Ocorrido em Grózni aumenta suspeitas de conexão entre terroristas locais e combatentes do grupo Estado Islâmico Foto: RIA Nóvosti
Neste domingo (5), um homem-bomba cometeu um ato terrorista na entrada de uma sala de concertos em Grózni, capital da Tchetchênia. A explosão matou cinco policiais e feriu outras doze pessoas. O local se preparava para a realização das celebrações do Dia da Cidade, que coincide com o aniversário do líder da república, Ramzan Kadirov.
O ataque suicida foi cometido pelo morador da região de Staropromeslóvski, Apti Mudarov, 19 anos. Cerca de dois meses atrás, o jovem saiu de casa e, desde então, a família não tinha mais informações sobre ele.
Em sua conta no Instagram, Kadirov escreveu que o ocorrido não afetou a situação no país e que “está totalmente sob controle das forças de segurança pública”. O líder da república também prometeu “destruir todos os envolvidos no ataque terrorista”.
No entanto, os especialistas entrevistados pela Gazeta Russa não consideram o ataque um evento aleatório. “O ataque coincidiu com a celebração de Eid al-Adha [ou Festa do Sacrifício], com o aniversário do chefe da república, Ramzan Kadirov, e com o Dia da Cidade de Grózni. Obviamente que foi planejado com antecedência”, disse Serguêi Gontcharov, presidente da Associação de Veteranos da Unidade Antiterror ‘Alfa’.
Segundo ele, o homem-bomba poderia facilmente estar ligado aos militantes do Estado Islâmico (EI), já que Kadirov respondera abertamente aos ataques verbais do EI direcionados à Rússia. “Acredito que o atentado pode ter sido uma resposta às palavras e ações do chefe da Tchetchênia”, afirma Gontcharov.
O analista do PIR (Centro dos Estudos Políticos) Vadim Koziúlin também não descarta a ligação entre o suicida na Tchetchênia e os extremistas islâmicos do mundo árabe. “Especialistas militares que combatem o uso de minas terrestres ativadas por rádio relatam que surgiram há dois anos no mundo árabe os mesmos tipos de minas que foram utilizadas na campanha militar na Tchetchênia. Ou seja, há muito tempo que se dá a troca de tecnologia entre a Tchetchênia e o mundo árabe”, aponta o especialista.
Essa troca não se daria apenas no âmbito da tecnologia, mas também de pessoas, que são recrutadas para o EI na Ásia Central, Cáucaso e Rússia. “Os islamitas são uma ameaça que a nossa região terá que enfrentar em um futuro próximo”, acrescenta Koziúlin.
Marca registrada
Não foi identificada, por enquanto, qualquer conexão direta entre o terrorista da Tchetchênia e os militantes do Estado Islâmico. A especulação em torno do assunto está sobretudo relacionada com a ampla disponibilidade de informações sobre as suas atividades e ideologia.
“Os movimentos extremistas periféricos fazem uso do nome [EI] para fins de promoção, como se tratasse de uma marca. Recentemente, tivemos um caso em que extremistas hastearam a bandeira do EI em uma cidade do Uzbequistão, mas isso não significa que a organização tenha realmente penetrado na região da Ásia Central”, explica Nikita Mendkovitch, analista do Conselho Russo Para Assuntos Internacionais.
Segundo ele, os terroristas da região do Cáucaso podem, no máximo, se corresponder com representantes do EI através da internet. Mesmo assim, ainda é cedo para tirar conclusões sobre o ataque terrorista na Tchetchênia.
“Há pouca informação sobre as atividades do EI no Cáucaso. Ainda não dá para saber se o ato terrorista na Tchetchênia foi ou não algum sinal para a liderança da república ou da Rússia no geral”, explica Serguêi Markedonov, cientista político e professor adjunto de Estudos Regionais e Política Estrangeira da Universidade Estatal de Humanidades.
Embora tenha se tornado mais estável em comparação com as repúblicas vizinhas, a Tchetchênia não foi capaz de superar todos os problemas que afligem a região. “O modelo de estabilização de Kadirov se resume a superficialidades, enquanto os problemas são silenciados. O seu silenciamento pode, mais tarde ou mais cedo, levar a um ataque terrorista como este”, arremata Markedonov.
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