Natália Poklónskaia parece mais uma fada bondosa do que uma representante da justiça Foto: ITAR-TASS
Da aparência frágil, elegante e com olhos crédulos, Natália Poklónskaia parece mais uma fada bondosa do que uma representante da justiça. A presente impressão é ressaltada pela beleza física e a voz fascinante que garantiram à nova Procuradora-Geral da Crimeia uma fama internacional. No entanto, ela possui a experiência de 12 anos como oficial dos órgãos de justiça, ao longo das quais participou das investigações de uma série de crimes brutais e exerceu a função de promotora de justiça no caso da quadrilha Bachmaki, acusada de organização de assassinatos altamente violentos.
Rossiyskaya Gazeta - É verdade que a senhora assumiu o cargo após a renúncia de quatro candidatos?
Natália Poklónskaia - É verdade sim, porém não estou ciente dos seus motivos. Resolvi aceitar a proposta porque não aprovo o curso político escolhido pelos novos dirigentes da Ucrânia e considero um verdadeiro absurdo os acontecimentos recentes neste país. Eu queria contribuir ao reestabelecimento da ordem, defender a população e demostrar a igualdade de todos perante a lei. O poder também existe e ele pertence ao povo.
Devemos agir levando em consideração apenas os interesses dos moradores e não satisfazendo a vontade dos grupos radicais ou daqueles ativistas que de alguma forma conseguiram dominar a situação na capital ucraniana. Alguns seguem as suas ambições pessoais, outros querem se aproveitar, os terceiros simpatizam com o movimento nazista, mas o povo não tem nada a ver com tudo isso. Os participantes das manifestações na Praça de Independência não estavam conscientes das suas ações. Os protestos pacíficos não incluem os assaltos dos prédios públicos com tacos de beisebol ou armas de fogo, ao contrário do que muitos pensam, inclusive os nossos chefes, que na época exigiam que nós mantivéssemos a posição política neutra.
Apesar de ter seguido as orientações dos meus superiores, eu preciso garantir o cumprimento da lei para que ninguém possa considerar as ações do Maidan uma maneira adequada de conquistar o poder. Acredito que os atos de vandalismo não resolvem a situação, e o exemplo recente da Ucrânia confirma a minha hipótese.
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Assim que assumi o cargo, recebi queixas da Berkut (tropa de choque) da Crimeia referentes à morte de um soldado e ferimentos graves de vários outros. No momento, estamos investigando esse caso para mostrar à população a existência da lei tanto na Ucrânia, quanto na região autônoma de Crimeia. Espero que logo ela se torne uma parte da Rússia [a entrevista foi ministrada no dia da assinatura do decreto referente à reanexação da Crimeia para o território da Federação Russa]. E todos nós aguardamos ansiosamente por um dia em que Vladímir Pútin chamará a Crimeia de uma região russa.
A senhora enfrenta um processo criminal aberto pelas suas colegas da cidade de Kiev devido à sua mudança à Crimeia.
A internet está lotada de comentários negativos em relação à minha pessoa. Portanto, gostaria de esclarecer que tentei renunciar ao meu então cargo de promotora sênior e funcionária da Procuradoria-Geral da Ucrânia ainda no dia 25 de fevereiro deste ano. Motivei a minha decisão pela vergonha que sinto vivendo num país que deixa os bandidos andarem soltos pelas ruas.
Naquele momento, não tive nenhuma proposta de emprego vinda das autoridades da Crimeia e não sabia o que iria fazer no futuro. No entanto, o meu pedido de demissão não foi aceito e os meus superiores me sugeriram tirar férias. Mas eu não desisti, entreguei o meu pedido, expressei mais uma vez a minha posição em relação a todos os acontecimentos atuais e viajei de férias para a Crimeia, onde moram os meus pais. E apenas me encontrando na região eu ofereci os seus serviços às autoridades locais para evitar o caos enfrentado pelos moradores da capital ucraniana e ajudar a população. A nomeação para o cargo de procuradora me pegou de surpresa: no mesmo dia eu fui informada sobre a demissão do meu antigo serviço e o processo criminal aberto contra mim.
A senhora foi aceita pelos novos colegas?
Entre os meus colegas existem pessoas que gostariam de demonstrar a sua posição, mas não conseguem fazê-lo por razões diferentes. Os representantes da procuradoria-geral continuam nos incomodando com telefonemas com ameaças de prisão de todos aqueles que resolvam trabalhar comigo. Muitos temem as repressões e não querem prejudicar as suas famílias, piorar a vida dos filhos.
A senhora também tem medo?
Estou disposta a fazer qualquer coisa para que a minha filha sinta orgulho de mim, assim como sinta orgulho de viver num grande país como a Federação Russa. Quero que a minha filha lembre-se dos mortos na Segunda Guerra Mundial, inclusive dos seus dois bisavôs que sacrificaram as suas vidas neste evento trágico. Quero que os monumentos continuem intactos.
Publicado originalmente pela Rossiyskaya Gazeta
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