das eleições no Brasil eliminou a hipótese mais indesejável para as autoridades russas – Marina Silva, que vinha sendo encarada pela imprensa russa como “a protegida dos Estados Unidos”. O candidato Aécio Neves, que agora acompanha Dilma Rousseff na corrida para o segundo turno, é visto como um político liberal e “mais pró-brasileiro” nos círculos russos, embora também orientado para a cooperação com os EUA.

“Conheço muito bem o candidato Aécio Neves. Ele pertence a uma dinastia política bem conhecida no país, e posso caracterizá-lo como um político pró-brasileiro”, disse à Gazeta Russa Serguêi Vassíliev, presidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil, acrescentando que a eleição de Aécio não influenciará negativamente as relações comerciais com a Rússia. “Pelo contrário, poderá impulsionar nas áreas do investimento e tecnologias. Também não prevejo nenhuma mudança nos Brics decorrente dos resultados eleitorais.”

O vice-diretor geral da Companhia Regional de Investimentos, Oleg Duchin, mostra menos otimismo com a possibilidade de vitória do candidato do PSDB. “Todas as impressões sobre este político decorrem do seu programa tipicamente liberal. O desejo da direita é liberalizar a economia, hoje sob a tutela do Estado”, diz Duchin, ao reiterar a certeza de que Aécio ficará mais condicionado aos EUA do que Dilma. “O que não é de se admirar no caso de um liberal.”

Caso Aécio seja eleito, o especialista acredita que o Brasil pode perder peso perante os demais países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Mas, verdade seja dita, Aécio não fez, por enquanto, declarações antirrussas. Além do mais, não devemos esquecer que a China, também membro dos Brics, é um dos parceiros importantes tanto do Brasil, como da Rússia.”

Os sinais de estagnação na economia brasileira levam os críticos de Dilma a reverem as atuais relações com os países em desenvolvimento, inclusive com a Rússia, e a concentrarem atenção nos países desenvolvidos, sobretudo nos EUA. “Essa reorientação pode significar o esfriamento da cooperação entre nossos países, tendo em vista a posição intransigente dos EUA em relação à Rússia”, alega Elena Chíchkina, analista da companhia de investimentos Zerich. “A reeleição de Dilma não é do agrado dos EUA, tendo em vista sua influência regional.”

Sem alarde

Apesar das relações Brasil-EUA terem se deteriorado por causa do escândalo das escutas da CIA, os últimos acontecimentos testemunham uma certa normalização. Após a apresentação de um pedido forma de desculpas do governo americano, os dois Estados assinaram, em setembro passado, um acordo para evitar a duplicação de impostos.

Além disso, a disputa provocada pela subvenção dos EUA aos produtores de algodão, que já dura dez anos, parece em vias de solução. “Vendo tudo isso, podemos crer que, se Aécio for eleito, o Brasil preservará sua proximidade aos Brics. No entanto, em relação à questão ucraniana, o país estará mais próximo da UE e dos EUA”, conclui Duchin.

Vitáli Derbedéniev, diretor geral da FOC, ressalta que, apesar de Aécio defender o fortalecimento das relações com os EUA, a relação entre os países é raramente definida pelas simpatias que possa haver entre os seus presidentes. “Esse relacionamento se assenta nos interesses de ambos países. Hoje em dia, a Rússia e o Brasil estão interessados no fortalecimento de suas relações bilaterais. Os dois, juntamente com outros países em desenvolvimento, têm a intenção de criar um centro de influência política e econômica”, reforça Derbedéniev.

Por esse motivo, especialistas como Dmítri Kipa, chefe da secção analítica da QB Finance, não esperam alterações consideráveis nas relações russo-brasileiras, independentemente dos resultados eleitorais. Em primeiro lugar, ele aponta que as relações com a Rússia não são – e nem serão – prioridade da agenda política brasileira. Além disso, Rússia e Brasil não são concorrentes diretos em áreas estratégicas, e ambos enfrentam dificuldades econômicas semelhantes, como a prevalência das exportações, estabilização cambial etc.

“Por todos esses motivos, é fácil encontrarem pontos comuns no campo diplomático. Acima de tudo, o mercado russo se tornou bastante atrativo com a implantação das contrassanções, que abriram muitas oportunidades. Qualquer candidato tentará aproveitá-las para dar suporte aos negócios brasileiros”, arremata Kipa.

 

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