Para desenvolver seu projeto de oposição, Khodorkóvski apostará em uma "aliança horizontal" Foto: Reuters
No sábado passado (20), Mikhail Khodorkóvski anunciou o relançamento de seu projeto político “Rússia Aberta". A organização, que havia cessado as suas atividades após a detenção do ex-proprietário da Yukos, irá funcionar em novo formato.
“Compartilhamos aquilo que costuma ser chamado de ‘valores europeus’, e não estamos de acordo com o rumo de qualquer política que coloque esses valores à margem da lei”, declarou ao jornal “Le Monde”.
Para desenvolver seu projeto de oposição, Khodorkóvski apostará em uma aliança horizontal, com um grande número de grupos sociais pequenos, mas capazes de se unir para realizar ações conjuntas.
Além disso, o “Rússia Aberta” não deve participar das eleições como uma força política independente, mas Khodorkóvski se diz pronto a apoiar “candidatos dignos”. “O objetivo da oposição é influenciar as eleições em todos os níveis, mas em primeiro lugar, é claro, estão as eleições para a Duma do Estado [câmara baixa do Parlamento russo] em 2016.”
“O êxito do ‘Rússia Aberta’ depende de financiamento”, disse à Gazeta Russa Aleksêi Mukhin, diretor-geral do Centro de Informação Política. "Pelo visto, Khodorkóvski planeja utilizar fundos pessoais na construção de uma sociedade civil. Mas, levando em conta a realidade russa, esse dinheiro não vai durar muito tempo e será necessário atrair fundos externos de oligarcas emigrantes ou outros países”, continua.
Entre outras dificuldades, o novo projeto político deverá enfrentar a oposição das autoridades e imagem negativa do ex-proprietário da Yukos. “Será sentido o impacto da pressão política e administrativa”, afirma Váleri Solovei, professor catedrático do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (Mgimo, em russo). “Se não fosse o bastante, a reputação de Khodorkóvski, tanto aos olhos da população russa, quanto entre os membros do movimento liberal, está longe de ser positiva”, ressaltou o cientista político.
Ambições políticas
A anistia do ex-proprietário da Yukos foi divulgada no dia 19 de dezembro de 2013, durante uma coletiva de imprensa com o presidente russo Vladímir Pútin. Logo após ser libertado, Khodorkóvski declarou que planejava se concentrar em atividades de defesa dos direitos humanos.
Em sua entrevista ao jornal “Le Monde”, o empresário disse, contudo, que havia prometido “não buscar a devolução dos ativos da Yukos, e nada mais além isso”. Khodorkóvski observou que anseia ocupar a presidência num momento em que a Rússia “estiver se desenvolvendo normalmente”.
“Mas se surgir a necessidade de superar a crise e de realizar uma reforma constitucional, cuja principal parte será a redistribuição dos poderes presidenciais em favor do poder judiciário, do Parlamento e da sociedade civil, estarei disposto a assumir essa parte do trabalho”, continuou.
O ex-proprietário da Yukos também manifestou a vontade de se tornar “gerente da crise”, em uma reportagem do jornal “Vedomosti”. “Isso se as pessoas quiserem substituir o sistema de governo por um mais moderno, e não somente substituir o próprio Pútin”, explicou.
Promessa limitada
As autoridades do Kremlin se negaram a comentar as recentes declarações de Khodorkóvski. “Não existe qualquer razão para comentar sobre isso”, declarou à rádio Kommersant FM Dmítri Peskov, assessor de imprensa da presidência.
“Eu diria que Khodorkóvski está tentando sondar o terreno. É importante que ela entenda que não há muitas pessoas dentro do reduto liberal contentes com as suas pretensões”, disse Solovei, professor catedrático do Mgimo.
Mukhin, diretor-geral do Centro de Informação Política, acredita que Khodorkóvski está cometendo o mesmo erro da década de 2000. “Ele está iniciando a sua carreira política, ou, como ele diz agora, a sua carreira pública com uma mentira. Ele disse várias vezes que não iria se envolver em atividades políticas. E não poderá cumprir a sua principal promessa, ou seja, concorrer à presidência”, explicou.
Em fevereiro passado, entraram em vigor as novas emendas à lei relativa aos direitos eleitorais. De acordo com as alterações, os condenados por crimes graves podem ser eleitos somente 10 anos após a sua libertação.
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