Khodorkóvski quer ver reflorescer seu movimento “Rússia Aberta” e ativá-lo por toda a RússiaFoto: DPA/Vostock Photo
Para o ex-magnata do petróleo Mikhail Khodorkóvski, que passou parte da última década preso na Rússia, o fim do país já chegou. Mas ele também antevê um futuro melhor para a terra natal.
Nos últimos dias, o réu do caso Yukos divulgou sua mensagem em quase todos os jornais europeus: ele quer ver reflorescer seu movimento “Rússia Aberta” e ativá-lo por toda a Rússia. Por questões judiciais, Khodorkóvski não concorrerá às eleições presidenciais de 2016.
Em Berlim a convite do “Fórum Russo-alemão”, Khodorkóvski respondeu a uma sessão de perguntas que durou quase uma hora. Uma das perguntas que espantou a plateia foi: "Como você se sente traindo a Rússia?”.
“Não acho que a Rússia e o regime de Pútin sejam a mesma coisa. Eu amo a Rússia, mas não o regime que está levando meu país para a direção errada e a ruína. Mas não estou pedindo ajuda ao Ocidente”.
A pergunta seguinte foi igualmente polêmica: “Por que os russos não são críticos em relação ao presidente Vladímir Pútin? Por que eles o seguem sem críticas? Por que os russos não concordam com valores europeus como democracia, igualdade de direitos e separação dos poderes?”
A resposta foi pragmática. Para ele, Pútin considera a economia o pilar de sua política. Cerca de 70% das receitas do Estado vêm das commodities vendidas pela Rússia. Porém, o preço das commodities teve uma forte queda nos últimos anos e, devido a isso, Pútin precisou buscar essa receita em outras fontes. A pressão sobre as pequenas empresas aumentou, grande parte dos intelectuais e dos jovens empreendedores deixou o país. “Analisando a conjuntura, deduzo que as reservas do Estado durarão mais um ano. A corrupção é generalizada”, disse.
“E a justiça política?”, perguntou uma russa presente no auditório. O ex-bilionário respondeu: “Apenas um por cento de todos os julgamentos tem motivação política. De resto, o sistema judiciário funciona muito bem, mas esse um por cento tem motivação política e não deveria ser assim”.
“Por que você não utiliza o seu movimento ‘Rússia Aberta’ para mudar essa situação? Por que vocês não se tornam um partido?” foi a pergunta seguinte, à qual Khodorkóvski respondeu: “Não faz sentido porque todos os partidos e servidores da Duma são determinados e controlados por Pútin. O que nós precisamos é disseminar na sociedade as ideias de democracia e de sociedade civil. Por isso somos um movimento social que busca ser ouvido na Rússia. O governo russo reage a qualquer movimento proveniente da sociedade. Esse é o caminho viável para aumentar a influência e para mudar o regime. Os cidadãos precisam se organizar e estamos aqui porque queremos e podemos ajudar. Mudanças radicais só podem ocorrer através de mudanças no poder. Quando isso ocorrerá, nós não sabemos”.
"Pútin não pensa estrategicamente“
O que Khodorkóvski pensa sobre Vladímir Pútin? Para ele, “Pútin não pensa estrategicamente”. Khodorkóvski vai mais longe: “Ele tem a doença do chauvinismo e, assim, criou uma imagem hostil que nós pensávamos que havia acabado. Os chauvinistas têm sede de sangue, o que enfraquece a economia russa”.
Sobre as sanções ele respondeu com outra pergunta: “Ajudem a Ucrânia, razão pela qual as sanções foram aplicadas. Ou será que o objetivo é atingir o povo russo, o país e Pútin? Se o objetivo é aumentar a influência sobre a Rússia, não funcionará. É preferível ajudar a Ucrânia a reconstruir o país. A maioria dos russos gostaria de ter valores europeus, mas eles não sabem o que é isso. Este é um aspecto importante, as pessoas se sentem atacadas por meio das sanções e acham que o Ocidente quer prejudicá-las. Por isso, não faz sentido tentar mudar Pútin, é preciso mudar todo o sistema na Rússia. É esse o objetivo do meu movimento ‘Rússia Aberta’”.
Para finalizar, Khodorkóvski declarou: “Precisamos de uma sociedade civil forte, justiça, separação entre os poderes e um sistema judicial independente. A democracia é feita disso. O sistema de Pútin não tem nada disso. Portanto, nós não precisamos de novos partidos, mas de cidadãos engajados e formados nas bases dos valores europeus”.
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